O ato de alfabetizar
Quantos gargalos existem no processo de alfabetização? Depende de fatores externos, da cultura familiar, da classe social, de políticas públicas. O ato de alfabetizar tende a mudar de acordo com a faixa etária, com o interesse, com a necessidade de que precisa aprender? Cada um vive uma realidade.
Ainda vivemos em um país com taxa de analfabetismo, há uma tendência de mudança, de redução, mas isso não acontece do dia para a noite. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) apontam que o analfabetismo no Brasil passou de 6,8%, em 2018, para 6,6%, em 2019. Ocorreu uma queda, contudo, ainda representa aproximadamente 200 mil pessoas; o país tem cerca de 11 milhões de analfabetos. São pessoas de 15 anos ou mais que – de acordo com os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – não conseguem ler e escrever algo simples, o nome e sobrenome é uma cópia, é uma junção de letras. Isso é alarmante, é preocupante.
Quando um idoso apresenta dificuldades para ler e escrever, geralmente, quem está próximo se compadece, ajuda, orienta. Mas e quando isso acontece com um jovem, com um adolescente de 15 anos – como apontam os dados – incapaz de ler um bilhete? Parece distante, mas não é.
O ato de alfabetizar não envolve apenas as instituições escolares e os métodos de alfabetização aplicados. Alfabetizar é o início do processo de inclusão nos meios, de ter acesso, de interpretar, de vislumbrar carreira, profissão, fonte de renda, qualidade de vida.
Um povo com acesso à informação é um povo com conhecimento, é um povo ativo, é um povo que sabe fazer escolhas. Alfabetizar não deixa de ser um ato político. Será que as políticas públicas estão focadas no ensinar, na alfabetização que gera a interpretação, o pensamento que questiona?
No país, encontramos ‘pontas soltas’, o processo de alfabetização ainda acontece de forma desvinculada da realidade social. De maneira robotizada é ensinado a copiar, memorizar e reproduzir. É preciso muito mais do que ler e escrever. A alfabetização leva a escrita como linguagem, como a porta para acessar diversos mundos, como empoderamento, como cultura, como crescimento intelectual, como a chance de viver algo novo, de viver algo melhor.