E se fossem as últimas palavras 2?

A irmã mais velha e o irmão de oito anos estavam no trem rumo ao campo de concentração de Auschwitz. Estavam assustados e sozinhos, porque os pais haviam desaparecido e, provavelmente, não estavam mais vivos. O vagão estava abarrotado de gente e, ainda assim, o frio era tremendo. A irmã olhou para o seu irmão e viu que ele estava descalço. Ela se irritou:

– Como pode ser tão burro, será que você não consegue fazer nada direito? Onde estão os teus sapatos?

E seguiu criticando, culpando e acusando o irmão por ter perdido os sapatos.

Essa foi a história contada por Benjamin Zander na palestra “O poder da transformação da música clássica” (https://encurtador.com.br/OIA8H) sobre liderança, exemplificando que os maestros conduzem e dirigem os componentes da orquestra sem dizer nenhuma palavra. Com palavras e sem palavras se pode criticar, culpar e acusar, assim é possível incentivar e desanimar; estimular e desmotivar; afetar com ou sem afeto. Depende da intenção. Desse modo, entende-se que quando nos deparamos com uma situação, ela é um estímulo para os nossos pensamentos e emoções. A boa notícia é que os sentimentos, as intenções e as ações são resultados da nossa escolha.

Entretanto, a nossa conduta frente aos estímulos a que somos expostos, muitas vezes, nos leva a criticar a nós mesmos, aos outros ou a situação, com isso culpamo-nos, culpamos o outro ou a situação por meio da auto acusação, da acusação ao outro ou da situação. Nesse cenário, seguimos um caminho de violência interna que se revela na forma como nos comunicamos com palavras, gestos e comportamentos no ambiente externo. Por fim a pergunta: o que fazer frente a estímulos que nos levam a dizer palavras, a fazer gestos e a adotar comportamentos, por vezes, violentos? E se fossem as últimas palavras, gestos e comportamentos?

Frente a essas perguntas, a Inteligência Positiva (Shirzad Chamine) nos convida a conhecer os nossos sabotadores internos liderados pelo crítico, para resgatar o sábio que está dentro de nós. Para isso, inicialmente faça uma pausa para se conectar com a realidade e se indagar: o que é fato aqui? Uma simples parada muda tudo, porque ela nos permite tomar consciência da diferença entre o que é fato e aquilo que é a interpretação dele (Passo 1 da Comunicação Não-Violenta de Rosenberg). Esse momento, fará com que se possa observar sem julgar para entender a emoção e mudar os pensamentos para escolher os sentimentos. A pausa nos permite identificar as necessidades que podem ser expressadas de forma trágica e violenta, com palavras, gestos ou comportamentos ao criticar a si mesmo, o outro ou a situação. Qual era a situação da irmã com o seu irmãozinho no caminho do campo de concentração?

A situação vivida pelos irmãos exigia que cada um dos poucos recursos disponíveis fosse preservado, porque não haveriam outros. Por isso, a reprimenda da irmã revelava as emoções que se transformaram em sentimentos que ela não conseguiu evitar, como o medo pela necessidade de segurança não atendida. Assim, os sabotadores sequestraram a sabedoria da garota e ela se expressou com violência. Ao contar a história, o maestro Benjamin Zander relembrou que a irmã conseguiu sair com vida dos campos de concentração de Auschwitz, porém o irmãozinho não. E aquela bronca foram suas últimas palavras ao irmão o que fez com que ela tomasse a decisão, “Eu nunca mais vou falar algo que não poderiam ser minhas últimas palavras”. É possível? Provavelmente não, porém com os recursos oferecidos pela Inteligência Positiva e pela Comunicação Não-Violenta é uma busca a ser vivida.

Respeitando as diferenças, no nosso dia a dia como líder, liderado, professor ou aprendiz, cabe a nós escolher as palavras, os gestos e os comportamentos como se fossem os últimos, porque um dia eles serão. Pode ser clichê, mas é real.

Finalmente, as palavras, os gestos e os comportamentos afetam o mundo, fazê-lo com afeto é a escolha de cada um!

Moacir Rauber

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