Quem são esses velhos das fotos?

Foi criado um grupo de whatsapp para resgatar as histórias, as amizades e as boas lembranças daqueles que foram seminaristas. Entrei num grupo com mais de sessenta integrantes. Pensava: “É só pra perder tempo…”. Vejo um nome e vejo outro. As boas lembranças me vêm à mente. Leio as memórias trazidas por diferentes pessoas no grupo com fotos amareladas. Abro o perfil de um e de outro nome que reconheço. Vejo um velho aqui e outro ali com filhos e netos que não reconheço. Pergunto-me:

– Quem são esses velhos nas fotos dos meus amigos seminaristas?

Fui seminarista na década de 70 e 80 como alternativa para estudar. Era uma época em que poucas pessoas tinham acesso aos estudos depois da quarta série. O Estado ainda não supria a demanda, assim os pais enviavam os filhos para que estudassem nos seminários. Os padres recebiam os garotos, entre 10 e 15 anos, na esperança de que se revelassem algumas vocações. Saíamos de nossas casas para ir ao seminário em fevereiro e até as férias de julho podíamos visitar os nossos pais uma ou duas vezes. Era um tempo sem telefone, sem internet e, para alguns, até sem energia. Durante o semestre se escreviam algumas cartas para os pais e o restante do tempo era gasto para estudar muito, rezar com intensidade, praticar esportes diariamente e trabalhar um pouco. Com isso, se criavam fortes laços de amizade com os outros garotos com quem se dividiam os medos e as ansiedades. Estudar para ser padre? Era uma hipótese, porém não a primeira. E os padres sabiam disso. Lembro-me da fala de um padre: “Aqueles que forem se casar, lembrem-se de encontrar alguém com quem vocês gostem de conversar, porque quando ficarem velhos…”. Parecia tudo tão distante, porém o tempo passou.

Pelo que sei, de todos os seminaristas que estiveram no seminário foi ordenado apenas um sacerdote. Para as pretensões dos padres o resultado talvez não tenha sido o esperado. Para as pessoas que foram seminaristas o impacto foi enorme, uma vez que os nossos “heróis” não tinham os pés de barro. Os padres que nos receberam eram exemplos de correção. Os professores que nos ensinaram eram e são admirados. Assim, sempre que se encontra com alguém que teve a experiência de ter estudado no seminário as lembranças são fortes e positivas. Mais de quarenta anos depois não reconheço os “velhos” que vejo nas fotos. E eles, igualmente, não devem me reconhecer. Por que perder tempo com “velhos”?

Recentemente, li um texto sobre a importância de se “perder tempo” com as pessoas mais velhas que, às vezes, já não raciocinam bem, assim como com as crianças, que ainda não compreendem o todo. Nas famílias, “perder tempo” com as crianças e com os idosos nos caracteriza como humanos, dando-nos uma perspectiva ampliada da vida para adultos acelerados que tem uma visão limitada. Nas organizações, “perder tempo” com aqueles que chegam e com aqueles que estão por se aposentar permite que a experiência seja aproveitada no presente, garantindo-nos o futuro. Nas relações pessoais as conversas que desconversam são as que revelam os laços mais profundos. Lembro que o grupo de seminaristas a quem me refiro não é exatamente de idosos, mas acredito que resgatar as amizades com boas conversas nos fará usar o tempo com o que importa. Idosos ou crianças? São pessoas.

Quem são os “velhos” no perfil do whatsapp? Quem são os garotos nas fotos amareladas? Não importa, porque a jornada iniciada vai ser terminada. Assim, fica o convite: vamos “perder tempo” juntos?

Moacir Rauber

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Seminário Santo Américo – Nova Santa Rosa-PR

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