Dinheiro não tem partido
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), voltou a atacar de maneira contundente a política monetária conduzida pelo Banco Central (BC). Desta vez, o presidente criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, algo que já era esperado diante do próprio comportamento do Governo Federal – e do presidente mais precisamente – em manter o discurso do gasto público desenfreado, algo que nos últimos anos no Brasil tem sido contido. Uma ferramenta a mais no combate ao retorno da inflação.
Na carta, o Copom afirma que o índice de preços continua acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação e, para mantê-lo sob controle, deve manter os juros elevados por um “período mais prolongado”. Na contramão, o presidente classificou de “bobagem” a independência do Banco Central, algo que o mercado financeiro defende com unhas e dentes, até porque dinheiro não tem partido e os investidores, sejam eles estrangeiros ou brasileiros, querem é garantias do retorno dos seus tostões.
Lula criticou a meta de inflação do país, de 3,75%, que obriga, na visão do presidente, a “arrochar” a economia brasileira em momento que precisa voltar a crescer. Jogou suspeita ainda o novo presidente sobre essa mesma independência, provocando urticárias e a subida do dólar imediatamente após essas e outras declarações. Apesar de o Brasil ter um patamar de juros reais elevado, o Ministério da Fazenda precisa se debruçar sobre uma proposta de reforma tributária mais profunda e que dê uma resposta mais transparente ao mercado. É preciso criar um novo arcabouço fiscal e uma política sólida de acompanhamento de gastos que possa estabilizar a dívida pública do país para convencer o Banco Central a reduzir os juros.
O presidente precisa compreender, de uma vez por todas, que a campanha acabou e é preciso descer do palanque. A pacificação pretendida por ele não passa apenas pelas manobras de ampliação de ministérios para acomodações de novos parceiros políticos, tampouco pelas estratégias de eleição na Câmara e no Senado. A pacificação passa pela manutenção de um estado democrático de direito que sabe respeitar as decisões de suas instituições, entre elas até mesmo a manutenção de juros por parte do Banco Central.