Qual é a parte boa dos homens maus?
Os homens maus existem e são reais as maldades que fazem. As prisões estão cheias de homens que roubaram, estupraram, mataram, extorquiram, sequestraram ou assediaram. Nas prisões têm algumas pessoas que desviaram dinheiro, subornaram ou manipularam na gestão pública ou privada. Nessas mesmas prisões têm outras pessoas que estão nelas por um equívoco da justiça. Acompanhei a história de um homem que foi preso, injustamente acusado de ter matado a esposa. A justiça seguiu o seu ritual. Alguns elementos do processo não faziam sentido, mas tudo indicava que ele seria o criminoso. Ordem de prisão expedida e prisão efetuada. Sete anos se passaram até que apareceu o verdadeiro criminoso. Soltaram quem injustamente fora preso e lhe perguntaram como havia sido. Ele respondeu:
– Pude conhecer a parte boa de homens maus!
Escutar a sua história sem ser atingido por uma enxurrada de lamúrias pela perseguição sofrida é um alívio para a alma e traz esperança na humanidade. Não quer dizer aceitar as injustiças. Quer dizer aceitar o que não pode ser mais mudado e aproveitar para mudar o que pode ser mudado. Ele teve a sua vida dilacerada, como então se pode dizer “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça”? Parece incabível, mas quantas outras situações nos revoltam e que são igualmente injustas? Nas empresas, pessoas que se apropriam das realizações de colegas num movimento de roubo e extorsão. Nas relações, pessoas que subornam e manipulam emoções em benefício próprio. São inúmeras as situações em que alguém pode ser perseguido pela justiça ou pela injustiça. Acredito que o próprio personagem nos dá a resposta. Ao sair da prisão ele poderia dar ênfase naquilo que já não poderia ser mudado e seguir no papel de vítima. Entretanto, ele escolheu focar naquilo que aprendeu no período em foi alvo de injustiça pela justiça. Ele aproveitou para conhecer pessoas que, por suas razões, optaram pelos caminhos da violência, do roubo e das violações. Ele conseguiu encontrar nessas pessoas a bondade, a compaixão e a esperança de que poderiam ser melhores. Ele conseguiu ver o lado bom das pessoas más. Considere-se que não se trata de alguém religioso ou espiritualizado, entretanto, o seu comportamento foi uma demonstração da espiritualidade na prática. Pode-se encontrar nesse comportamento muito daquilo que nos querem ensinar com os livros de Inteligência Emocional, Psicologia Positiva, de Programação Neurolinguística ou de toda literatura que dá roupagem científica as escolhas que fazemos. Assim, bem-aventurados os perseguidos pela justiça ou pela injustiça que conseguem fazer escolhas que fazem bem a si mesmo e aos demais.
Enfim, as bem-aventuranças levadas para o ambiente organizacional e relacional extrapola qualquer dogma religioso. As bem-aventuranças são fonte de inspiração para que possamos fazer deste um mundo melhor. Ser pobre de espírito e se abrir para a aprendizagem; chorar as dores do mundo para consertá-las; ser manso e forte; ter fome e sede de evolução; ser misericordioso com a nossa humanidade; e trabalhar pela paz a partir da inquietude pode fazer com que alguém seja perseguido no ambiente social ou organizacional. Sabe-se que o mundo não é justo, mas que eu posso escolher ser justo. É isso que importa. Afinal, cabe a cada um escolher se vai manter o foco na injustiça, lamentando-se, ou se vai tomar as ações cabíveis e seguir com a aprendizagem da vida, inclusive a de ver o lado bom de homens maus. São os homens maus ou são homens que cometem maldades? Quais as tuas maldades? Qual é o teu lado bom?
Moacir Rauber
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Baseada em fatos