Se todos vivessem como eu?
Ela se considerava uma pessoa consciente dos problemas que enfrentamos como seres humanos na nossa trajetória, por vezes, não tão evolutiva. Por um lado, transformamos o planeta de maneira a que seja mais amigável ao ser humano; por outro lado, nós o degradamos deixando-o inabitável em muitos lugares. Por isso, ela estava indignada com ela mesma, porque não acreditava que havia comprado um novo celular, sabendo que aquele que tinha atendia as suas demandas. Havia feito uma compra por impulso, porém agora restavam as parcelas a serem pagas e a dor na consciência por consumir sem necessidade. Assim, ela se perguntou:
– E se todos vivessem como eu, como seria?
Fiquei pensando nas reflexões que se podem fazer a partir dessa pergunta, indagando-me: e se todos vivessem como eu, como estaria o mundo? Posso fazer uma autoanálise, mas é mais fácil falar do outro… Cedo à tentação de levar essa pergunta para o comportamento de consumo de influentes, famosos, ricos e nós, pobres mortais, que, muitas vezes, mostramo-nos como defensores do planeta.
Começando por Jeff Bezos, maior acionista da Amazon, que citei como exemplo ético na condução das reuniões de sua organização, pergunto: se todos vivessem como ele, como seria o mundo? Provavelmente não teríamos recursos naturais suficientes para a próxima década, porque somente em seis semanas de uso de seu novo avião ele emitiu mais CO2 do que um cidadão médio emitiria em 17 anos (fonte: br.ign.com). Comportamento inviável!
Seguindo com um famoso, tomando Matt Damon como exemplo, mas poderia ser outro: como seria o mundo se todos vivessem como ele? Não conheço o seu estilo de vida, entretanto os milhões de dólares que ganha pela realização de um filme o coloca num patamar de consumo individual muito acima da média. Além disso, considere-se o impacto de consumo dos seus filmes ao redor do globo, comparativamente com as atividades de um pobre mortal. Nada recomendável!
Por fim, tomemos uma influencer atual, como Greta Thunberg: como seria o mundo se todos vivêssemos como ela? O ativismo dela sobre a consciência ambiental tem gerado debates ao redor do planeta, algo positivo, porém ele consome energia e outros produtos feitos de recursos naturais acima da média. Assim, quando ela sai da Suécia e vai para a Alemanha, Estados Unidos, Portugal ou qualquer outro país onde faça um protesto, ela gasta energia e gera CO2. Por vezes, ela até pode usar um catamarã movido a velas, entretanto, elas mesmas, o casco, as camas, as cordas e todos os recursos tecnológicos embarcados representam um nível de consumo energético bastante alto. Prática insustentável!
Assim, se todos nós (8,2 bilhões de habitantes) vivêssemos como Greta, Matt ou Jeff, ou outros tantos ativistas, artistas e milionários, não tenho ideia de quantos planetas precisaríamos para nos atender com os recursos naturais consumidos. Porém, não se trata somente dos influentes, ricos e famosos, mas de cada um de nós. Isso porque é igualmente insustentável, independentemente da renda, jogar uma garrafa de plástico no mar ou passar o dia na frente do computador vendo vídeos. É o nosso estilo de vida como humanos que precisa ser repensado. Consumir sim, mas para quê?
Enfim, a minha amiga, com seu drama de consciência por ter comprado um celular que não precisava, traz um sinal de esperança para que mudemos o nosso estilo de vida e de consumo. Não se trata de não consumir, mas de repensar o modelo do descartável, incorporando o conceito de negócios que seja ambientalmente correto, socialmente responsável e economicamente viável. A ordem dos fatores não altera o produto? Neste caso, sim, porque é essencial ser nessa ordem para que tenhamos um planeta para viver. Assim, cuidamos da casa e em seguida o universo é o limite!
Em termos de consumo, como seria o mundo se todos vivessem como você vive? Uma reflexão a ser feita por cada um e confesso que a minha consciência pesa…
Moacir Rauber
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