Páscoa: tempo de ressuscitar o amor nas relações

Vivia só. Por vários anos segui a rotina de trabalho, leitura, filmes e visita aos amigos. Seguia só de solidão. Num dia de desespero pessoal, fui até o alto do Morro das Pedras, mirante que tem vista para a Lagoa do Peri e para a praia da Armação em Florianópolis. Fiquei observando a paisagem tentando me acalmar. A solidão doía. Ao pensar em voltar para casa, vinha-me o medo. Fui até a porta do mosteiro Jesuíta que havia ali e vi um convite para um retiro de silêncio, mas o silêncio me incomodava. Assim mesmo, inscrevi-me. Ao entrar no quarto li a frase de Santo Inácio de Loyola: “Pedir a Deus Nosso Senhor o que quero e desejo”. Mas o que eu realmente queria? Não sabia. Depois de quatro dias de silêncio em que saí do pânico para a tranquilidade soube fazer um pedido: “Deus, ensina-me a viver bem comigo mesmo e, se possível, que encontre alguém que tenha as crenças e convicções parecidas com as minhas para poder viver um amor por ti abençoado”. Esse pedido levei comigo.

A vida começou a ficar mais leve ao aprender a viver bem comigo na presença de Deus. Depois de alguns anos nessa rotina, aproveitando uma folga no trabalho, fui fazer uma formação em Buenos Aires. No evento de abertura conversei com uma colombiana que compartilhava o quarto com outras mulheres. Na manhã seguinte tomei café com elas e conheci a Susana e a Romina. Formamos um grupo quase que inseparável. Tivemos dias intensos de curso, enfim uma tarde de folga. Logo após a soneca do almoço, dei uma volta na calçada em frente ao restaurante do hotel e vi a Romina preparando um chimarrão. Convidei-me para acompanhá-la.

Sentamo-nos ao sol na grama do jardim do hotel. O lindo de tomar chimarrão é que a conversa acontece, porque a pessoa toma um mate e passa para o outro e depois o recebe novamente. Automaticamente, enquanto um toma o outro fala. Passamos horas tomando chimarrão, movendo-nos pelo jardim para acompanhar o sol que nos aquecia. Foi uma das tardes mais lindas das quais tenho lembrança.

Na hora do jantar nos encontramos outra vez. Em seguida, apareceu um colega para mostrar-nos algo. Ele disse: “Vejam as fotos que tirei hoje à tarde…” que registravam a conversa que havia tido com a Romina. Uma amiga olhou para as fotos e falou: “Aqui está acontecendo algo…”, insinuando que estávamos interessados um no outro. Enrubesci, manifestando o constrangimento por uma verdade revelada.

Naquela noite, não saía da minha cabeça a linda tarde que tive com a Romina. Parecia que a seguia escutando, contando os detalhes do seu trabalho. Podia ver o amor e o carinho com que ela cuidava dos anciãos que escreviam o último capítulo de suas vidas. Eu estava encantado.

No dia seguinte, ao revê-la, eu queria me aproximar, porém estava inseguro. O evento se encaminhava para o final e eu sequer tinha o telefone da Romina. No último dia, combinamos de jantar na casa da agora amiga comum, Susana. Para mim, era caminho do aeroporto. Para a Romina, era do outro lado da cidade. Será que ela iria? Graças a Deus ela foi, porque naquele jantar a conexão entre nós ficou evidente. Trocamos os contatos e desde então nunca mais nos desconectamos. Alguns dias depois, estávamos namorando. Podia ser virtual, mas era muito real. Finalmente, encontramo-nos novamente e oficializamos o nosso namoro para logo nos casarmos.  Anos se passaram e a data ficou gravada na mente, no coração e na aliança que vai me acompanhar até o último dia de minha vida.

“Pedir a Deus Nosso Senhor o que quero e desejo” foi atendido em todos os detalhes. Porém, uma vez atendido o pedido, é essencial que nos dediquemos para que as relações se mantenham, uma vez que nesta vida nada está assegurado. Assim, agradecer é o caminho de amor para manter as relações que nos permitem ressuscitar todos os dias em vida.

Lembrando que para a vida eterna Jesus já ressuscitou para nos resgatar.

FELIZ PÁSCOA!

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