Desperdício de alimentos: impacto no bolso, na natureza e no estomago de quem tem fome

Administrar a produção, prever o consumo e capacitar a equipe de trabalho envolvem os desafios do ramo da gastronomia quando o assunto é evitar sobras e desperdício de alimentos. O problema não envolve apenas a rentabilidade, mas questões amplas como a insegurança alimentar.

Sempre que acontece o desperdício – seja do alimento que foi mal manipulado, ou da sobra que já não serve para consumo humano – é o ato de ‘jogar comida fora’. Para a produção de cada prato são utilizados recursos naturais, alimentos, mão de obra, insumos e tudo vai para a lata de lixo se não for consumido.

O proprietário da Fábrica do Pão, Luiz Eduardo Guaraná – que atua no ramo de panificação e restaurante (almoço) – pontua que o ramo que trabalha com alimentos perecíveis precisa ter cuidados e atenção. “Os alimentos perecíveis tem curta validade, diante disso, quem atua nesse segmento precisa ter feeling, saber das condições climáticas: se vai chover, se vai dar sol, se vai estar frio ou calor, se é feriado, que dia da semana, são diversos pontos que precisam ser observados”.

OBSERVAÇÃO E PRODUÇÃO – Guaraná destaca que com base na observação e histórico de movimento é pautada a produção diária. Ele explica que mesmo com avaliação e programação ainda existem dias que os erros acontecem e as sobras são inevitáveis.

“O que não é consumido no dia, seja no local ou levado para a residência, não vai ficar para o dia seguinte. Essas sobras têm destinação animal, não descartamos no lixo orgânico. São alimentos que não estão estragados, apenas passaram da validade e não possuem a qualidade para ser servido”, acrescenta.

O PREJUÍZO DAS SOBRAS – O que deixa de ser consumo deixa de ser capitalizado, ou seja, virou prejuízo, pois a matéria-prima, a mão de obra o insumo, o recurso natural foram utilizados, mas não resultaram em lucratividade. “O impacto econômico gerado pelo desperdício tem que ser medido”, alerta Guaraná. “Esse impacto não pode passar de 3%. Se ele passar dos 3% a pessoa está administrando pior que a média. É preciso mensurar o desperdício e as sobras e não deixar de ultrapassar esse percentual da produção, pois deixa de capitalizar”.

Guaraná declara que além das sobras acontece o desperdício de formas variadas como a má manipulação do alimento, por exemplo, quando queima, quando passa do ponto, quando acontece um corte incorreto, uma apresentação que não fica atrativa. Ele reforça que o primeiro contato do cliente com o alimento é visual, se o produto estiver bonito fica mais chamativo para o consumo e o objetivo é a produção que atraia aos olhos e contemple o paladar.

OS DESAFIOS EM EVITAR O DESPERDÍCIO – Para Guaraná, os desafios em relação ao combate do desperdício e da sobra é investir na capacitação da equipe de trabalho. Ele destaca que profissionais habilitados atuam com mais precisão, de maneira assertiva no manejo, no preparo, na apresentação e na produção, pois o prato, o produto feito com carinho, com cuidado e com requinte tem resultado a venda.

“Como tudo na gestão de uma empresa, uma das coisas mais importantes é a administração da equipe. É ela que executa, que faz o trabalho operacional. Pode ser o maior chefe do mundo, mas se não tiver bons ajudantes não terá a mesma produtividade. A gestão é um dos maiores segredos, dentro de sua capacidade e inteligência, transmitir, fazer com que pensem da mesma forma cheguem a um resultado final de sobra/desperdício dentro de uma normalidade que não atrapalhe o resultado da empresa”. Conclui.

Como comer bem sem desperdiçar alimentos?

A educação alimentar também envolve conceitos de evitar o desperdício – Foto: Janaí Vieira

Desperdiçar alimentos é jogar no lixo muito mais do que dinheiro. Na preparação de um produto é usado recursos naturais, como água, insumo, como gás de cozinha, matéria-prima, mão de obra, entre outros. Além disso, é jogar fora o que pode fazer falta na mesa de outra pessoa.

“O ato de evitar o desperdício de alimentos deve começar dentro de casa”, destaca a nutricionista Deise Baldo. “Os conceitos de sustentabilidade, economia inteligente, conscientização ambiental são ações que devem ser trabalhadas no seio familiar, quando acontece dentro da residência é algo que acaba sendo aplicado em todos os ambientes”.

