Até quando?

A semana poderia começar com a análise política do reflexo com o fim das eleições municipais, após o segundo turno realizado domingo. Poderia começar com a análise do processo de transição em Toledo, onde o atual prefeito insiste em determinar as regras de um jogo que não lhe pertence mais. Poderia a semana começar com qualquer assunto, entretanto, um dos fatos mais chocantes durante o final de semana foi o ataque covarde de criminosos travestidos de torcedores. Verdadeiras facções criminosas formadas sob o ‘manto’, sob a tarja de torcidas organizadas.

Pessoas que se dizem torcedores do Palmeiras atacaram numa emboscada outro grupo de ditos torcedores do Cruzeiro numa rodovia na região metropolitana de São Paulo. Seria apenas mais um entre os tantos casos de agressões entre ‘torcedores’ não fossem alguns detalhes. Tratava-se de uma retaliação por ataque semelhante sofrido pelos ‘palmeirenses’; uma rodovia importante ficou interditada durante quase uma hora até se removerem os escombros dessa batalha urbana; mais triste é que 17 pessoas ficaram feridas e um homem de 30 anos morreu.

Aí a pergunta do título: até quando? Até quando pessoas seguirão sendo agredidas dessa forma? Até quando a impunidade seguirá sendo a tônica de um esporte que move milhões de pessoas no país inteiro? Até quando torcedores de verdade seguirão afastados dos estádios com medo de serem atacados? Até quando os dirigentes serão coniventes e seguirão apoiando essas ‘torcidas organizadas’?

A Inglaterra viveu algo muito semelhante com os hooligans. No futebol, os hooligans ingleses eram conhecidos por assombrar os estádios europeus com incidentes violentos. Um dos episódios mais marcantes foi a tragédia de Heysel, que ocorreu em 1985, na Bélgica, durante a final da Copa dos Campeões da Europa (atual Champions League) entre Juventus e Liverpool.

Na tragédia, torcedores do Liverpool atacaram os italianos que estavam na mesma zona da arquibancada. As grades que separavam as bancadas cederam e o muro desabou, resultando em 39 mortos e um grande número de feridos.

A tragédia de Heysel foi um divisor de águas na tentativa de criar um ambiente mais civilizado no futebol inglês. As consequências foram: proibição das equipas inglesas de participar em competições europeias por cinco anos, punições severas, endurecimento das leis, melhoria das condições dos estádios, treinamento especializado das polícias.

Lá funcionou. Aqui, no país tropical, os incidentes seguem se repetindo em todos os cantos sem haver qualquer movimento no sentido de impedir que barbáries como essa do final de semana voltem a acontecer. O futebol nada mais é que o reflexo da sociedade brasileira: desorganizada e onde o sentimento de impunidade prevalece.

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