Conversa difícil?

Para a minha amiga estar no trabalho era difícil. Não se tratava da síndrome do domingo à noite que incomoda a muitas pessoas quando se lembram que tem horário de trabalho a cumprir. O incômodo era constante, porque estar no trabalho fazia com que ansiedade tomasse conta dela. Para ela, o problema tinha nome e sobrenome. Tratava-se de sua chefe direta com quem a relação não era nada boa. A seu ver, a chefe sempre discordava dela e a sua presença fazia com que sentisse um embrulho no estômago. Alguém vive, viveu ou presenciou uma situação parecida? O que fazer diante de uma situação como essa?

A sabedoria presente no senso comum nos ensina que sou responsável pelo que alimento em mim e a ciência comportamental desenvolveu técnicas e tem indicações de estratégias para resolver questões, aparentemente, difíceis no trabalho, na família e nas relações sociais. Não se trata aqui de comportamento abusivo ou de assédio moral. A questão relatada se situava em diferenças interpretativas de uma mesma realidade. A Inteligência Positiva orienta a que cada um identifique os sabotadores internos para dar a oportunidade de resgatar o sábio que existe em nós. De forma complementar, a Comunicação Não-Violenta oferece um passo a passo para se posicionar nas diferentes situações com cuidado e autocuidado. A questão exposta pela amiga, era de que as soluções propostas por ela no trabalho nunca eram aceitas por sua chefe. Assim, a ansiedade a acompanhava constantemente. Era difícil suportar a ideia de que a crítica seria a resposta recebida por suas iniciativas. Tinha vontade de pedir demissão, entretanto, o trabalho representava o seu sustento, além de ser resultado de uma escolha de exercer a profissão sonhada. Ela compartilhou a história comigo ao final da oficina que explorava os recursos da Inteligência Positiva com a Comunicação Não-Violenta. Em seguida me perguntou, “o que fazer?”. Respondi com outras perguntas numa conversa de quarenta minutos, “Qual é a situação?” “Que sentimentos você registra?” “Quais as necessidades atendidas ou não, tuas e da outra pessoa?” “O que você quer fazer?”. As perguntas lançadas, visivelmente, ecoaram nela. Ela fez algumas Pausas. Devagarinho, a minha amiga soube diferenciar o que é fato daquilo que era a sua interpretação da realidade. Soube reconhecer os seus sabotadores internos ao discernir que a chefe não a criticava “sempre”. Ela diferenciou que, por vezes, a chefe tinha outra solução para um problema comum. Ela começou a diferenciar que os sentimentos que ela registrava e alimentava eram seus e não responsabilidade de outra pessoa. Discordar era normal, alimentar os sentimentos era escolha sua. A minha amiga identificou que tinha a necessidade de reconhecimento não satisfeita quando algo proposto por ela não era implementado, porém entendeu que as soluções propostas por outra pessoa igualmente resolviam o problema. Por fim, decidiu ter uma conversa com a chefe para esclarecer pontos que desencadeavam o processo de ansiedade que ela vivia constantemente. Desse modo, durante três encontros consecutivos acompanhei a minha amiga que preparou a abordagem, escolheu o local e marcou a conversa com a chefe que supostamente era a fonte de sua ansiedade. O que aconteceu?

Depois da conversa com a chefe, a minha amiga me disse, “ela é uma boa pessoa…” e seguiu descrevendo como se desenrolou o encontro. Ela comentou das suas necessidades com a chefe e fez um pedido claro e positivo com a promessa de que assim seria. A não escolha, por vezes, das suas sugestões, não era uma rejeição a ela, era apenas uma visão diferente de uma mesma questão. Não havia nenhum sentimento de rancor ou raiva, porque a chefe apenas escolhia a solução que parecia ser a melhor. A minha amiga concluiu que durante os meses que havia sofrido ela havia sido sequestrada pelos seus sabotadores internos. A conversa parece ser difícil? Provavelmente, a conversa mais difícil é aquela que você não tem. Faça uma pausa, prepare-se, reconheça as intenções e estabeleça uma ação. Lembre-se, do outro lado tem uma pessoa como você!

Moacir Rauber

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