A cadeirada da política

Ah, o que seria da política brasileira sem os seus momentos de pura classe e elegância? O debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo no domingo conseguiu nos presentear com uma cena digna de uma briga de bar ou, talvez, de uma luta livre: a gloriosa cadeirada de José Luiz Datena em Pablo Marçal. Quando faltam argumentos, o próximo passo lógico é recorrer ao mobiliário, não é mesmo?

A imagem de Datena, um jornalista renomado e acostumado a reportar os conflitos urbanos, transformando-se em protagonista de uma cena dessas, é quase poética. Talvez ele tenha se inspirado nos programas de auditório ou naquelas tardes da TV aberta onde tudo pode acontecer. Datena, o árbitro do povo, parece ter decidido que palavras eram insuficientes para expressar suas discordâncias com Marçal. E, convenhamos, quem nunca sentiu vontade de pegar uma cadeira e arremessar no meio de uma discussão acalorada?

Deixando a ironia de lado, é de assustar que a maior cidade do país esteja levando o debate de ideias ao nível que chegou. Um verdadeiro “round” do UFC político brasileiro. Se antes a política já era um espetáculo, agora se tornou um espetáculo literalmente doloroso.

Mais doloroso é perceber, em Toledo, um grande número de pessoas – algumas bastante influentes em seus ramos de atuação – vibrando com o comportamento até certo ponto irresponsável de Marçal que sobrevive da audiência que consegue. Não que a política precise estar sempre dentro dos eixos, mas até para a palhaçada há limites.

O nível da política nacional conseguiu descer ao ponto de a palavra “cadeirada” ter sido trending topic nas redes sociais, ultrapassando até as discussões mais importantes do momento. Claro, porque nada mais importa quando há uma boa dose de violência gratuita para ser discutida, ainda mais numa sociedade como a brasileira, onde o deboche sempre foi a tônica.

Enquanto os candidatos se engalfinham – literalmente – as propostas, as ideias e os projetos ficaram soterrados sob os escombros do debate que virou pancadaria. Quem se importa com as reais soluções para a mobilidade urbana, educação e saúde, quando se pode discutir a força da cadeirada? A cena serviu como um lembrete, irônico, claro, de como a política brasileira muitas vezes se perde em espetáculos teatrais que mais parecem sair de um roteiro de comédia pastelão.

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