O que está na ponta da tua luva?
Ela é uma profissional da área de Recursos Humanos que dedicou os últimos catorze anos de sua vida a uma empresa que fecha as portas em seu país. Para continuar na organização teria que mudar para o país sede da empresa, sendo esse preço muito alto. Assim, ela se demitiu. Começou uma nova jornada e numa das atividades ela teve que entrevistar uma pessoa idosa. Dirigiu-se a uma casa de anciãos onde encontrou uma senhora de 86 anos com uma vitalidade impressionante, uma lucidez admirável e uma alegria maravilhosa. Ao comentar a entrevista, ela disse:
– Eu quero envelhecer assim! Não sei de onde vem tanta força?
Não há uma só resposta para a pergunta de onde vem tanta força, porém uma história contada pelo Pe. Nardi traz várias reflexões.
Ele contou que havia um homem que vivia numa região em que o calor era predominante. Um dia recebeu de presente um par de luvas de couro forradas, apropriada para regiões frias. O homem agradeceu e como não viu serventia guardou as luvas numa caixa de bugigangas. Tempos depois, ele foi transferido para uma região fria. Ao organizar a mudança encontrou as luvas esquecidas e fez o movimento de calçá-las, mas os dedos não chegavam ao final de seus espaços. Pressionou um pouco mais e doeu. Ele não desistiu e descobriu uma pedra na ponta de cada um dos dedos das luvas. Para tirá-las dali teve que fazer esforço e ter cuidado. No final valeu a pena, porque as pedras eram diamantes.
A fábula nos leva a perguntar: quais são os teus recursos internos? Qual o esforço que você faz para alcançá-los? Onde estão os teus diamantes?
No momento vivido, muito tem-se falado, divulgado e vendido cursos de autoconhecimento. É importante no caminho para a redescoberta de nossos recursos internos presentes nas forças e virtudes individuais. Contudo, exige esforço.
Da perspectiva científica, a psicologia positiva tem ajudado ao mapear as virtudes humanas compartilhadas ao longo do tempo em toda a humanidade, sendo elas: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcendência. Cada virtude traz um grupo de forças, igualmente transversais aos seres humanos de diferentes culturas, etnias e regiões. Porém, cabe a cada um de nós descobrir as suas virtudes e forças para trazê-las a luz do dia. Tirá-las da ponta das luvas requer esforço.
Destaco, porém, que a perspectiva da psicologia positiva não é nova. Ao voltarmos no tempo, encontramos na religião uma descrição semelhante aquilo que hoje é tratado como científico: as virtudes morais, as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo. As virtudes morais ou humanas são muitas que podem ser agrupadas em torno da prudência, da justiça, da temperança e da fortaleza, trazendo em si os indicadores que regulam nossa conduta segundo a razão. As virtudes teologais são três, sendo elas a fé, a esperança e a caridade, levando-nos a respeitar o mistério da vida tratando o próximo como irmão, filhos de um mesmo Deus. Por fim, existem os dons do Espírito Santo: a sabedoria, a inteligência, o conselho, a fortaleza, a ciência, a piedade e o temor de Deus. Dessa perspectiva, entende-se que ao exibir as virtudes presentes nos dons do Espírito Santo, mais facilmente se desenvolvem as demais forças e virtudes humanas anteriores. Destaque-se que temor a Deus não se refere a medo, mas sim a respeito ao desconhecido. De todas as formas, para acessar os recursos internos há que se propor a tirá-los das pontas das luvas.
Voltando a vitalidade, lucidez e alegria da senhora de 86, certamente elas vêm da força de alguém que conseguiu acessar os seus recursos internos ao descobrir os diamantes nas pontas dos dedos das suas luvas recebidas como presente. Ela não deixou o presente recebido abandonado no fundo de uma gaveta. A entrevistadora citada está buscando o caminho para encontrar o presente em suas luvas.
Quais os presentes que você ainda não abriu? Qual será o seu caminho?
Moacir Rauber
Instagram: @mjrauber
Blog: www.facetas.com.br
E-mail: mjrauber@gmail.com
Home: www.olhemaisumavez.com.br