Você quer cruzar a rua?
Estava eu, um dia desses, no centro de Florianópolis aguardando um amigo. Havíamos marcado nosso ponto de encontro no cruzamento bem em frente ao seu prédio, que não era acessível para cadeirante, meu caso. Como sou meio ansioso cheguei antes do horário. Fiquei ao lado do semáforo, olhando para o relógio e para o outro lado da rua de onde ele viria. O sinal estava fechado para pedestres. As pessoas foram se aglomerando ao meu lado e em seguida deu sinal verde. A movimentação foi intensa e eu fiquei ali, esperando. Vi meu amigo começar a cruzar do outro lado da rua para o meu lado. De repente chegam dois sujeitos correndo e me perguntam já empurrando minha cadeira de rodas:
– Você quer cruzar para o outro lado? Nós te ajudamos…
Não tive tempo de reagir ou responder, pois estava tentando não cair da cadeira ou não perder a minha pasta que estava sobre as minhas pernas. Aos trancos e barrancos chegamos ao outro lado enquanto o meu amigo se dirigiu para onde eu havia estado. Logo, os dois bondosos proativos soltaram a minha cadeira e um deles perguntou:
– Tudo certo? Tá beleza?
Olhavam com a cara de quem pede um “muito obrigado”, porque afinal haviam feito a boa ação do dia.
Respondi:
– Comigo tá tudo bem, o único problema é que eu não queria cruzar a rua…
O queixo de um e do outro quase que caiu. Entreolharam-se sem saber o que dizer. Comentei que estava tudo bem, mas que de uma próxima vez, antes da ação, deveriam eles saber se o outro quer ser ajudado e como fazer para ajudar.
O mundo organizacional pressiona-nos para que sejamos proativos e que tenhamos iniciativa nas diferentes esferas das nossas vidas, seja ela pessoal ou profissional. Queiramos ou não dificilmente consegue-se separar uma da outra. Entenda-se proatividade como a característica de quem identifica e consegue antever as situações antes que sejam um problema, desenvolvendo uma diligente e de presteza. Desse modo, as pessoas que exibam um comportamento proativo vão ter espaço nas empresas ou nas organizações que compõem a nossa forma de sociedade. Isso se reflete no comportamento do cidadão comum. Porém, há que se destacar a importância de saber dirigir a proatividade com a constante iniciativa com o respeito ao objeto da ação. Portanto, a proatividade também tem a ver com entender e colocar-se no lugar de quem é o objeto da iniciativa. Indagar, consultar e planejar uma ação não o impede de continuar sendo proativo. Ao indagar sobre uma iniciativa você se aprofunda no conhecimento necessário para que o resultado seja o esperado. Ao consultar a parte envolvida o respeito ocupa o espaço devido em qualquer ação. E ao planejar uma ação que antecipa a resolução de um problema se consegue envolver outras pessoas na sua realização.
Por isso, antes de empurrar alguém para cruzar a rua procure saber se é isto que a pessoa deseja. A ajuda deve ser dada a quem quer ser ajudado. A antecipação da resolução de um problema deve contar com a aceitação de quem seria o seu objeto. Na área comercial, a venda ou locação de um produto ou serviço deve resolver algo que seja importante para o cliente. Por isso a pergunta: na tua organização vocês estão empurrando os clientes para onde vocês querem ou para onde eles pretendem ir? Se não for por escolha própria, para que cruzar a rua?
Moacir Rauber
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