Dez anos de uma tragédia inesquecível
No Brasil, em geral, as pessoas esquecem rapidamente do passado, seja ele bom ou ruim. Num país onde a cultura do imediatismo ainda prevalece, eventos passados vão caindo no esquecimento com uma velocidade impressionante. Um dos maiores símbolos disso, talvez, esteja na política, onde nomes condenados são reeleitos, enquanto boas gestões são ignoradas por completo diante das novas promessas. Vazias!
Mas há feitos e fatos que precisam ser lembrados para sempre. Momentos históricos que precisam ser contados para as novas gerações. É a história sendo preservada para que no futuro não se repitam arbitrariedades ou tragédias possam ser evitadas.
Neste sentido, familiares e amigos de vítimas do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), fizeram uma vigília em frente à casa noturna na madrugada desta sexta-feira (27). A caminhada começou na Praça Saldanha Marinho e seguiu em silêncio até a boate, a uma quadra de distância. Foi apresentada uma coreografia de dança retratando os eventos da tragédia e uma colagem de mensagens e imagens na fachada da Kiss. Uma maneira de extravasar a saudade e o sofrimento impostos pela tragédia que deixou 242 jovens mortos e mais de 600 feridos. O caso completou dez anos em 2023.
Após essa tragédia que até hoje deixa marcas na cidade gaúcha – o bairro onde a Kiss ficava localizada é considerado hoje mal-assombrado e os imóveis desvalorizaram apesar do esforço em recuperar a área – houve uma mudança significativa não apenas na fiscalização dos estabelecimentos comerciais como as boates ou casas de shows, mas em todos os locais onde exista aglomeração de pessoas. Além disso, a legislação passou a ser mais rigorosa, com a adoção de produtos mais modernos e seguros, justamente a fim de evitar um incêndio como o que causou a morte de centenas de pessoas.
Também é preciso lembrar que, após 10 anos, o caso continua sem que ninguém tenha sido responsabilizado. O júri que havia condenado 4 pessoas em 2021 foi anulado por questões processuais. Ainda não há data para novo julgamento. Isso demonstra o quanto o Brasil precisa avançar também em seu Poder Judiciário, pois é ele quem contribui para formar a cultura da impunidade a quem tem recursos financeiros ou de influência para postergar julgamentos ou condenações ad infinitum.