A profissional pontua que evitar ou tentar reduzir o desperdício dos alimentos no cotidiano envolve conscientização. Ela cita que uma conduta alimentar adequada faz com que o ato de consumo correto acontece de maneira natural e sem esforços.

“Quando adotamos uma alimentação balanceada, dificilmente, iremos colocar no prato além daquilo que iremos consumir e isso é evitar o desperdício. É ter a certeza de que não ficarão sobras no prato que irão para na lixeira. Essa conduta deve acontecer em casa nas refeições diárias, no restaurante, no almoço de domingo na casa de um amigo ou familiar”, declara.

CONDUTA PARA EVITAR O DESPERDÍCIO – Deise cita que o ato de evitar o desperdício inicia nas compras dos alimentos. Ela pontua que fazer uma lista dos itens que precisam ser adquiridos ajuda a economizar dinheiro, além de otimizar o tempo.

“A lista é a base para evitar a compra de itens que já temos em casa e correr o risco de um deles vir a perder a validade. É preciso ainda mais atenção em relação aos alimentos perecíveis de curta data como as frutas, os legumes, as verdura, as carnes, os produtos de panificações, entre outros, para evitar que antes do consumo eles venham a estragar”, comenta ao enfatizar que isso faz parte da organização do cardápio.

UTILIZAÇAO COMPLETA DOS ALIMENTOS – Outro ponto discutido por Deise é a versatilidade e a criatividade das pessoas em relação a utilização dos alimentos. Ela salienta que o desperdício envolve não deixar de utilizar cascas, talos, folhas e os famosos ‘restinhos’. “Vai comer uma maçã? Como com a casca. Sobrou frango no almoço? Faça uma torta ou um sanduíche natural no jantar. Seja criativo para evitar sobras e desperdícios. Não tem como reaproveitar? Utilize como adubo. Os alimentos são o sustento do nosso corpo. Precisamos saber consumir e como consumir”, orienta a nutricionista.

‘Fraternidade e Fome’ é o tema da Campanha da Fraternidade 2023

O desperdício de alimentos e as sobras que não server para consumo podem desencadear problemas que envolvem o meio ambiente e a insegurança alimentar. A falta de alimentos nutritivos e a fome ainda é uma realidade no mundo. Com foco em promover discussões e conscientização a Campanha da Fraternidade 2023 aborda o tema “Fraternidade e Fome”.

É a terceira vez que a Igreja trata esse assunto, ao longo destes 60 anos de realizações das campanhas, contudo, com abordagens diferentes. O lema da Campanha foi inspirado no Evangelho de Mateus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). “A comunhão com Deus implica na comunhão com o próximo não tem como viver a quaresma sem s solidariedade. No imperativo categórico da ordem de Jesus Cristo para a toda a vida dos cristãos de mudar a lógica do sentimento do acúmulo mundano para a lógica da partilha e da fraternidade”, destaca o vigário-geral da Diocese de Toledo, padre Hélio José Bamberg. “A história dos cinco pães e dois peixes mostram o impossível na lógica do mundo, mas na lógica de Cristo surge o novo”.

Bamberg pontua que na partilha – segundo o papa Francisco – é necessário estreitar a relação das santa missa com o compromisso social. “Para que a missa aconteça na vida real o que ela significa na fé, na celebração, é necessário e só se torna possível pela partilha concreta. A Igreja assume sua missão fiel a amar a Deus e ao próximo e a Campanha da Fraternidade não se trata de discutir números, ideologias ou teorizar o ‘não fazer nada’, mas trata de ver o irmão sofredor e amá-lo”.

EXISTE FOME –  A coordenadora diocesana da Pastoral do Auxílio Fraterno, Maria Inês Mânica, salienta que sempre que se fala de fome também se fala de vida. “Se estamos comprometidos com a caminhada de Jesus onde estamos para as questões da fome? Cada local com sua realidade, mas há fome nos desempregados, nos trabalhadores, pois o salário não é insuficiente e isso os coloca em situação de insegurança alimentar”.

Maria Inês destaca os 30 anos de trabalhos da Pastoral do Auxílio Fraterno no decanato de Toledo e reforça a importância de discutir o tema ao apontas números: em 2022, a Pastoral do Auxílio Fraterno atendeu 4.890 famílias, foram entregues 13.182 cestas básicas, 2.998 visitas domiciliares e 1.778 atendimentos com acolhimento e escuta. “Que possamos aceitar o chamado de Jesus e participarmos”, finaliza.

Da Redação

TOLEDO

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