Ela não é Pollyana…

Ela era jovem e com muitas expectativas para a sua vida. Queria deixar um legado! Porém, o seu trabalho estava longe de a aproximar do sonho de deixar uma marca no mundo. Era o duro trabalho de ser garçonete num bar e restaurante que abria no final de tarde com atendimento que se estendia até à madrugada. Na chegada os clientes aparentavam estar alegres e contentes. Com o passar das horas muitos se transformavam. Alguns ficavam mais alegres, às vezes abusados. Outros se punham tristes, até deprimidos. Outros ainda se mostravam corajosos, por vezes agressivos. Sabia-se que por trás da transformação estava o efeito do álcool consumido pelos clientes. Como a maioria dos bares, ele servia de muleta psicológica para muitos dos seus frequentadores. Os medos, os anseios e as pressões do trabalho e dos diferentes papéis sociais de cada um dos clientes, por vezes, eram liberados naquele ambiente. Cabia a ela e aos seus colegas garçons atender aos clientes com as suas fragilidades expostas. Ela não bebia, porque sabia que álcool e trabalho não combinavam. Os seus colegas de trabalho, quase todos, bebiam e consumiam outras drogas para manter a motivação e conseguir lidar com as carências dos clientes. Nesse cenário, ela conseguia manter o sorriso e a atenção para com os clientes. Um de seus colegas se aproximou e perguntou:

– O que você tá tomando pra tá sempre desse jeito?

Ela disse que nada. Ele não acreditou. Ela respondeu que sabia que o seu trabalho ali era temporário, mas ela acreditava que podia fazer a diferença para um ou outro. O que ela havia entendido que os demais ainda não? O sentido daquilo que se faz. Ela entendia que se muitos que ali estavam exageravam nas bebidas e nas comidas era simplesmente uma fuga para problemas não resolvidos ou não enfrentados. Não importa a função, o cargo, o glamour ou a posição que você ocupa em seu trabalho. O importante é entender que se o trabalho existe ele existe para atender alguém. Saber que você vai afetar a vida de outra pessoa impacta diretamente na maneira como você faz aquilo que faz ou deixa de fazer. A viagem é para dentro. Não, a pessoa de quem falo não é uma versão moderna da Pollyana, a menina órfã que ensinava o “Jogo do Contente”. Ela tinha todos os problemas que muitos jovens têm na sua relação com os pais. Nem sempre fazia a sua parte em casa. Porém, destaque-se que ela havia entendido que se estava onde estava era para o outro que estava. A sua alegria? Uma escolha deliberada.

O seu colega voltou a insistir que não acreditava que ela conseguia trabalhar tanto tempo com um sorriso no rosto sem ter algo a mais. Ele queria saber. Ela o olhou e respondeu:

– Eu tenho uma família que me ama e sabe que eu quero fazer deste um mundo melhor. Começo com o meu trabalho!

Simples assim. Fazer bem o que se faz, faz com que outras coisas boas aconteçam. Não tardou muito e uma nova oportunidade de trabalho apareceu que a aproximou um pouco do seu objetivo. Entendo que tudo começa ao entender o sentido do trabalho ao se colocar a serviço do outro, o que faz com que o serviço deixe de ser pesado para si mesmo. Não é preciso ser Pollyana, mas é fundamental se importar com o outro, respeitando-se. Você realmente se importa com o outro?

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

Inspirado por: Barby Perluzky

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.