Desenhando e costurando sonhos: quando o agente transformador muda gerações

Quantas vidas podem ter novos destinos quando encontram os agentes transformadores – os ‘vendedores de sonhos’? Aqueles que ajudam a abrir portas, que apontam os caminhos para as oportunidades, que incentivam o percorrer do trajeto até a idealização dos desejos do coração. Quem já encontrou um ‘vendedor de sonhos’ teve a vida transformada.

Esses ‘vendedores de sonhos’ ajudam a reinventar vidas, a levar técnica para desenhar as metas, a promover inclusão social, a acolher a comunidade. A transformação que acontece de geração em geração consegue romper barreiras, dar oportunidades e mudar destinos. Os mais velhos ensinam os mais jovens, enquanto a juventude repassa as novidades da geração.

E são nesses encontros com os agentes transformadores que no rabiscar dos sonhos a vida é desenhada. Os traços, delicadamente, expressam a leveza da mão. Enquanto a neta separa os lápis para colorir a criação, a avó estuda o croqui para escolher o tecido que dará o caimento perfeito. Do papel em branco surge um belíssimo vestido; da máquina de costura sai uma peça exclusiva, única, como o conhecimento que transcende gerações e transforma vidas.

Na mente da estudante, Ana Laura Bremm Meyer, a ilustração já está pronta e prestes a ganhar forma. A firmeza do pulso – da adolescente de 15 anos – permite que o contorno seja impecável. O mais difícil é fazer o primeiro esboço, depois já é arte. No desenhar da vida, a folha em branco tem um novo sentido quando ganha cor, afinal, é preciso ter ousadia, entusiasmo, treino e conhecimento para transformar um pedaço de papel em arte.

Os primeiros rabiscos surgiram na infância. Foram nos fantásticos desenhos de criança que, aos poucos, Ana Laura teve a certeza de seu dom: desenhar. “Faz quatro anos que escolhi participar do Curso de Desenho do Sesc de Toledo. Eu adoro desenhar e quero usar todos esses conhecimentos como profissão no futuro”.

Sobre o futuro, a jovem sonhadora ainda não decidiu qual caminho irá trilhar. “Ainda estou em dúvida em relação a qual carreira seguir, mas acredito que será algo relacionado a design, pois adoro desenhar e criar. Sei que o Curso de Desenho pode colaborar com essa escolha, pois tem permitido que eu aprenda coisas novas, são conhecimentos que contribuem no processo de formação na área de design, ou seja, em uma profissão que pretendo seguir”.

DESENHANDO GERAÇÕES – O entrelace das gerações acontece quando os conhecimentos de Ana Laura vão além do papel; quando a avó, Iria Dhein Meyer, faz com que os desenhos ganhem formas em tecidos, em drapeados, em caimentos delicados. “Criei algumas peças para eu usar, além disso, também faço alguns croquis. Já desenhei um vestido e minha avó fez ele para minha formatura. Sempre que ela pode fazer algo que eu desenho é muito legal”, celebra a jovem com um brilho no olhar ao recordar esse fato.

Se hoje, Ana Laura é sedenta por conhecimento e busca ampliar as técnicas com os ensinamentos do Curso de Desenho do Sesc, a história da avó é de longa data. Dona Iria tinha apenas um ano de idade quando o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR foi implantado. Ela ainda não tinha noção de seus dons e aptidões. Ela não sabia que iria trilhar história na Unidade do Sesc de Toledo. Ela não sabia que iria ajudar a transformar vidas.

Em 1993, dona Iria passou a ser instrutora do Curso de Valorização Social – Corte e Costura no Sesc de Toledo e, entorno daquelas máquinas, ajudou a alinhavar sonhos e a costurar oportunidades. “Fui a segunda instrutora do Curso de Costura no Sesc de Toledo. Lembro do primeiro dia que entrei na sala e do olhar daquelas mulheres com o desejo de aprender, com o anseio em transformar tecidos em peças, em poder ofertar algo melhor para os filhos”.

