Pensar fora do quadrado é o novo quadrado?
Assistir ao filme “Os Estagiários” (Os Estagiários, 12 – Brasil, 2013 – Comédia – 1h59m) com imagens do ambiente de trabalho no Google nos permite várias associações, principalmente sobre a área comportamental e da cultura organizacional. Pode-se estimular a que todos busquem a inovação por meio da competição de se pensar além daquilo que é convencional, mas onde ficam a colaboração e a cooperação? Trata-se de uma comédia em que dois quarentões da área de vendas ficam desempregados e se candidatam para integrar o programa de estagiários do Google, sendo surpreendentemente contratados. Com pouco conhecimento na área de tecnologia os dois são incluídos numa equipe de excluídos para a disputa das vagas efetivas na organização. Há uma legião de candidatos e são poucas as vagas. As tarefas a serem cumpridas para garantir as vagas são realizadas em ritmo de competição, em que as regras estabeleces que a equipe com melhor desempenho ficaria com as vagas. Eles quase são alijados do processo ao sofrer na pele uma espécie de bullying por parte dos jovens nerds que participam do processo. Felizmente, os quarentões conseguem se manter no grupo. Isso ocorre ao demonstrarem inteligência emocional suficiente para que algumas lições de colaboração e cooperação sejam apreendidas pelos mais jovens, sobrepondo-se ao simples domínio da técnica decorrente direta do Quociente Intelectual (QI).
A empresa Google é considerada por muitos como o melhor lugar para se trabalhar. Trata-se de uma das maiores empresas globais do setor tecnológico, que há 25 anos sequer existia. Ela é responsável, em grande parte, por redesenhar como nós nos relacionamos com a internet, com as informações e com o conhecimento. A empresa também alterou a experiência no ambiente de trabalho, criando uma cultura organizacional diferente. Trabalha-se num ambiente corporativo descolado com liberdade para se vestir da forma como quiser, brincar ou praticar esportes, apresentando uma proposta diferente de cultura com relação ao comportamento na organização. Pode-se inclusive comer sempre que se quiser sem nunca pagar diretamente por isso. Temos a impressão de que se está diante de algo totalmente diferente. A empresa, aparentemente, representa aquilo que se propõe quando se fala em pensar fora do quadrado, uma quase unanimidade nos programas de formação profissional e nas exigências para uma nova colocação no mercado de trabalho. Naquele ambiente estimula-se a criatividade, a inovação e a tecnologia, sendo elas palavras de ordem na busca pelo colaborador mais competente. Desse modo, o candidato que chega ao final de um processo seletivo tão disputado leva o contratante a acreditar que o sujeito sentado a sua frente seja alguém que pensa diferente. Eis o novo quadrado.
Pergunto: se todos estão buscando ser diferentes ao pensar fora do quadrado, então realmente é diferente aquele que pensa igual ao olhar fora do quadrado?
É uma contradição. Todos pensarem fora do quadrado concorre com frases como “a verdade absoluta não existe”, que se coloca como uma verdade absoluta. “Não deixe o seu relacionamento cair na rotina”, que termina por ser a rotina de não se ter rotina. Por isso, a mudança em tempos de mudança pode ser a não mudança. Da mesma forma, pensar como sempre se pensava em tempos em que todos querem pensar diferente pode ser a diferença. Porque se todos estão preocupados em ser diferentes aquele que simplesmente agir como ele realmente é já será diferente o suficiente para não estar no quadrado. Por isso, sempre pensar fora do quadrado não seria um novo quadrado?
Moacir Rauber