Você quer conhecer alguém?
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“Você quer conhecer alguém? Passe férias com essa pessoa…” dizia meu pai em referência aos desafios relacionais que surgem no dia a dia. Ele recordava uma experiência que teve, juntamente com minha mãe, ao programar duas semanas de férias com um grande amigo e sua esposa. Seriam férias, mas também iriam tratar de um investimento conjunto.
Meus pais sempre levantaram cedo, ainda que estivessem de férias, porque acreditavam que dormir qualquer um pode, porém para desfrutar da beleza da vida é preciso estar acordado. No primeiro dia das férias meu pai preparou o chimarrão e minha mãe o café. O casal de amigos levantou mais tarde e encontrou o café pronto e a roda do mate. Em seguida se despediram e foram à praia. Meus pais lavaram as louças e deixaram a casa organizada e depois foram à praia. Almoçaram fora e passaram a tarde no mar. Para o jantar minha mãe preparou uma comida e o casal de amigos comodamente se sentou à mesa. Hoje fazemos nós, amanhã fazem eles, pensaram meus pais. Entretanto, no dia seguinte a cena se repetiu. O casal de melhores amigos não se levantou cedo e não moveu uma palha para fazer o almoço, lavar as louças ou organizar a casa. Aparentemente, não se importavam com o espaço que era compartilhado com meus pais. Depois de três dias o casal estava brigado entre si e meus pais buscaram outra casa para passar o restante das férias.
Para algumas pessoas a ordem, a colaboração e a cooperação são necessidades, para outras a desordem, o desinteresse e a indiferença são parte da rotina. Cada um com suas escolhas, cada um com os seus resultados.
Entendo que a evolução tecnológica acentuada alterou muitos comportamentos que estavam culturalmente arraigados, mas que por uma razão ou outra perderam relevância, entre eles a ordem, a colaboração e a cooperação.
Aqui falamos de ordem como a disciplina de manter os espaços arrumados, o cumprimento dos horários ou a manutenção dos compromissos conectados com um comportamento que nos leve a alcançar a paz e a tranquilidade. Esta ordem exige a colaboração que se refere à ajuda, ao auxílio e à participação num movimento de cooperação que vem da contribuição efetiva que reforça a solidariedade entre as pessoas que compartilham um mesmo ambiente.
Acredito perdemos parte da capacidade de colaboração e de cooperação que organiza a partir da dominância do conceito de amor-próprio e de autoestima das pessoas, em que somos levados a fazer tudo aquilo que me faz feliz. Como resultado temos a desordem, o desinteresse e a indiferença para com tudo aquilo que não diz respeito ao meu próprio umbigo. Penso que saímos de um amor-próprio altruísta, que nos conectava com a autoestima que preserva a identidade a partir da humildade, para um amor-próprio egoísta, que nos leva para um mundo de orgulho hedonista que se ocupa tão somente pela busca do prazer. Nesse movimento, nos encontramos com a desordem que não colabora e não coopera.
Na sociedade vemos o reflexo de relações familiares cada vez mais fugazes ancoradas na ideia de que “a fila anda” resultando na desordem pelo comportamento de pessoas que não aprenderam a importância da colaboração e da cooperação. Nas organizações há um fenômeno parecido, porque vemos colaboradores que não colaboram e empregadores que não se comprometem como elemento essencial de cooperação. Enfim, são pessoas que não arrumam a cama e que não lavam a louça em sua própria casa que formam as famílias e as organizações. Sem ordem, colaboração e cooperação perde a a humanidade.
As férias terminaram, assim como o casamento dos amigos dos meus pais. A rotina da desordem, o desinteresse e a indiferença haviam atingido diretamente aqueles que não deram importância para a ordem, a colaboração e a cooperação. Por outro lado, meus pais seguiram a sua rotina com ordem, colaboração e cooperação, livrando-se de uma futura sociedade que era uma das razões das férias conjuntas.
Quer conhecer alguém? Passem férias juntos…
Moacir Rauber
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