CONTRUINDO MEMÓRIAS – Durante 18 anos, dona Iria deu aulas de costura no Sesc. Neste período, ela criou laços não apenas com a instituição, mas com as vidas que fizeram parte de sua história. “Vi mulheres que tiveram a vida transformada depois que aprenderam a costurar. Recentemente, recebi uma ligação: era uma ex-aluna do Curso de Costura do Sesc. Faz anos que ela foi para o Mato Grosso, abriu a própria loja e faz vestidos de festa. Ela ligou para contar como estava realizada e fez um pedido inusitado: se eu, com meus 76 anos, poderia ensinar a filha dela a costurar. Fiquei emocionada. Tive a certeza de que fiz as escolhas certas: em ensinar, em repassar conhecimento, em ajudar. Tudo isso faz parta de minha história e ainda permite que eu veja gerações e seus legados de sucesso”.

No desenrolar da vida, o ‘vendedor de sonhos’ transforma tecidos em legados – Foto: Janaí Vieira

A trajetória da costureira – hoje já aposentada – envolve diversas histórias que aconteceram naquela sala de costura. Ela lembra com carinho de um episódio familiar que marcou aquilo que era para ser mais um dia de aula. “Recebi a notícia de que seria avó de gêmeos quando estava na sala de costura. Meu filho estava na Unidade para participar de uma atividade, mas ele estava tão eufórico que, simplesmente, entrou na sala e contou a novidade, nem esperou chegarmos em casa”, recorda com alegria.

COSTURANDO SONHOS – Após contribuir com a comunidade, em seus 18 anos de atuação no Sesc de Toledo, atualmente, dona Iria usufrui. Ela não deixou de frequentar a Unidade, afinal, foram muitas histórias e diversas amizades. Todas as quintas, ela tem parada obrigatória no Sesc para participar do Grupo de Convivência Socializar a Vida.

Para ela, cada encontro do Grupo é uma forma de trocar experiências, de viver momentos de descontração e reviver a própria história. O grupo promove ações que incentivam o envelhecimento ativo, com qualidade de vida, socialização e independência. “Sou grata por tudo o que vivi. Tenho em meu coração o desejo de ainda fazer mais, ainda gosto de ensinar, ainda costuro. Já costurei roupas que minha neta desenhou e foi uma experiência única, vivenciar esse entrelace de gerações é sem dúvida uma dádiva”.

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO – Os laços com a Unidade transcendem as gerações, além de dona Iria e a neta Ana Laura, outros membros da família participam de atividades ofertadas em Toledo. Um dos filhos de dona Iria, o Édio Meyer, faz academia e a nora, a microempreendedora no ramo de Comércio e Confecção de Roupas de Cama, Clara Inês Bremm – mãe da Ana Laura – também faz academia na Unidade.

E entre tantas histórias que entrelaçam dona Iria, suas gerações e o Sesc também está a de sua nora Clara. “Minha história com o Sesc começou em meados de 2006, quando iniciei um curso de corte e costura. Esse curso, na época, era ministrado pela minha sogra, dona Iria. Participei apenas por alguns meses, depois não consegui continuar devido alguns fatores pessoais. Mas esse foi apenas o início de um ciclo de vivência”.

Para Clara, o Sesc tem acolhido a família diante da variedade de atividades e cursos ofertados. Ela relata que desde 2021 faz academia regularmente. Além de Ana Laura, seu filho, Rafael Meyer – de 7 anos – também participa das atividades do Sesc nas férias e, atualmente, ele faz Curso de Lógica de Programação e academia. “O Sesc tem passado de geração para geração em nossa família. Dessa forma, ele se torna parte de nós, pois na Unidade temos várias atividades de lazer, convivência e aprendizado, além das amizades que fizemos dentro do Sesc”.

33 DENTRO DOS 75 – Enquanto o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR celebra 75 anos como agente transformador, ‘vendendo sonhos’ e mudando gerações, a Unidade do Sesc Toledo comemora 33 anos de existência. Ela foi implantada no dia 15 de setembro de 1989. A história de dona Iria integra as milhares de outras histórias que, nestes quase 34 anos, envolvem vidas, envolvem oportunidades, envolvem sonhos, envolvem gerações.

“O Sesc de Toledo também consegue passar de ‘geração para geração’”, afirma o gerente executivo do Sesc Toledo, Fernando Rodrigo Henrique Turim. “Hoje, são realizados atividades que vão desde espaços abertos de lazer, onde compreendem a família inteira, iniciação esportiva, futuro integral, brincando nas férias e outras ações para crianças a partir dos 5 anos de idade, cursos de Computação, Robótica, Desenho, Inglês e academia, que compreendem idades de 9 à 16 anos, além de iniciação a corridas, pilates com aparelhos, consultas odontológicas, Curso de Corte e Costura para adultos e idosos, que também podem participar do Grupo de Convivência e Grupo de Memória. Passando por todas as idades, temos atividades que trazem as diversas gerações das famílias para nossas instalações”.

