Aceitar ou converter?

Um amigo meu iria levar a filha para o trabalho. Não o fazia muitas vezes, porque eram apenas dez minutos de caminhada. Porém, naquele dia começava a chover a fazia frio. Desceu do apartamento para a garagem e encontrou o seu carro bloqueado pelo carro do vizinho. Subiu e tocou a porta do vizinho. Ninguém atendia. Nada. Nenhuma resposta. A filha teve que caminhar até o trabalho para não chegar atrasada. O meu amigo ficou furioso com a situação. Um tempo depois o vizinho aparece pedindo desculpas pelo inconveniente. O que fazer? Olhou para a esposa e decidiu não se incomodar com algo que já não poderia modificar. Criticar não ajudaria em nada. De todas as formas, o casal aproveitou para sair de casa e ir ao supermercado.

Todas as situações apenas são o que são. A interpretação daquilo que elas significam depende de cada um. Com o bloqueio do veículo e não poder levar a filha ao trabalho gerou a emoção de raiva num primeiro instante. Entretanto, o pai e a mãe optaram por aceitar aquilo que já não poderia ser mudado. Aceitar pode ser entendido como receber algo, como concordar com uma situação ou como resignar-se com aquilo que não pode ser mudado. Ao sair para ir ao supermercado, contornaram o edifício e quando passavam em frente da portaria viram a entregadora de uma empresa de encomendas tocando a campainha. Pararam e perguntaram:

– Para quem é a entrega?

A moça deu o nome da filha que havia feito uma compra pela internet. A compra estava programada para ser entregue dali a dois dias, porém a empresa se adiantou. Dessa forma, os pais puderam receber o pedido que a filha havia feito e que aguardava com ansiedade. Nesse momento, a situação se converteu num presente, porque caso não houvesse ocorrido o bloqueio do carro pelo vizinho a entregadora não encontraria ninguém em casa, o que geraria transtorno e frustração para a filha. Aceitar para converter as dificuldades e os desafios em oportunidades pode nos trazer paz de espírito e tranquilidade. Não se trata de negar nem de rejeitar o ocorrido e, muito menos, se ressentir. Trata-se de entender que o fato uma vez ocorrido não há como voltar atrás. É clichê. É óbvio. Por que então gastamos tanto tempo e energia com aquilo que não pode ser mudado? Por isso, aceitar é um convite para receber determinadas situações com a consciência de que posso concordar ou não e que posso resignar-me com aquilo que não pode ser mudado para converter a situação numa oportunidade. Esse pode ser um movimento consciente de aceitar algo aparentemente ruim para entendê-lo como uma oportunidade, ainda que as emoções como a raiva, o medo, a tristeza, a surpresa e o nojo surjam no momento em que ocorre a situação. O movimento é a ação de não ficar capturado pelas emoções e bloqueado no fato, mas usá-lo como aprendizagem e oportunidade. Gastar tempo e energia martirizando-se com a culpa, alimentando a raiva, remoendo arrependimentos ou afligindo-se com as preocupações é improdutivo e irracional. Desse modo, aceitar e converter é uma maneira de olhar mais uma vez para ver novas oportunidades.

Aceitar ou converter? No caso do meu amigo bastou ele aceitar que a vida já tratou de converter uma situação aparentemente chata em uma oportunidade, num presente. O simples fato de não se deixar levar pelas emoções preservou a sua relação com o vizinho e ainda lhe proporcionou receber uma entrega que criaria outros incômodos. Imagine fazer o movimento consciente de aceitar e converter, muito mais do que aceitar ou converter. O que você pode aceitar para converter em oportunidades? Olhe mais uma vez…

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.