Não desperdice a sua dor!

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A família estava sentada na mesa do jantar e, de repente, escuta-se um grito e um choro muito forte vindo da sala de estar. O desespero era nítido na reação e no movimento de todos que se levantaram e correram na direção do grito, porque sabiam que o filho pequeno brincava na sala. Ao ver o menino, ele apertava um dos dedos da mão direita com a mãozinha esquerda, sentado diante de uma tomada, em que havia enfiado o dedo. Ele levou o choque e sentiu a dor, mas felizmente pode tirar o dedo dali. O que a dor pode nos ensinar? O que podemos aprender com o sofrimento?

A dor e o sofrimento são inerentes a nossa condição humana. Ela pode ser física, como o dedo na tomada, um tropeção no pé da mesa, uma martelada na mão, uma dor de cabeça ou a dor de um cálculo renal, entre outras dores a que estamos sujeitos. Por outro lado, igualmente temos as dores emocionais que surgem a partir de um processo de demissão inesperada, a perda de um ente querido ou o final de um relacionamento. O que fazer com as dores da vida?

A dor física nos ensina a tomar cuidados e a adotar comportamentos preventivos com relação a sua origem. Para minimizar a dor ou para não tropeçar no pé da mesa podemos usar um tênis ou mudar a mesa de lugar. Para não dar uma martelada na mão podemos desenvolver a nossa habilidade ou usar algo diferente para segurar o objeto a ser martelado. Para evitar a dor de cabeça ou um cálculo renal podemos mudar determinados hábitos alimentares, buscar ajuda médica ou tomar analgésico. Enfim, a possibilidade da dor física nos ajuda a encontrar estratégias e comportamentos que a evitem, ainda assim em algum momento ela nos vai alcançar.

A dor emocional tem outras raízes e podem desencadear doenças que nos produzam dor física. Além disso, a dor emocional pode nos levar ao sofrimento crônico. Para muitos, a demissão de um trabalho considerado estável pode gerar a dor emocional da insegurança, além do medo pela imprevisibilidade do futuro. Para outros, frente a demissão a escolha pode ser pela curiosidade, estímulo, impulso e movimento de descoberta do desconhecido na busca de um novo trabalho. A perda de um ente querido é a causa de muitas dores humanas, desencadeando, por vezes, um processo de sofrimento prolongado. Para muitos, o sofrimento passa a ser uma companhia indesejável e permanente. Para outros, ainda que sintam a dor, a gratidão pelo tempo de convívio é a escolha, mas para isso é essencial cumprir o luto. Da mesma forma, o final de um relacionamento pode ser um momento de dor que leve ao sofrimento crônico, entretanto a escolha é de cada um. Enfim, a dor emocional não cuidada tende a se transformar em sofrimento, inclusive físico.

Por fim, particularmente acredito que a dor física nos ensina a adotar estratégias para evitá-la. Por outro lado, a dor emocional exige que queiramos aprender, porque é uma escolha impedir que a dor se transforme em ansiedade; é um caminho evitar que a dor se transmute em depressão; é um processo possível obstar que a dor exploda em raiva; igualmente, é um processo de construção diária e contínua fazer com que a dor não se transforme em medo, mas em impulso, estímulo e energia para manter o movimento na direção que se pretende ir.

Finalmente, o que um dedo na tomada pode te ensinar sobre a dor? Depende daquilo que queremos aprender. Ao olhar para o menino de dois anos, depois do susto e do medo, ele nos olhava com cara de assustado, mas com uma expressão travessa no rosto. A dor e o medo já haviam passado. Além de aprender a não meter o dedo na tomada, ele sabe como é importante não manter o dedo nela. E você, em quais tomadas mantém o dedo?

“Se a dor acompanha ao ser humano, o que é senão tolice desperdicá-la?” (Josemaría Escrivá)

Moacir Rauber

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