Sou dependente…

A conferência tratava de um tema relevante para mim: a autonomia e a independência, uma busca que pautou boa parte de minha vida, principalmente a partir da lesão medular que me deixou em cadeira de rodas. Assim, empreendi esforços para resgatar a autonomia e a independência desde os cuidados de higiene até o uso da cadeira de rodas de maneira ativa ou para dirigir um carro que garantiriam a minha liberdade de escolha. Agora, frente ao palestrante que reforçava a importância da autonomia e da independência como uma manifestação de poder pessoal inerente a cada ser humano, comecei a me questionar: sou verdadeiramente autônomo? Conquistei a minha independência?

O palestrante aprofundou as reflexões sobre o poder pessoal, ressaltando técnicas como mindfulness ou exercícios para manter o foco, citando a ciência para dar credibilidade a sua argumentação. Sempre fazia a conexão entre a autonomia e a independência como a expressão do poder pessoal que define nossa vida presente e futura. “Somos os donos do nosso destino”, desvinculando as reflexões de qualquer visão religiosa ou espiritual, uma vez que se professava ateu. Como cristão, as suas reflexões produziram em mim outras perguntas, principalmente, até onde vai o meu poder?

Não conversei com o conferencista, mas faria algumas indagações:

– Você pratica mindfulness? Ele diria que sim e eu responderia: “Os cristãos e membros de outras correntes religiosas praticam a meditação como forma de iniciar o dia, fazem as orações para transformar as intenções em ações e rezam como uma forma de manter o foco, diminuindo os juízos de valor que nos afastam do amor a si mesmo e ao próximo”.

– Você sabe de onde viemos e para onde vamos? Ele teria que dizer que não, porque não há quem tenha a resposta. E eu diria: “Eu também não sei, mas nós acreditamos numa inteligência suprema e num criador universal a quem chamamos Deus.

– Você acredita no pecado? Ele, provavelmente, responderia que não e eu comentaria: “Acredito que se deve ‘amar o teu próximo como a ti mesmo (Mateus 22:39)’, levando-nos a exibir o amor em todas as ações. Desse modo, somente a ausência de amor é pecado”.

– Você segue as leis? Creio que ele diria sim e eu concordaria, acrescentando: “Caso seguíssemos os Dez Mandamentos as leis seriam cumpridas com o florescimento de uma humanidade autêntica, generosa e justa.

Finalmente, perguntaria:

– Você acredita no seu poder? Uma possibilidade é a de que dissesse que está onde está pelo seu poder de escolha que o trouxe até aqui, mostrando a força da autonomia e da independência que cada indivíduo tem.

Concordaria, em parte, e em seguida perguntaria:

– Até onde vai o teu poder individual?

– Onde estava o teu poder até o nascimento e na infância?

– Para onde irá o teu poder na tua velhice?

Por um lado, acredito que o início da vida nos mostra que não somos independentes e não temos autonomia, porque tivemos que ser cuidados para seguirmos vivos e isso é um exemplo de dependência. Por outro lado, o final da vida nos retira gradativamente a autonomia e a independência e não há poder pessoal que impeça de que a vida nos seja tirada sem aviso prévio.

Muitas vezes, defendia a ideia da interdependência, entretanto acredito que o indivíduo é dependente do grupo. Desse modo, entendo que na organização sou dependente da minha equipe, seja eu o dono ou o líder; na família sou dependente da presença, seja eu o pai, a mãe ou o filho; na comunidade sou dependente dos demais, seja eu o tesoureiro, o secretário ou um membro; na sociedade sou dependente da ordem, seja eu o presidente, um senador, um juiz ou um cidadão qualquer. Por isso, como indivíduos somos dependentes.

Além do mais, como pessoa sou dependente de amor, de cuidado, de carinho, assim como de outras necessidades humanas que somente o outro pode me dar. Por fim, sou dependente de sentido encontrado na crença de uma inteligência suprema e de um criador universal.

Sou dependente de Deus!

Moacir Rauber

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