Cuidado, Simplicidade e Poupança: escassez ou abundância?

Ouvia o jovem casal falar sobre as dificuldades financeiras que enfrentavam depois de dois anos vivendo juntos. As carreiras de ambos ainda não haviam deslanchado, entretanto conseguiam fazer frente as despesas da realidade ordinária, pagando os gastos com moradia, alimentação, vestuário, estudos, deslocamentos e algum lazer. Economizavam, mas não o suficiente para as sonhadas viagens ou para comprar a casa própria. Ao voltar do supermercado, a esposa comentou:

– Sempre comparo os preços e levo o mais econômico. Vejo meus amigos gastando um montão de grana, mas nós não queremos gastar mais do que ganhamos…

Os dois demonstravam certa preocupação com a situação.

O que está por detrás desse comportamento? Particularmente, entendo que esse casal vive uma maturidade econômica que muitos passam a vida sem alcançar, inclusive nações. São tantos os países, entre eles o Brasil, que gastam mais do que arrecadam e, com isso, a população não sai da linha da pobreza econômica, educacional e social. Desse modo, escutar os jovens adotando um comportamento moderado frente aos estímulos de consumo a que estão expostos todos os dias é um alívio. Pode-se perceber neles o cuidado, a simplicidade e a poupança, como elementos básicos de quem tem a mentalidade da abundância, ainda que vivam momentos de escassez.

Acredito, por um lado, que a mentalidade de escassez é observada no comportamento de indivíduos que enxergam nos recursos econômicos disponíveis a fonte de felicidade. Com isso, não conseguem desfrutar do que dispõem, transformando-se em avarentos. Da mesma forma, a mentalidade da escassez está presente no comportamento da pessoa que não cuida, ostenta e desperdiça. Aqui trata-se de uma escassez emocional que se reflete no não cuidar, no ostentar e no desperdiçar. O não cuidar se manifesta ao não respeitar a si mesmo ou ao outro por meio de comportamentos exagerados; o ostentar se revela na busca desenfreada pelo luxo como forma de afirmação pela baixa autoestima; e o desperdiçar recursos, sejam eles físicos ou emocionais, confirma a mentalidade de escassez de quem não respeita e necessita se autoafirmar pela ostentação de quem compara o incomparável: as pessoas. Esses comportamentos, ainda que pareçam ter origem na abundância, tem suas raízes na escassez.

Por outro lado, a mentalidade da abundância está conectada com o cuidado, a simplicidade e a poupança. O cuidado se refere ao zelo, à atenção com as pessoas e as coisas, conectando-se diretamente com a simplicidade de não complicar a vida gastando mais do que se ganha. Assim, pode-se chegar à poupança, capacidade de economizar com a moderação de quem cuida com simplicidade. A mentalidade da abundância cuida porque respeita a si mesmo e ao outro; a mentalidade da abundância é simples porque não precisa se comparar, reconhecendo a própria unicidade e singularidade assim como a do outro; e a mentalidade da abundância poupa com o desapego da não acumulação, mas da fruição.

Portanto, ao escutar um casal jovem que foi e é exposto a todo tipo de estímulo de consumo exibir uma postura moderada, é motivo de esperança. Não se trata de não consumir, mas de consumir o que é necessário com a consciência da necessidade a ser atendida. Por isso, entendo que o cuidado, a simplicidade e a poupança são elementos essenciais de quem vive na abundância, enquanto o não cuidado, a ostentação e o desperdício são comportamentos de pessoas com a mentalidade da escassez.

Voltando ao casal de jovens que analisavam a sua situação financeira, depois do ar de preocupação veio o sorriso tranquilo de quem tem a mentalidade da abundância seguido da frase clichê:

– Não é mais rico quem tem mais, mas quem precisa menos…

No caso deles, ela refletia uma verdade, porque rapidamente saíram da preocupação com o futuro para a ocupação de quem desfruta o presente para dar uma caminhada na praia.

Por fim, creio não ser preciso ter muito para viver a abundância, porque aqueles que têm tudo, muitas vezes, não tem nada, porque vivem na escassez.

Moacir Rauber

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