O que está vivo em ti?

Tenho conduzido as oficinas de Comunicação Afetiva para ser Efetivo e Ecos da Palavra com frequência. A maioria das vezes, com a participação de pessoas do mundo corporativo. Outro dia, porém, a oficina aconteceu numa comunidade religiosa que se dedica ao voluntariado que também sentiu a necessidade de melhorar a comunicação ao usar outras ferramentas, como a Comunicação Não-Violenta e a Inteligência Positiva. Senti a diferença.

Durante a oficina, usa-se um vídeo em que se mostra a situação de interação de um senhor de idade com uma mulher grávida no ponto de ônibus. Os dois estão sentados um pouco distantes um do outro. De repente o senhorzinho pergunta à mulher de quantos meses ela está grávida. A mulher o olha com certo estranhamento na expressão que poderia ser de diferentes sentimentos. Em seguida ela responde e o diálogo entre eles começa. Em um momento, ela comenta que está com medo porque terá que passar sozinha pela gravidez e que a única companhia que tem é a de seu pai que está doente. Ele fala para ela não se preocupar que tudo vai dar certo. Encerra-se o vídeo nesse ponto para indagar aos participantes: o que viram, escutaram, pensaram e sentiram? As respostas obtidas no meio organizacional e na comunidade de voluntariado são quase iguais ao falar sobre o que viram e escutaram, entretanto são muito diferentes ao se falar sobre o que pensaram e sentiram. No meio organizacional aparecem com mais frequência as palavras invasivo, intrometido ou enxerido quando se referiam ao idoso. Ao se referir à mulher grávida a maioria das respostas se voltavam para incomodada, desconfortável e até irritada. As respostas obtidas na oficina realizada na comunidade religiosa de voluntários, ao se referir ao senhor que começou o diálogo com a mulher grávida, revelaram que ele parecia um homem terno, solidário e interessado. Por outro lado, as palavras mais ouvidas para a reação da mulher foi de surpresa, agradecida e acolhida. O vídeo, os diálogos e as perguntas são as mesmas, assim qual é a razão da diferença nas respostas? Resposta exata não há, mas algumas conjecturas surgiram.

A situação pode parecer que reforça que “o homem é resultado do meio”, em que cada pessoa atua alinhada ao comportamento predominante no grupo. Entretanto, creio na possibilidade de mudança e não no determinismo limitante do grupo. O meio organizacional pode ser mais competitivo em que as pessoas veem, com mais frequência, algo não bom numa situação interpretativa. O meio religioso e voluntário pode ser mais colaborativo em que as pessoas veem, com mais frequência, algo bom numa situação interpretativa. Cabe ressaltar aqui que boa parte das pessoas que se encontram nas instituições que praticam o voluntariado fazem parte de uma organização empresarial. O desafio talvez seja levar a visão predominante de um indivíduo ao meio para transformar o meio em conformidade com aquilo que temos de melhor. Podemos ser ternos, solidários e interessados, assim como nos surpreender, agradecer e acolher no meio organizacional mantendo a produtividade exigida? Sinceramente, acredito que sim e que a melhoria do meio resultará em ainda mais produtividade.

O final do vídeo (https://youtu.be/mprOUI6EBlU) inverte a lógica daquilo que acreditamos ter visto, prevalecendo a importância de que se pode ver algo bom numa situação inconclusiva. Cada pessoa escolhe, independentemente do grupo. Nas organizações, um grande número de pessoas escolhia fazer selfies e postar nas redes durante a oficina. Parecia que precisavam parecer. Na comunidade de voluntários a presença se sentia com a força da conexão entre todos no período do evento. Estavam onde escolhiam estar e podiam ser quem eles realmente eram: ternos, solidários e interessados e se permitiam estar surpresos, agradecidos e acolhedores. Era o que estava vivo neles. Você consegue exibir o que está vivo em ti na organização em que você está? Se sim, parabéns. Se não, transforme-a!

Moacir Rauber

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