Prazer, Beatriz!

Antes do início deste Editorial propriamente dito, é preciso esclarecer que nenhuma parte deste texto se trata de bullying, discriminação, gordofobia, perseguição ou preconceito. Trata-se de um retrato de uma nação que parece ter perdido a própria noção de sua origem misturada e colorida. Não no sentido exagerado que se tenta imprimir nos dias atuais, mas colorido no preto & branco, no mulato e no amarelo, entre tantas outras etnias que ajudaram a criar uma das nações mais tolerantes e divertidas do mundo.

Mas, quis o destino, que coubesse a uma mulher, preta e gorda a conquista da primeira medalha de ouro do Brasil dentro dos Jogos Olímpicos Paris 2024. Com uma campanha memorável nesta sexta-feira, no Palais Éphemère da Arena Champs-de-Mars, a brasileira Beatriz Souza, de 26 anos, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Paris 2024 na categoria pesado (acima de 78kg).

Mas Beatriz não é mera obra do acaso ou do destino esportivo brasileiro. Ela tem uma história de sucesso dentro da modalidade que mais medalhas trouxe ao país em toda história dos Jogos Olímpicos.

Beatriz tem nada menos que seis medalhas em campeonatos mundiais, além de outras três nos Jogos Pan-Americanos e outras 7 no campeonato pan-americano da categoria, sendo a atual tricampeã. Ou seja, a medalha de ouro em Paris é fruto de muito, mas muito trabalho, dedicação, esforço pessoal e coletivo.

Mas num país tão machista e preconceituoso quanto o Brasil, chega a ser divertido celebrar essa conquista. Divertido porque, a exemplo de outras mulheres e negras vencedoras, Beatriz também teve de enfrentar o preconceito, a discriminação, a desconfiança de quem pensa ser o Brasil um pedaço da Europa dentro da América do Sul. Ah, sim, isso não é uma exclusividade da Argentina.

Se Beatriz antes era quase uma ilustre desconhecida, certamente nesta manhã de sábado deixou de ser. Ao menos enquanto durar o fôlego de sua conquista. Até porque dentro de mais alguns dias os olhos das grandes emissoras e da esmagadora maioria dos programas esportivos voltarão a focar apenas no futebol cada dia mais decadente, mas ainda atraente. Por isso, prazer, Beatriz!

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