É um Ano Novo: você está cansado?

Ela havia trabalhado o dia inteiro cortando a grama do jardim. Um trabalho pesado que demandou muito esforço físico com bastante cuidado para não machucar as outras plantas e persistência para não desistir com os constantes problemas técnicos do cortador de gramas. Ela estava exausta, porém feliz com o trabalho realizado. Sentou-se na varanda da casa, apreciou o resultado e disse:

– Estou cansada, mas me sinto bem!

O marido estava com a visita de um amigo. Ele comentou:

– É muito natural, porque a atividade física libera endorfina na tua corrente sanguínea que proporciona bem-estar, prazer e essa sensação de recompensa. A endorfina também combate as dores e alivia o estresse. Igualmente a atividade física regular ajuda no equilíbrio das emoções por meio da serotonina, o hormônio da felicidade…

E continuou falando da dopamina e todos os benefícios associados às atividades físicas regulares, além de mostrar na sua própria cabeça onde cada um dos fenômenos cerebrais poderiam estar ocorrendo. A fala partia de uma posição de superioridade por todo o conhecimento que detinha sobre o fenômeno e que acreditava estar compartilhando. O que aconteceu de fato? Com tanta teoria a conversa cansou. Gerava um cansaço aborrecido. A explanação teórica sobre um fato cotidiano no ambiente familiar, nada mais era do que a arrogância intelectual que se manifestava no local inadequado. A racionalidade excessiva se exterioriza em pessoas que valorizam um pretenso discernimento, um suposto entendimento e a presunção da sabedoria. Entretanto, trata-se de uma justificativa interna de quem tem falta de autoconfiança e que diminui o outro a partir de um julgamento errôneo da própria intelectualidade. Pode-se saber os conceitos sobre determinado tema, porém não praticar os conceitos que se apregoam revela que na realidade se desconhece o que se diz conhecer. Por que essa afirmação? Porque o senhor que falava dos benefícios das atividades físicas, entre elas a sensação de bem-estar, o equilíbrio das emoções e outros benefícios agregados, levava uma vida sedentária com recorrentes problemas de saúde. Parecia cansado. Como diria Fernando Pessoa “Quem sabe, mas não sabe aplicar…” revela “…uma forma de não saber”.

Destaque-se, ainda, que constatar a existência de um fenômeno não muda o fenômeno. As ciências comportamentais tem apontado com frequência fenômenos que acontecem a milhares de anos, muitas vezes como se fosse algo novo, entretanto isso não muda a realidade. Por exemplo, a ciência ao comprovar que a meditação e a oração trazem serenidade às pessoas que as praticam não muda o fenômeno, apenas ratifica os resultados de uma prática milenar. De igual maneira, as atividades físicas cumprem com a função de gerar bem estar e felicidade durante toda a trajetória humana na terra, porque temos um corpo feito para se mover. Não se faz necessário que a ciência nos diga isso, embora seja importante que se usem os dados para mudar comportamentos. Ressalte-se que saber disso não muda isso. O senhor que conhecia os conceitos sobre os benefícios parecia ser fisicamente preguiçoso e intelectualmente ativo.

Voltando a Fernando Pessoa ele dizia “Toda a teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda a prática deve obedecer a uma teoria. Só os espíritos superficiais desligam a teoria da prática, não olhando a que a teoria não é senão uma teoria da prática, e a prática não é senão a prática de uma teoria.”

Enfim, conhecer a teoria sem colocá-la em prática gera um cansaço sem o bem-estar da atividade. Exercer a prática sem o domínio da teoria provoca o cansaço pelo retrabalho. Conhecer a teoria e colocá-la em prática produz todos os benefícios de uma vida bem vivida com o cansaço do bem!

“Na vida superior a teoria e a prática completam-se. Foram feitas uma para a outra” (Fernando Pessoa). Qual é a sua teoria? Ela existe na prática?

Um 2024 com teoria e prática!!!

Moacir Rauber

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