Mauro Picini – Sociedade e Saúde 13/12/2023

Dezembro vermelho: AIDS e HIV: qual é a diferença e como é a vida dos soropositivos?

Dia 1 foi celebrado o Dia Mundial da Luta contra a AIDS, e o mês é dedicado ao cuidado, prevenção e acolhimento aos portadores

O Dezembro Vermelho simboliza a atenção ao HIV, uma sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana. Mais do que conscientizar, a campanha também tem o objetivo de acolher indivíduos soropositivos — termo utilizado para indicar que a pessoa é portadora do vírus. Segundo o Ministério da Saúde, a incidência de novos casos de HIV está cada vez maior entre os jovens de 20 a 34 anos, o que vem preocupando as autoridades de saúde.
“Para quem era adolescente ou adulto na década de 1980, isso pode parecer um flashback, pois nesse período o Brasil teve o primeiro caso de AIDS, seguido de um surto da doença. Naquela época, o assunto era visto de maneira extremamente preconceituosa e excludente,” afirma Dra. Karina Santos, médica do Time de Saúde da Sami, healthtech que tem um modelo focado em atenção primária à saúde, com time de saúde e cuidado coordenado. “Mais de 40 anos depois, no entanto, ainda encontramos muitos tabus e mitos sobre a AIDS e o HIV. Por isso, não somente agora, como em todos os outros dias do ano, é fundamental falar sobre a condição e levar informação de qualidade para mais e mais pessoas.”
HIV é o nome dado ao vírus que origina a AIDS, conhecido cientificamente como vírus da imunodeficiência humana. Esse vírus pode invadir o organismo através do contato com sangue ou fluídos de uma pessoa infectada. É dessa forma que o indivíduo começa a ser considerado soropositivo e, mesmo sem apresentar sintomas, pode infectar outros indivíduos. A AIDS, por sua vez, é conhecida como síndrome de imunodeficiência adquirida, diagnosticada quando o vírus HIV se multiplica no organismo e começa a destruir as células de defesa. A doença atinge o sistema imunológico, fazendo com que ele deixe de defender o corpo contra agentes invasores. Por isso, é comum que pessoas com a doença desenvolvam complicações graves a partir de enfermidades relativamente simples, como gripes e infecções urinárias.
“Quem é portador do vírus não necessariamente tem AIDS – pois o mesmo pode permanecer adormecido por anos sem manifestar a doença. Mas, para uma pessoa desenvolver AIDS, é preciso que ela tenha contraído o vírus do HIV,” explica a médica.

Formas de transmissão – Mesmo sem desenvolver a doença, quem tem o vírus HIV pode transmiti-lo para outras pessoas. Esse contágio pode ocorrer via transfusão de sangue contaminado; relações sexuais sem uso de preservativo, incluindo sexo vaginal, oral e anal. Isso faz com que a doença seja classificada com uma infecção sexualmente transmissível (IST); maternidade – quando a mãe é soropositiva, pode passar para o filho durante a gravidez, amamentação ou até mesmo no parto; compartilhamento de instrumentos perfurocortantes sem esterilização, como, por exemplo, alicates de unha, espátula ou seringas.
Existem pessoas que vivem anos com o vírus sem apresentar sintomas, mas isso não significa que o vírus esteja sendo eliminado do corpo. Pelo contrário. A doença se multiplica silenciosamente. Dessa forma, o funcionamento do sistema imune é afetado gradualmente, caminhando para o desenvolvimento da AIDS. Nesse estágio, é comum que a pessoa tenha episódios recorrentes de garganta inflamada, dor de cabeça, febre baixa, cansaço excessivo, ínguas inflamadas, diarreia e feridas na boca. Quando o quadro se agrava, evoluindo para um diagnóstico de AIDS, a pessoa pode apresentar: febre alta com frequência; dificuldade para respiração; feridas na região genital; manchas na pele; tosse constante; perda de peso.
“Quanto antes a detecção for feita, melhor. Isso porque na fase inicial é mais fácil de controlar o vírus, além de impedir a sua disseminação”, diz Karina.

Como se prevenir? – Uso de preservativo desde o início da relação sexual; profilaxia pós-exposição (PEP): uso de medicação antirretroviral após uma situação onde tenha risco de contato com o vírus, como, por exemplo: acidente com sangue infectado, escape ou rompimento do preservativo, relação sexual desprotegida ou caso de violência sexual. Nesses casos, o tratamento deve iniciar o mais precoce possível. Tem maior eficácia quando iniciado até 2 horas e no máximo até 72 horas após o contato e deve ser mantido por 28 dias. Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) se dá com o uso contínuo do medicamento por pessoas que não têm o vírus. É indicado para quem tem grande risco de se infectar. Prevenção da transmissão vertical: a testagem para o HIV está nos exames de pré-natal, pois o tratamento adequado previne que o bebê contraia o vírus. É necessário também que o bebê use medicação no primeiro mês de vida e, nesses casos, a amamentação é contra-indicada. A realização do teste também pode ser caracterizada como prevenção se pensarmos que, ao ser diagnosticada, a pessoa iniciará o tratamento. Todo o tratamento para o HIV, inclusive o PrEP e o PEP, é ofertado pelo SUS. A janela imunológica refere-se a, basicamente, o período entre o contato infeccioso com um soropositivo e o tempo que o corpo leva para produzir os anticorpos necessários para combater a infecção – a ponto de serem identificados no exame laboratorial.
“A janela imunológica do HIV é de 30 dias. Portanto, é preciso aguardar 30 dias após a situação de risco para o vírus ser detectado por meio do teste. A atenção ao prazo é essencial para evitar um resultado falso negativo,” comenta a médica da Sami. “Ainda não há uma maneira de eliminar totalmente o vírus do organismo. Contudo, atualmente, o acesso aos testes e medicamentos para controlar o HIV e tratar a AIDS possibilitam que o paciente tenha uma vida longa e saudável, mesmo com a condição”, finaliza Karina.

