A cenoura, o ovo e o café: quais são as suas qualidades?

A menina reclamava muito dos seus problemas. O pai a convidou para ir até a cozinha onde pôs três panelas com água para ferver. Ao iniciar a fervura pôs numa panela cenouras, na outra ovos e na terceira café. Deixou que a água fervesse por vinte minutos e depois mostrou o resultado para a filha. A cenoura que estava dura e firme ao ser posta na água agora estava branda e macia. O ovo que tinha sua casca dura por fora e sabidamente era mole por dentro agora estava duro por completo. E o café fervido por vinte minutos havia transformado a água, dando-lhe nova cor, sabor e aroma. Todos os ingredientes estiveram no mesmo ambiente e enfrentaram as mesmas dificuldades, porém o que diferiu é como cada um reagiu frente as dificuldades impostas pelo meio. Normalmente, destacam-se as qualidades do café que soube transformar o ambiente a seu favor. Com isso, fica a mensagem de que cada um deve saber como influenciar o ambiente para que as dificuldades sejam vistas como oportunidades. Porém, o que dizer da cenoura e do ovo? Não teriam eles qualidades importantes que poderiam ser aproveitadas?

Na situação da cenoura, do ovo e do café sempre são valorizadas as competências do café, como a sua força de influenciar e transformar o ambiente. Entretanto, caso nos comportemos sempre como o café, não nos tornaremos arrogantes como alguém que não reconhece o outro como um verdadeiro outro? Se todos forem café onde haverá espaço para nos transformarmos em suaves e brandos como a cenoura ou para mostrarmos a nossa solidez e a firmeza como o ovo? Aqui entram as minhas considerações sobre a analogia tantas vezes utilizada em diferentes espaços de ensino aprendizagem. Creio sim na importância das competências do “café” para transformar o ambiente, impregnando-o com os suas características, entre eles a cor, o aroma e o sabor. É fundamental que levemos às organizações nossos atributos únicos, afinal, normalmente são eles que nos abrem as portas para que estejamos onde estamos. Entretanto, cabe a cada um de nós aceitarmos a influência do outro que contribui com a sua unicidade para o mesmo ambiente. É aí que fazem a diferença as qualidades da “cenoura” e do “ovo”. A “cenoura” com a sua inicial dureza que se transforma em brandura pode representar a compaixão, a humildade e a flexibilidade de reconhecer que se alguém pensa diferente de mim há no mínimo a possibilidade de que ele esteja certo e eu não. O mais provável é que ambos estejam certos, apenas com interpretações diferentes sobre o mesmo fato. Por outro lado, o “ovo” com a sua inicial dureza frágil pode se transformar na solidez, na firmeza e na resistência que podem representar os valores e a força do caráter na busca de um propósito. Assim, ao juntarmos as qualidade da cenoura, do ovo e do café cria-se uma geração de pessoas tolerantes, firmes, flexíveis e transformadoras que se propõem a influenciar o ambiente para o bem comum. Pode-se desfrutar do sabor e do aroma do café sem desperdiçar as proteínas e as vitaminas do ovo e da cenoura.

Enfim, nas organizações, nas relações e na sociedade não se trata de valorizar um em detrimento do outro. O café, a cenoura e o ovo são complementares. O aroma e o sabor do café podem dar a sua contribuição ao ambiente, assim como a cenoura com a sua dureza que se transforma em flexibilidade e a rigidez da casca do ovo que se modifica para a solidez podem fazê-lo. Todos, com suas características únicas de transitar num ambiente de dificuldades, podem contribuir para a formação de uma sociedade com o propósito de viver em harmonia. Desse modo, as pessoas saberão dar e receber; conseguirão ensinar e aprender; e poderão acolher e compartilhar, ainda que estejam mergulhados em “água quente”.

Moacir Rauber

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