Um dia comum: o mundo está melhor?

Comecei o dia com a meditação para alinhar as intenções e as ações do dia. Com essa intenção saí de casa. O primeiro compromisso transcorreu como o imaginado, apesar de ter ouvido palavras que poderiam ter gerado em mim uma sensação incômoda. O dia seguiu e os desafios pareciam cada vez maiores. O último compromisso do dia, que para mim seria o mais importante, não aconteceu. A pessoa não apareceu e não avisou. A ira nasceu em mim e quase explodi de raiva. Porém, explodir com o outro como se ele nem apareceu? Fui para casa frustrado, jantei sem falar muito e fomos para cama mais cedo. Minha esposa perguntou:

– O que aconteceu?

Agora já havia processado parte do dia, faltava finalizá-lo. Muito tem se falado dos exercícios de pausa no início de um dia, a meditação, e no seu transcurso, as micro pausas. Porém, acredita-se que tão importante quanto fortalecer as intenções no princípio do dia, é fazer uma revisão ao seu final para avaliar como ele foi vivido. A revisão faz diferença, porque as emoções, os sentimentos, as ações e as intenções ainda estão vivas em cada um de nós. Depois da pergunta da minha esposa, repassei todo o dia baseado em três perguntas: (1) o que fiz hoje contribuiu para uma vida melhor? Responder a essa pergunta me permitiu identificar que fiz bem ao manter o ritual da meditação da manhã, o que me deu forças para fazer a pausa na interação em que pensei ter ouvido críticas e ofensas. A pausa antes de responder me fez perceber que não havia ofensa nem crítica na fala do meu interlocutor e o acréscimo de um ponto importante na ideia. O meu sábio não foi sequestrado pelos meus sabotadores. Responder à pergunta (2) “O que fiz hoje que não contribui para uma vida melhor?” expôs um acentuado incômodo emocional que me infligi pela não presença do outro para um compromisso acordado. Por que o incômodo? Porque o que fiz não contribuiu para melhorar a minha vida, nem a do outro? Porque a ira comandou a minha reação. Não pausei. Explodi ao enviar uma mensagem de texto nada construtiva para a pessoa que não havia comparecido, que revela que os meus sabotadores haviam sequestrado o meu sábio. Por fim, responder a pergunta (3) “O que poderia fazer diferente para que a vida fosse melhor?” pode me preparar para o dia seguinte, servindo de orientação para não repetir ações improdutivas ou para alterar comportamentos que não contribuíram para um mundo melhor. Enviar uma mensagem de texto para cobrar a presença de alguém que optou por não comparecer poderia ser repensado? Sim, com sabedoria tudo o que precisa ser dito pode ser dito, dependendo de como é dito.

Enfim, na conversa de avaliação do dia que terminava seguia incomodado com o que havia passado. Entretanto, o incômodo não se aplicava ao outro, mas ao fato de haver deixado que a ira comandasse a minha reação. Não fiz nenhuma pausa e enviei uma mensagem de texto cobrando o outro pelo seu não comparecimento. A sua ausência era um fato, entretanto as razões que eu atribuí a elas foram interpretações minhas. Essas interpretações me levaram a entender que a minha necessidade de respeito não estava sendo atendida e sob o comando da ira me expressei de maneira agressiva. O resultado de agir sob o comando das emoções, como a ira? Quase sempre termina em conflitos e com pessoas magoadas. O meu interlocutor não compareceu porque a escolha dele estava pautada pelas suas prioridades e, naquele momento, levar a filha para o hospital era insubstituível. Ainda bem que ele teve a sensatez de pausar para exercer a empatia comigo, explorar a situação para reagendar o encontro para inovar, navegar e ativar o sábio.

O que fiz hoje e como fiz faz do mundo um lugar melhor?

Moacir Rauber

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