O que você faz, faz sentido?
Veja o diálogo entre os dois cidadãos:
– Ahh, prefiro os cruzamentos onde tem rotatória. Eles são mais rápidos.
O segundo responde:
– Eu também. Só acho que eles são mais inseguros.
Há uma verdade e uma mentira no diálogo fictício acima. Recentemente assisti uma live de Victor Hugo Montalvo que apresentou o raciocínio fazendo uma analogia entre os semáforos e as rotatórias na gestão. Primeiro, as rotatórias fazem o trânsito fluir mais rapidamente é verdade. Segundo, eles são mais inseguros não representa realidade. E o que pode haver de mais profundo na analogia que s propõe para as organizações? A diferença entre a forma de gestão de comando e controle e a gestão flexível, colaborativa e autorregulada.
Muitos cruzamentos nas cidades são organizados entre semáforos e rotatórias. Cada modalidade tem as suas características. Nas organizações não é diferente. No semáforo estão institucionalizadas as cores como ponto de controle para os usuários. Quando você se aproxima do semáforo e o sinal está vermelho é uma ordem de parar. Quando o sinal está amarelo é um alerta para diminuir a velocidade e parar. Quando o sinal está verde a indicação é para seguir em frente. É o comando e o controle que determinam o que você vai fazer e como vai fazer. Na rotatória há uma lógica diferente. Ao se aproximar dela você verá a placa de “Pare” para que o motorista observe a presença de outros veículos em circulação, que terão a preferência, ou a passagem de pedestres, que igualmente deve ser respeitada. Fica evidente que você tem a autonomia da decisão. Por isso, são duas concepções da engenharia de trânsito com lógicas bastante diferentes. Nas organizações elas também existem.
No exemplo do semáforo, a gestão do comando e controle está na sua concepção e acredita-se que seja ainda o modelo dominante numa grande maioria das organizações. Funciona? Sim, porém é menos produtiva, menos eficiente e gera mais frustrações. A gestão comando e controle termina por diminuir a criatividade, a inovação, o engajamento e a produtividade. Quando o sinal está vermelho não importa se não há trânsito vindo da outra direção, você simplesmente fica parado. Pode parecer cômodo, porém é frustrante para um indivíduo que busca autonomia. Analogicamente, na organização, não importa o que esteja acontecendo no setor ao lado, você não faz nada porque não é sua responsabilidade. Pode ser fogo, uma ideia, o cuidado com um equipamento ou a colaboração para com alguém que não conseguiu cumprir um prazo, você não vai ajudar porque o sinal está vermelho.
Na exemplo da rotatória, a gestão tem outra perspectiva: a autorregulação parte da flexibilidade e da ação colaborativa dos indivíduos que precisam entender o sistema como um todo. Esse modelo gera mais engajamento, porque é fundamental ter atenção naquilo que se faz e os reflexos da ação; estimula a criatividade e a inovação, uma vez que você não é obrigado a ficar parado porque a autonomia lhe é dada para a tomada de decisão; consequentemente, a produtividade é afetada positivamente. Pode parecer incômodo e inseguro, mas a assunção de responsabilidade gera a sensação de autonomia e envolve a pessoa na construção de uma relação segura com os demais. Tem-se pessoas mais satisfeitas.
Portanto, entende-se que no momento vivido, as nossas organizações requerem uma mudança de postura na gestão das pessoas que as compõem. Migramos de um modelo industrial para a gestão do conhecimento na sociedade do sentido. Há uma tendência que não anula o uso de diferentes soluções para cada problema. Semáforo ou rotatória? É preciso fazer sentido. Pergunte-se: faz sentido estar parado enquanto se pode mover? Se não faz para você, use a sua criatividade e inove num processo de autorregulação responsável. É importante dar o espaço e a vez para o outro se deslocar? Se você julga que sim, seja bem-vindo a Sociedade 5.0 em que tudo que se faz ou se deixa de fazer deve fazer sentido.
Moacir Rauber