Para Turim, é primordial que o Sesc Toledo busque acompanhar as mudanças para manter o público e continuar transformando gerações. “A evolução tecnológica está acontecendo nas nossas unidades. Buscamos compreender quais são as demandas que nossos públicos têm apresentado nos últimos anos, visamos sempre atender com qualidade e sermos assertivos nas propostas para cada idade. Nessas mudanças de geração para geração o que não muda dentro do Sesc é o nosso atendimento de qualidade, pensando no bem-estar do comerciário e seus dependentes, buscando excelência nas experiências que proporcionamos em nossos serviços”, destaca o gerente executivo do Sesc Toledo.

Ana Laura, dona Iria, Clara e muitas outras gerações e histórias, diariamente, circulam no Sesc. Algumas já repassaram seus conhecimentos, já contribuíram com a comunidade; outras estão no processo de criação, fazendo parte da história e há aquelas que, ainda, estão nos esboços, no croquis, em busca da realização dos desejos, mas engajados naquele que ‘vende sonhos’, no agente transformador que tem mudado gerações.

De aluno para orientador: a oportunidade que transformou uma vida

No espelho o reflexo de uma geração transformada que deixará seu legado – Foto: Janaí Vieira

Se a dona Iria Dhein Meyer primeiro prestou serviços para, agora, usufruir, o caso do orientador de atividades GMF do Sesc Toledo, Márcio Antônio Hech Junior, é diferente. Junior é da geração que aprendeu com o Sesc e, agora, já formado, tem a oportunidade de repassar seu conhecimento, de contribuir com a comunidade, de vestir a camisa do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR.

Quando ele tinha apenas 3 anos de idade participou da recreação infantil que existia no Sesc Toledo. Era apenas o início de uma relação longa e contínua que uma criança não poderia imaginar. Afinal, colaboradores que, na época orientavam Junior, hoje, são seus colegas de trabalho.

“O Sesc ocupa um lugar, verdadeiramente, especial em minha jornada de vida e representa uma trajetória rica em experiências, aprendizado e conexões profundas. Desde a minha infância, o Sesc foi um refúgio de descobertas e alegria, onde participei de atividades que moldaram minha perspectiva de mundo e meu amor pelo desenvolvimento pessoal, atividade física e saúde”, reforça.

Com todos os deleites que a nostalgia pode causar, o orientador recorda as vezes em que, como uma criança cheia de energia, ele mergulhava de cabeça nas atividades oferecidas pelo Sesc. Junior lembra com carinho que a Unidade era um lugar de brincadeiras, aventuras e novas amizades, onde aprendeu a importância do trabalho em equipe e da criatividade.

“As experiências iniciais deram uma base sólida para minha relação contínua com o Sesc. Com o passar dos anos, meu vínculo cresceu ainda mais. Tive a incrível oportunidade de ser estagiário de Educação Física dentro de suas instalações, onde testemunhei o comprometimento e a paixão da equipe em fornecer experiências enriquecedoras para todos os envolvidos”, conta o orientador. “Essa experiência como estagiário não apenas aprimorou minhas habilidades profissionais, mas também me conectou com os valores de serviço à comunidade e empatia”.

CONECTADO COM O SONHO – Junior destaca que sua conexão com o Sesc vai além das próprias experiências. “Desde minha avó (familiar que está em nossos corações, in memoriam) que participava com dedicação do Grupo de Convivência liderado pela adorável Georgett Zancanaro – nossa técnica de Atividades – até minha mãe, que ainda desfruta das atividades oferecidas aqui. A Unidade se tornou uma tradição familiar de saúde e felicidade. Em essência, o Sesc é um lugar que transcende sua função como uma simples instituição. Ele é um espaço de memórias, relações e oportunidades. Representa um constante crescimento e uma evolução pessoal e comunitária. O Sesc é um farol de aprendizado, inclusão e conexão, que ilumina e enriquece nossas vidas de maneiras que palavras, dificilmente, podem capturar completamente”, destaca aquele que um dia foi aluno, mas, hoje, é orientador do Sesc e trabalha para deixar seu legado.

Textos por

Janaí Meotti Vieira

Da Redação

TOLEDO

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