Sobre a Sami – Fundada em 2018, a Sami nasceu para democratizar o acesso à saúde de qualidade e vem revolucionando o setor. Por meio de um modelo que alia tecnologia à saúde coordenada via time de saúde, cria uma conexão sólida entre pacientes, médicos, hospitais e laboratórios. Com planos empresariais voltados para MEI’s e empresas de qualquer porte, a healthtech possui uma rede credenciada de referência, com hospitais como Beneficência Portuguesa e Oswaldo Cruz, e parceiros como Gympass e Cíngulo, para garantir a saúde física e mental dos membros. Tendo entre seus investidores os fundos DN Capital (UK), Redpoint eventures, Canary, Valor Capital Group, Mundi ventures e monashees, em 2020 recebeu o maior investimento Série A em saúde da história da América Latina. Com extensão desse round e, agora em 2023, com mais R$ 90 milhões em Série B, superou R$290 milhões captados.

Tratamento do HIV pode proporcionar vida normal aos pacientes

Gratuito pelo SUS ele evita que a doença evolua para a Aids. Especialista fala sobre o tema neste Dezembro Vermelho

Conhecer a sorologia positiva de forma precoce aumenta muito a expectativa e a qualidade de vida de uma pessoa que vive com o vírus HIV. O tratamento antirretroviral da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) é garantido para todos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo assim, de acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, divulgado pelo Ministério da Saúde em fevereiro, entre 2011 e 2021, o número de diagnósticos saltou 198%, passando de 13,7 mil para 40,9 mil.
Por outro lado, graças ao tratamento, os casos de Aids caíram 18,5% no mesmo período, passando de 43,2 mil novas notificações, em 2011, para 35,2 mil, em 2021. Isso acontece porque os medicamentos atuais conseguem controlar a infecção do HIV, impedindo a evolução para a sua forma grave, que é a aids. Por isso, nem todos que vivem com o HIV têm aids. Para seguir alertando a população sobre o tema, 1º de dezembro é o Dia Mundial de Combate à Aids, e o tema dá a cor vermelha ao mês.
A infectologista Juliana Barreto, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, detalha como é o tratamento para a doença. “Já que o HIV é um retrovírus, então o tratamento consiste em antirretrovirais, com medicações específicas. A pessoa que tem o diagnóstico de HIV, ela já inicia o tratamento com antirretroviral para tentar evitar que ela evolua com o caso de Aids. Então, o paciente hoje consegue, sim, levar uma vida normal se ele tiver adesão à terapia antirretroviral, que é conhecida como TARV”, explica.


A especialista ressalta ainda a diferença entre HIV e Aids. “A pessoa que vive com o HIV é portador do vírus. A Aids é a síndrome da imunodeficiência adquirida, que é o portador de HIV que já evoluiu com a doença oportunista, levando a uma taxa de defesa do corpo, que são os linfócitos CD4, a ficarem baixos, e a principal doença oportunista é a tuberculose. Então, é diferente ser um portador de HIV e a pessoa que tem a Aids”, salienta a médica. “Assim, se o paciente for portador do vírus HIV ele tem que aderir totalmente ao tratamento para não evoluir para Aids e ficar mais suscetível a contrair doenças, porque ela leva à baixa do sistema imune”, completa.

Relacionamentos – Hoje em dia, o portador de HIV pode se relacionar com outra pessoa tranquilamente. “Ele precisa falar com o parceiro que é portador de HIV para tomar todas as medidas. Ele tem que ter uma adesão total à terapia anti retroviral, para que dessa forma esteja com a carga viral zerada, isso é importantíssimo para que ele possa não transmitir e usar os métodos preventivos de barreira, como a camisinha. Isso é importantíssimo para que ele tenha um relacionamento normal com outra pessoa”, destaca Juliana Barreto.
Mulheres portadores do vírus também podem ter filhos sem transmitir para a criança. “Ela vai ter que sempre falar para o obstetra, é importantíssimo ter o acompanhamento pré-natal para poder já estar com a carga viral zerada para baixar muito o risco de transmissão para o feto. Além disso, no parto deve-se ter toda a questão clínica, de cuidados, um parto especial, por isso o obstetra tem que ter conhecimento”, orienta a infectologista.
Contudo, Juliana Barreto salienta que mesmo com toda a evolução do tratamento, é necessário seguir cuidados para evitar a evolução do HIV para a Aids. “É preciso acompanhamento médico especializado frequentemente, para que possa numa consulta, avaliar a carga viral, a taxa de defesa, o risco cardiológico. A gente já sabe hoje que o portador de HIV tem uma doença crônica, o vírus HIV aumenta o risco de doenças cardiovasculares, portanto, é necessário sim um acompanhamento especializado, para evitar a evolução da doença e para que você tenha uma vida normal”.

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