Quem é o bobalhão correndo?
Nas viagens sempre estou no local antes do horário previsto para embarcar, afinal um usuário de cadeira de rodas, às vezes, demanda mais tempo. Com isso aproveito para observar os atrasados correndo para chegar a tempo de embarcar. Alguns conseguem. Outros não. O desespero toma conta das pessoas que perdem o voo. Eu observo, penso e julgo, “Quem é esse bobalhão correndo?”.
Há alguns anos, estava no aeroporto com bastante antecedência para um voo doméstico. Aproveitei para almoçar com um amigo. O relógio marcava 13h24min, “Ah, tenho bastante tempo, meu voo somente será às 15h. Mesmo assim é hora de ir, pensei. Comecei a relembrar para onde eu iria e percebi que os horários de saída e de chegada estavam muito próximos. Resolvi olhar a passagem e não acreditei no que vi. A hora de decolagem seria às 14h e não às 15h. Saí a toda a velocidade que a cadeira de rodas permitia pelo saguão de um terminal ao outro até o balcão da companhia aérea. Fila. Todos as posições ocupadas. Agitei meus braços. Consegui a atenção de uma das atendentes. Ela disse:
– Acabou de fechar. Não embarca mais…
– Não é possível. Não é possível… repeti desesperado.
Havia perdido o voo. Agora eu sentia na pele aquilo que eu via os outros passarem quando se apresentavam alguns minutos atrasados no balcão de embarque. Era minha a falta de organização que complicava a minha situação. Eu deveria chegar às 16h no destino para um compromisso às 19h. Quantas pessoas seriam atingidas pela minha desorganização? Ao não cumprir o horário do primeiro compromisso, o embarque, deixaria de cumprir o segundo compromisso, o evento. Ao não atender o segundo compromisso criaria problemas para as pessoas que haviam me contratado para o evento que haviam organizado. Seria uma frustração moral, além dos prejuízos financeiros que também estariam envolvidos. Mas o que fazer? O que estava ao meu alcance fazer naquele momento? Nada…
Tudo isso passava pela minha cabeça, quando novamente olhei para a atendente e a vi falando com alguém no comunicador. Ela desligou e olhou para mim:
– Se nós chegarmos até lá em dez minutos eles te embarcam. Siga-me … disse ela e saiu correndo.
Fui atrás. Corri feito um louco, passei pela alfândega e cheguei ao portão. Tão logo embarquei as portas do avião se fecharam. Relaxei pela emoção de ter conseguido viajar. Foi então que me dei conta de quão injustos sempre foram os meus julgamentos. Como poderia eu julgar sem saber o que realmente acontecera com as pessoas que chegavam atrasadas ou em cima da hora? O meu motivo fora realmente fútil, mas quais seriam os motivos dos outros que eu sempre observara e julgara? Pensei comigo, “Julgue menos. Você não sabe o que o outro está passando…”. Faltava-me a humildade para praticar a empatia. Competências socioemocionais que podem validar muitas de nossas competências técnicas.
Por fim, coloquei-me no lugar das outras pessoas que naquele dia estavam com antecedência no aeroporto. Caso algum deles tenha me observado correndo desesperado pelo saguão do aeroporto pode ter pensado, “Mas quem é esse bobalhão em cadeira de rodas correndo de um lado para o outro?”. Naquele dia o bobalhão fui eu.
Moacir Rauber
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