Virada Cultural
Durante o fim de semana Toledo viveu mais uma edição da Virada Cultural, um dos espaços mais democráticos para a demonstração da pluralidade da arte brasileira. Esta talvez tenha sido uma das melhores edições do evento, graças à diversificação dos artistas que se apresentaram nos cinco palcos organizados. Infelizmente, no sábado, o show da banda ‘Francisco, El Hombre’ criou uma polêmica que praticamente ofuscou todo o brilhantismo até então. A banda tem uma das músicas mais polêmicas dos últimos tempos, lançada no Rock In Rio – Lisboa ano passado, uma dura crítica ao sistema político.
Diante do cenário político nacional, era de se esperar uma reação bastante dura por parte de quem não concorda com esse tipo de manifestação artística, ainda mais numa cidade onde o conservadorismo ainda impera e as pessoas ‘curtem’ outro tipo de música. Só que a reação ficou bem acima do esperado, incluindo aí ameaças bastante preocupantes contra a secretária da Cultura Rosselaine Giordani, cujas escolhas ideológicas cabem apenas a ela e a mais ninguém, até porque a programação da Virada Cultural não levou em conta apenas quem era a favor ou contra este ou àquele lado.
Este ano a programação foi uma das melhores e mais diversificadas, atendendo a praticamente todos os tipos de público. A grande falha foi, talvez, ter escolhido uma banda que sabidamente tem músicas como essa em questão. Num outro momento, quem sabe, a interpretação da “Arranque a Cabeça do Rei” teria outra conotação. Talvez em outra cidade não haveria problema, como não aconteceu por onde a banda passou. Quando se trata de poder público é preciso, de vez em quando, redobrar os cuidados para evitar problemas e esse era um que poderia ter sido evitado.
Incluir na cláusula contratual a proibição de manifestação política pode até funcionar, entretanto, é um risco demasiado grande para qualquer gestor público, ainda mais numa cidade como é Toledo, onde o sentimento contra o resultado da eleição presidencial ainda está ferido.
Política e cultura nunca caminharam muito próximas, afinal, é da essência do artista ser meio transgressor por natureza. A banda, neste caso, é a menos culpada e os desdobramentos deste episódio não podem apagar as qualidades da Virada Cultural de 2022. Que a lição tenha sido aprendida, porque para ser esquecida ainda vai demorar.