Reflexos
Quando ocupou o cargo de presidente nas duas outras oportunidades, Luiz Inácio Lula da Silva navegava em outros mares. Com céu limpo, vento constante e a seu favor, tratou de construir um verdadeiro império à sua volta. Criou a imagem de um verdadeiro mártir. Uma espécie de midas. E assim foi com a eleição – e reeleição – do desastre chamado Dilma Rousseff. Livre da prisão após uma decisão, no mínimo, questionável do Supremo Tribunal Federal, Lula tratou de colocar em marcha um terceiro mandato. E assim conseguiu. Só esqueceu que o mar não é mais tão tranquilo quanto de outrora e o vento, embora não sopre com a força total, ainda assim de vez em quando está contra. Como aconteceu neste início de semana com o pedido de impeachment que até o fechamento desta edição tinha mais de 100 assinaturas dos deputados federais. Cerca de 30% da própria base de apoio ao governo.
São os reflexos das declarações desastrosas do presidente brasileiro comparando a guerra de Israel contra o Hamas, na Faixa de Gaza, ao extermínio dos judeus cometido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Na visão dos deputados, a declaração polêmica caracteriza crime de responsabilidade por se tratar, na opinião do grupo que organizou o pedido, “ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo de guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”. Justo o Brasil que se notabilizou pela posição firme, mas de bom senso, em várias disputas internacionais. A essa altura Rui Barbosa certamente está se revirando no túmulo.
E a situação se agravou não apenas pelo Governo de Israel ter declarado Lula persona non grata naquele país, mas sim pela posição do governo brasileiro em não pedir desculpas. Aliás, segundo informações, a ideia do Palácio do Planalto é reforçar que as críticas do presidente Lula sobre o conflito na Faixa de Gaza focam o Estado de Israel e no Governo de Benjamin Netanyahu e não ao povo judeu. Como se um estivesse dissociado do outro. Fosse o contrário, como já aconteceu aliás, certamente haveria retaliações por aqui também. Como já aconteceram.
A esperança é de que não apenas o conflito termine, mas essa indisposição desnecessária do Brasil com uma nação que pode até estar exagerando, mas age com base naquilo que vem sofrendo ao longo da história e com ataques terroristas de todos os lados. Agora até com base na verborragia.