Beethoven não estava no palco!

No décimo segundo encontro de um curso para casais que pretendem passar toda a vida juntos, remando contra a tendência dos amores líquidos (Bauman), um dos casais comentava sobre as frequentes críticas que fazemos as diferentes instituições. Criticamos a família, mas nos esquecemos que nós somos parte dela; criticamos a escola, mas não participamos das reuniões de pais e alunos; criticamos o trabalho, mas muitas vezes faltamos por motivos fúteis; criticamos a igreja, mas não a frequentamos e não praticamos a espiritualidade por ela proposta, assim como não nos envolvemos com os trabalhos sociais que ela oferece. Assim é fácil criticar, disseram. Em seguida fizeram uma analogia:

– Quando vamos a um concerto de música clássica para ouvir Beethoven, nos deparamos com um teatro lindo, um ambiente apropriado e os músicos. A expectativa é de um espetáculo. Entretanto, no decorrer da apresentação os músicos se equivocam muitas vezes. O que aconteceu? Beethoven deixou de ser Beethoven ou foram os músicos que não executaram bem Beethoven?

Uma analogia simples que pode ser aplicada às instituições das quais dizemos participar. Quando a família está em pé de guerra e a harmonia dá lugar a frequentes desentendimentos é a instituição família que não funciona ou são os elementos daquela família que não se entendem? Quando acreditamos que os nossos filhos não evoluem o esperado ao frequentar a escola é a instituição que deve ser eliminada ou é a falta de presença e de participação das partes que a compõem que falham? Quando a empresa em que trabalho não entrega aquilo que se propõe é a instituição empresarial que está em xeque ou a questão se aplica a um determinado conjunto de pessoas que não cumpre com o esperado? Quando criticamos a igreja a que dizemos pertencer porque um dos seus representantes se posicionou de maneira diferente da minha visão frente a uma questão, é a instituição que falhou ou houve ruídos na transmissão da mensagem provocado por um dos seus representantes? Portanto, é essencial participar e estar presente nas instituições para que as mesmas cumpram com aquilo a que se propõem a partir de sua existência. Assim, é importante que sigamos aprendendo para afetar com o afeto das nossas intenções e das nossas ações. E você, está disposto a aprender e afetar?

Com razão, acreditamos que é preciso estudar numa instituição para aprender o conteúdo requerido de uma faculdade de engenharia, medicina, odontologia, entre tantas outras profissões que exigem alto conhecimento técnico. Entretanto, é essencial o empenho daquele que estuda para que conclua os estudos sabendo, porque entendo que no momento em que estudo eu aprendo por escolha, porém aquilo que eu ensino aos demais pelas atitudes e comportamentos não é escolha, é o resultado. E, talvez, no momento vivido, além do conhecimento técnico com Beethoven no palco, nos falta incorporar a nossa humanidade no comportamento, conhecimento este que por algum tempo foi relegado a um segundo plano. É preciso aprender as competências humanas para ser um bom profissional? Sim, é essencial tê-las. Você aprende as principais competências humanas nas universidades? Depende, porque você não precisa frequentar uma universidade para saber que integridade, honestidade, empatia, resiliência, perseverança, temperança, curiosidade, coragem, tolerância, acolhida, confiança e espiritualidade são essenciais para você trilhar o caminho escolhido.

Onde aprender e como ensinar? Em qualquer lugar com qualquer pessoa que reflita em seu comportamento aquilo que você admira, para que você possa exibir a postura daquilo que você acredita. Os casais que ministraram o curso não eram acadêmicos, mas eles ensinaram integridade, confiança e temperança com o exemplo da família constituída. Eles ensinaram curiosidade, coragem e perseverança ao participar da escola dos seus filhos. Eles ensinaram honestidade, empatia e resiliência com a experiência profissional compartilhada conosco. Eles ensinaram tolerância, acolhida e espiritualidade com o oferecimento voluntário da sua presença nesses doze encontros. Eles ensinaram com a experiência da presença em cada uma das instituições, cabe a nós participantes querer aprender. Aprender é a nossa escolha, mas é preciso estar presente para afetar com afeto e trazer a excelência de Beethoven para o palco da vida.

Moacir Rauber

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