Onde está o problema?

Os dois começaram conversando tranquilamente, cada um expondo a sua ideia sobre qual cores que deveria predominar na pintura da porta. O primeiro tenta convencer o segundo sobre o acerto da sua sugestão. O segundo refuta e tenta convencer o primeiro das vantagens da sua escolha. O diálogo se acelera. Enquanto um defende que se deveria pintar com uma cor mais sóbria para combinar com os móveis do interior do escritório o outro acreditava que deveria ser usada uma cor mais viva para combinar com o jardim que circundava a empresa. A simples questão de definir a cor com a qual pintariam a porta que separa o ambiente interno do ambiente externo da empresa se estava transformando numa polêmica. Sem papas na língua, o primeiro disparou:

– Mas você é um teimoso…

– Teimoso é você… retrucou o segundo.

O impasse estava armado. O profissional se transformava em pessoal. Você já presenciou alguma situação similar? É uma situação caricata, porém exemplifica como os conflitos emergem nas situações mais corriqueiras possíveis. Ao observarmos a situação da perspectiva da Comunicação Não-Violenta (CNV) e da Inteligência Positiva (IP) se poderia ter alternativas sem que a rispidez desse o tom. Na CNV a sugestão é a de que as pessoas façam uma pausa para se ater aos fatos, registrem os sentimentos envolvidos e identifiquem quais as necessidades de um e de outro para, por fim, expressar-se de maneira clara e concreta num processo de autocuidado cuidadoso para si e para com o outro. A IP propõe que se faça os exercícios de reconexão com a realidade para diminuir a velocidade da atuação dos sabotadores e chamar a ação do sábio. É a pausa. Na situação acima, nem um nem outro usou os recursos da CNV ou da IP. Ambos estavam preocupados em manter a sua posição. Queriam muito mais estar certos do que alcançar o melhor resultado. Se pelo menos um deles tivesse usado a pausa para se conectar com a realidade poderia ter observado com clareza diferentes alternativas daquelas que se apresentavam. Teria escutado o outro e a si mesmo. Teria visto que se poderia trabalhar de forma conjunta num processo evolutivo em que as ideias são complementares. Um exercício muito simples proposto pela IP frente a uma ideia que você considera absurda é procurar nela alguma coerência para poder dizer um “sim”. Para diminuir a tensão e transformar o conflito em um momento de crescimento, é essencial encontrar um ponto de convergência, dizer “sim” para em seguida juntar “e…” para acrescentar a própria sugestão. Para usar essa técnica a pausa é fundamental para poder ver o fato diminuindo a interpretação que se tem dele, considerando sentimentos e necessidades envolvidos, além de se expressar de maneira educada. É a pausa que permite que o sábio se manifeste ao empatizar consigo e com o outro; ao explorar a situação da própria perspectiva e da do outro; ao inovar a própria ideia com a do outro; ao navegar por propostas não vistas por si mesmo presentes na visão do outro; e ao ativar o sábio diminuindo o poder dos sabotadores que não respeitam os sentimentos e as necessidades próprias nem do outro ao se basear numa interpretação da realidade que, muitas vezes, não corresponde aos fatos. O resultado? Expressa-se de forma trágica para atender uma necessidade não atendida gerando conflitos.

Enfim, o impasse frente a acusação de teimosia pelas partes chamou a atenção do gerente que passava por ali. Ele olhou e disse “Sim, boas ideias. Por que vocês não pintam de uma cor pelo lado de dentro e de outra pelo lado de fora?”. Ambos se entreolharam, fizeram a pausa para assimilar os fatos e se puseram de acordo com a solução proposta. Onde estava o problema? O problema estava no modo em que ambos percebiam a situação e não na situação. 

Moacir Rauber

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