Em 2024 escolha a sua lua!
A inauguração da escola rural estava marcada para o domingo, 10h da manhã, com a celebração da missa e a presença do prefeito. Um evento importante para a comunidade. A professora estava encarregada de organizar a solenidade. A ideia era escolher um dos sete alunos da quarta série para fazer uma das leituras. Eu estava entre eles na torcida para não ser o escolhido. Afinal, para um menino de nove anos imaginar-se falando em público na presença de uma centena de pessoas era amedrontador. Agitam-se os papeizinhos, tira-se um nome e, contra a minha sincera torcida, fui o sorteado. O coração dava saltos de ansiedade, mas não havia nada a fazer. A professora vendo a aflição se aproximou e disse:
– Você sabe ler bem. Vai dar tudo certo!
Escutei as palavras de incentivo. Eu sabia que sabia ler bem, porém não estava seguro de que tudo sairia bem. O que aprendi naquele dia há quase 50 anos? Foram algumas aprendizagens que me acompanham até os dias de hoje, entre elas: os (1) desafios são constantes e nos acompanham por toda a vida; a (2) coragem é uma competência que se desenvolve; e as (3) palavras de incentivo devem ser autênticas. Fazer uma leitura em público pode parecer algo insignificante para muitas pessoas, porém para aquele menino o desafio era gigante. Naquele tempo, e por muito tempo, eu tinha receio de me manifestar em sala de aula para responder a uma pergunta feita por um professor, mesmo que eu soubesse a resposta, assim como tinha vergonha de fazer uma pergunta sobre uma dúvida que tivesse. Desse modo, imaginar-me frente a um público de adultos, entre eles os pais, os irmãos, os amigos, os pais dos amigos e as autoridades do município era simplesmente assustador. Entretanto, era um desafio que estava posto e não havia como dar um passo atrás. Quem não enfrenta quase diariamente diferentes desafios na esfera pessoal, profissional e social? O que fazer? É preciso desenvolver a coragem como uma escolha de atitude frente ao medo, ao receio, à vergonha ou à covardia. São todas emoções naturais nos seres humanos em seus contextos de vida e cabe a cada um ter a coragem de reconhecer o medo, com suas derivações, para fazer a escolha de vencê-lo. A coragem de sentir medo, porque sem medo não há coragem. Sem medo se manifesta a loucura. E as palavras de incentivo? Naquela semana, foram as palavras de incentivo da minha professora que fizeram a diferença para que eu pudesse reconhecer a competência que havia em mim. Por que elas foram importantes? Porque foram autênticas e verdadeiras. Quem não traz na lembrança as palavras de um professor ou de uma professora que fizeram ou fazem a diferença na sua vida? Nem sempre fiz boas escolhas, mas aquelas palavras despertaram em mim as possibilidades de encontrar os recursos para fazer as melhores escolhas na vida. A minha professora, com a sua dedicação e as palavras de incentivo, me deu a convicção de que eu poderia chegar à lua. As escolhas que eu fizesse poderiam me levar para onde eu quisesse, desde que eu acreditasse em mim e me desenvolvesse. Não cheguei à lua, mas muitas foram as boas escolhas que me mantiveram no caminho da busca pelo conhecimento e que me apresentaram a um mundo inimaginável. As palavras de incentivo, quando autênticas, nos dão a dimensão das nossas competências e possibilidades que são infinitas!
Enfim, o domingo chegou e era a hora da leitura. O desafio deveria ser cumprido. As pernas tremiam. A voz não queria sair. Um leve titubeio e finalmente a leitura começou, fluiu e terminou. O desafio fora vencido. A coragem se sobrepôs ao medo. As palavras de incentivo da minha professora me acompanham até os dias de hoje. Posso não ter chegado à lua, mas posso escolher exatamente onde quero estar.
Que em 2024 você escolha a sua lua!
Moacir Rauber
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Inspirado: Professora Edir Böhme (Escola Cura D’Ars, Toledo-PR, 1976)