Que tipo de “velho” você está se construindo?

No final do século XIX, um senhor com cabelos grisalhos e barba branca viajava de trem pelas ruas de Paris, lendo um livro. A sua frente se sentou um bem vestido jovem, que igualmente trazia consigo um livro. O jovem olhou para o livro que aquele senhor lia e disse:

– Como o senhor consegue ler algo com tantas baboseiras escritas? O tempo agora é das ciências e dos cientistas. A Revolução Francesa mostrou que não há mais lugar para essas fantasias… e apontou para o livro nas mãos daquele senhor. Tratava-se da bíblia.

O senhor o olhou e falou:

– Na Bíblia está a Palavra de Deus. Você acha que estou errado?

– Erradíssimo! O senhor deveria estudar ciências e parar com essas bobagens. Deveria conhecer o pensamento dos cientistas sobre essas coisas.

– Hum… e o que dizem os cientistas sobre a Bíblia?

– O senhor tem um cartão? Vou descer na próxima estação e não posso explicar agora, mas poderei enviar alguns livros que vão ajudá-lo.

O senhor de cabelos grisalhos tirou um cartão do bolso e o deu ao jovem que leu a identificação:

“Professor Louis Pasteur

Diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Científicas

Universidade Nacional da França”.

O jovem ficou boquiaberto e não sabia onde enfiar a cara.

Do que nos fala o diálogo? Podem ser encontrados elementos como soberba e humildade; ciência e espiritualidade; juventude e ancianidade; e progresso e tradição. Num primeiro momento, parece que todos os conjuntos de palavras são antônimos. Ao se analisar com mais cuidado, entendo que somente Soberba e Humildade sejam antônimas, porque onde há presunção não há espaço para o despojamento; onde há orgulho não se encontra a modéstia; onde há a arrogância não nasce a simplicidade. Por isso, a soberba é antônima da humildade impedindo que o presunçoso, o arrogante e o orgulhoso desenvolvam o seu potencial baseado no despojamento da mente aberta que permite novas perspectivas; na modéstia que estimula a curiosidade para adquirir novos conhecimentos; e na simplicidade de entender que não entendemos tudo e que a vida é um mistério. Avançando para a ciência e a espiritualidade, vejo que não são antônimas e sim complementares. A ciência cria conhecimentos e contribui com avanços na saúde, na alimentação, na tecnologia, entre outras áreas. A espiritualidade, por sua vez, nos leva a encontrar conforto, segurança e bem estar que se traduz na busca por uma vida saudável e com sentido. Desse modo, enquanto a ciência cria conhecimentos a espiritualidade trabalha o sentido deles. A juventude e a ancianidade, igualmente, são complementares porque são diferentes estágios de uma mesma jornada. Cada jovem é um ancião em construção. Por fim, a tradição e o progresso, da mesma forma, são complementares. A tradição representa a trajetória da humanidade que mantém a herança cultural que nos trouxe até aqui, enquanto o progresso desenvolve e aperfeiçoa o presente para que cheguemos melhores mais além. O desafio entre progresso e tradição é “não jogar o bebê fora com a água suja”. Portanto, somente são antônimas a soberba e a humildade, porque quando a soberba da ciência, da juventude e do progresso se sobrepõem a importância da espiritualidade, da maturidade da ancianidade e da cultura da tradição não há espaço para a humildade. O caminho inverso, da mesma forma, não é positivo.

Louis Pasteur, nessa passagem de sua vida, foi um exemplo de humildade, porque não permitiu que a ciência anulasse a sua espiritualidade; que a juventude o transformasse em velho; que o progresso descartasse a herança da tradição. Sem nenhuma soberba ele pode deixar uma mensagem para um jovem que talvez estivesse velho, marcado pela soberba que se sobrepôs à humildade.

Que tipo de ancião você está se construindo?

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

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