O que carregam as cicatrizes?

O menininho olhava para a sua mãe com uma cara de encantamento que por si só a deixou com um nó na garganta. Ele a observa mais um pouco e diz, “Mãe, você é tão linda!” de forma natural e espontânea. A maneira como falou representa a autenticidade na sua plenitude carregada da bondade humana. A expressão no rosto de felicidade do menino contagia a mãe que se emociona a ponto de que lágrimas brotem de seus olhos. Os olhos do menino, no entanto, mudam do rosto para as mãos da mãe. A expressão de encantamento desaparece e surge na fisionomia a desilusão seguida da fala:

– Uma pena que as tuas mãos sejam tão feias.

Era a autenticidade expressa de forma natural e espontânea na boca de uma criança sem a presença da bondade, uma vez que ela ainda não tinha o discernimento da força e do poder das palavras. A bondade e o seu oposto estão muito próximos. E como ser autêntico na vida adulta mantendo a bondade? Considere ser autêntico como alguém que se expressa de forma franca, natural e sincera, sendo o antônimo de hipócrita. Desse modo, ser autêntico pode ser uma virtude, desde que se lembre que tudo aquilo que se acredite que precisa ser dito possa ser dito, dependendo de como é dito. Pondere que muitas vezes nós falamos daquilo que vemos sem saber da história oculta naquilo que foi visto. Qual era a história por trás daquelas mãos “feias” descritas pelo menino? Ou quais são as histórias por trás dos olhos que olhamos ou que nos olham? A Comunicação Não-Violenta nos faz um convite para observar sem julgar para quando falar se referir apenas sobre aquilo que é visto ou escutado. Sem juízo de valor para manter a virtude na autenticidade que, provavelmente, estará acompanhada da bondade. A Inteligência Positiva, igualmente, destaca a importância de ser autenticamente sábio ao não julgar frente a uma situação em que não se vê o quadro completo. Para ser sábio é importante não julgar o outro, não julgar a situação e não se julgar, porque dificilmente vemos o quadro completo. O nosso olhar está carregado da nossa perspectiva com as nossas dores e com os nossos amores. Dessa maneira, como ser autêntico e se manter no caminho da bondade? O ponto essencial é fazer uma pausa antes de falar. Às vezes, são apenas dez segundos que nos permitem observar sem julgar o outro, a situação ou a nós mesmos. Essa pausa permitirá que cada um possa ser autêntico, natural e espontâneo com o discernimento do poder das palavras. Volta-se para as três perguntas de Sócrates: (1) o que vou falar é verdade? (2) O que vou comentar é útil? (3) A minha fala é bondosa? Passando por esses filtros certamente você será autêntico e bondoso.

Enfim, qual era a verdadeira história por trás das mãos “feias” da mãe? Quando o menininho ainda era um bebê houve um incêndio na casa que atingiu o seu berço. Todos já haviam saído da casa, deixando para trás o bebê. Porém, a mãe com a força do seu amor entrou na casa e arrancou o seu filho de dentro do berço em chamas, resgatando-o são e salvo. Entretanto, as mãos que salvaram não escaparam das sequelas do fogo a que estiveram expostas. As mãos ficaram cheias de cicatrizes. O pai descrevia para o menino tudo o que a mãe havia feito para que ele pudesse estar vivo. Ele agora entendia que por trás de cada cicatriz há uma história, por vezes heroica. E quantas cicatrizes não vemos por trás dos olhos que observamos e, muitas vezes, julgamos?

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.coom.br

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.