Se todos vivessem como ela?

Numa de suas muitas interações com as pessoas que atendia, enfermos e carentes, a Madre Teresa de Calcutá ouviu uma das pessoas que a observava dizer:

– Não faria isso por dinheiro nenhum.

Ela respondeu:

– Nem eu.

Ela não o fazia por dinheiro, fazia por sentido. A história é conhecida e dela se podem extrair reflexões, entre elas indagar-se: eu faria o que faço se não fosse por dinheiro? Qual é o sentido para mim e para outro daquilo que faço? São perguntas que podem nos dar um norte num momento da história em que buscamos a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Falamos muito de atividades “mais sustentáveis”, orientando o desenvolvimento tecnológico centrado nas pessoas e com soluções que contribuam de alguma maneira para a manutenção da vida no nosso planeta.

Entende-se que houve um caminho percorrido pela humanidade começando com a Sociedade 1.0, da caça, passando para a Sociedade 2.0, da agricultura, seguindo para a Sociedade 3.0, da indústria, avançando para a Sociedade 4.0, da informação, e, finalmente, chegando a Sociedade 5.0, da hiper conexão. Nessa sociedade há uma convergência entre o virtual e o físico fazendo com que ambas sejam reais, com a geração de alegria e tristeza; vitórias e derrotas; conquistas e fracassos; e amores e desamores em qualquer dos ambientes. Acredita-se que a Sociedade 5.0 pode nos levar a um modo de vida mais sustentável, mais eficiente e mais inteligente. Entretanto, qual é o sentido daquilo que se faz?

Assim, a Sociedade 5.0 aprofunda as possibilidades a partir da Inteligência Artificial, em que homens e máquinas são mais inteligentes; com a internet das coisas em que a tecnologia facilita a nossa vida; com a computação em nuvem que provê soluções a partir do compartilhamento de dados em escala global e por aí segue. Desse modo, a tecnologia está integrada no nosso dia a dia de maneira que já não se consegue viver sem ela. Entretanto, as perguntas existenciais, como, “quem sou?”, “de onde vim?”, “para onde vou?, se é que vou…” continuam a angustiar os seres humanos, porque não têm uma resposta que possa ser fornecida pela tecnologia. Creio que a tecnologia, por vezes, contribui para que se gere ainda mais ansiedade pelos estímulos externos a que somos expostos, mantendo-nos conectados num mundo virtual, desconectando-nos do mundo físico. Entende-se que o virtual não é antônimo de real, mas sim de físico. Entretanto, o mundo físico exige a presença real. Por isso, acredito que a Sociedade 5.0, muito mais do que hiper conexão nos deveria levar a entender o sentido daquilo que fazemos para contribuir nas respostas de nossas perguntas existenciais.

Enfim, responder as perguntas iniciais para saber se você faria o que faz se não fosse por dinheiro e qual é o sentido daquilo que faz para si mesmo e para os outros, nos levaria a um verdadeiro estado evolutivo, para Sociedade do Sentido. Com isso, passaríamos a ser uma sociedade sustentável, não apenas mais sustentável, porque não há espaço para destruirmos somente “um pouco o ambiente” ou para sermos “um pouco responsáveis” com atividades que não são viáveis. Igualmente, temos recursos tecnológicos e humanos para sermos uma sociedade eficiente e sem desperdícios. Assim, finalmente construiríamos uma sociedade inteligente e nela somente se faria aquilo que faz sentido. Senão, para que fazer?

Desse modo, entendo que é essencial que olhemos para trás e aproveitemos os exemplos de pessoas que, com sua forma de agir, trabalhar e viver, afetaram o mundo positivamente. É importante ser remunerado pelo que se faz? Sim, entretanto é indispensável que aquilo que se faz contribua para que a vida seja melhor para todos.

Relembrando o que disse Madre Teresa de Calcutá que não fazia o que fazia pelo dinheiro, porque acreditava que “se você não vive para servir não serve para viver”. Certamente, se todos vivessem como ela o mundo seria um lugar melhor para se viver, em todos os sentidos!

Moacir Rauber

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