Não somos engrenagens. Não somos máquinas!
O diretor falava da importância das pessoas no processo de produção da organização e da interdependência entre cada um dos membros da equipe. Repetiu que na organização que ele conduzia as pessoas eram consideradas como parte da família. E concluiu:
– Por isso cada um tem o seu papel. É como se cada um fosse uma engrenagem de uma grande máquina…
Concordo com a interdependência entre os membros de uma organização, assim como entendo que ela se estende para além das suas paredes, alcançando os fornecedores e sua cadeia produtiva, os acionistas, os clientes, os consumidores e a humanidade. A humanidade? Sim, porque tudo que se produz é consumido por pessoas que habitam este planeta, afetando diretamente toda a vida abrigada nele. Desta forma, é fundamental que entendamos o nosso papel na organização e suas consequências, entre benefícios e externalidades geradas pelo que nela se produz.
Discordo com a fala do diretor que diz que os colaboradores são considerados como parte da família e como engrenagens de uma grande máquina. Da família os colaboradores não são, porque caso fossem deveriam constar no testamento dos acionistas e receber o seu quinhão como herança. Igualmente discordo com a analogia entre pessoas e engrenagens e máquinas e organizações. A fala do diretor está carregada da visão mecanicista de gestão, em que a produção em série usava as pessoas como engrenagens de uma máquina, não exigindo e nem permitindo que elas pensassem ou se expressassem. É um modelo de gestão com pouca flexibilidade e de difícil adaptação em cenários de mudanças constantes. As tecnologias têm se tornado obsoletas da noite para o dia, assim como os hábitos e os comportamentos dos consumidores têm encurtado o ciclo de vida dos produtos e serviços cada vez mais rapidamente. Com isso, as máquinas se tornam obsoletas e as engrenagens deixam de girar, fazendo com que as pessoas não possam contar com a “família” que nunca tiveram. Isso porque as organizações não são máquinas e as pessoas não são engrenagens.
Portanto, acredito que a analogia mais apropriada para as organizações hoje se pode fazer com aquilo que nós somos: organismos vivos. Assim, a gestão orgânica ganha relevância porque é mais adaptada para a competitividade e a instabilidade do ambiente em que as organizações atuam. Por isso, o ser humano poderia ser o exemplo de uma organização, porque cada pessoa é um sistema completo, complexo e interdependente, com necessidades que vão além do seu círculo, assim como uma organização. Dessa forma, cada colaborador, que é um sistema completo, complexo e interdependente, é parte de sistemas completos, complexos e interdependentes, que são as organizações. Ambos são organismos vivos e essa é a realidade que se deve gerir. O gestor orgânico deve entender a contribuição de cada colaborador num processo de gestão flexível possível somente em organizações entendidas como organismos vivos.
Enfim, entendo a necessidade da padronização de procedimentos nas organizações, porém defendo que se aproveitem as particularidades dos indivíduos. Por isso, é fundamental que a gestão orgânica e flexível reconheça a contribuição das pessoas para a organização, assim como as suas necessidades. Para isso é preciso (Re) Criar a Humanização no ambiente organizacional para que se possam surgir organizações inovadoras e criativas. Organizações inovadoras e criativas? Somente se forem humanas para permitir que cada colaborador se expresse de maneira a contribuir com a sua unicidade, singularidade e multiplicidade. Lembrando que colaborador não é herdeiro. As pessoas não são engrenagens. E as organizações não são máquinas. As organizações são organismos vivos que sem as pessoas não existem. As organizações precisam Ser Humanas!
Moacir Rauber