Detona, Ralfi! Ralfi Ansaloni: o pivô com cara de bravo que tem um coração gigante

Na semana pós-Jogo das Estrelas, um personagem chamou a atenção nas vitórias do São Paulo sobre o Caxias do Sul Basquete e o União Corinthians no ginásio do Morumbi. Nas ocasiões, emplacou dois duplo-duplos seguidos, com 39 pontos e 21 rebotes somados, e ajudou ao São Paulo a garantir vaga nos playoffs do NBB CAIXA 2023/2024. Um cara grande, de 2,08m, 36 anos, que bota medo nos garrafões rivais, mas que não mede esforços para ajudar outra personagem, a dona Morgana, a ser protagonista e vencer “bugs” que aparecem no jogo da vida. Esse é Ralfi Ansaloni, o mineiro de Belo Horizonte, que detona dentro e fora das quadras.

Diferentemente do personagem da animação da Walt Disney, em que Ralph está cansado de ser desprezado no seu próprio jogo de fliperama e, para ganhar a atenção do herói Felix e todos os outros personagens, sai em busca de uma medalha para mostrar o seu valor, o Ralfi do São Paulo já provou seu valor como atleta, dentro do jogo de basquete, com mais de 3000 pontos e 2000 rebotes no NBB CAIXA, e também como ídolo para a torcida Tricolor ao chegar às finais da temporada passada do NBB CAIXA.

Ansaloni também já conquistou sua medalha como filho e provou seu valor na história, que aí sim se assemelha ao personagem do filme de 2012, quando ajuda uma outra personagem a resgatar sua autoestima, sua força de lutar e sua garra para vencer adversidades que a vida lhe impõe. O Ralph dos cinemas ajuda Vanellope contra o Rei Doce a vencer uma corrida e redescobrir que ela é a real protagonista do jogo de videogame.

Já Ansaloni ajudou a mãe, Dona Morgana Rosemeire da Silva, a quem é muito ligado, em momentos críticos para ela pudesse vencer outras questões da vida. Quando era criança, Ralfi ia com ela na porta do estádio do Mineirão ajudar nas vendas de cachorro-quente. Precisou voltar para Belo Horizonte para ajudá-la novamente com um problema de saúde, durante essa mesma época de final de temporada regular e começo dos playoffs do ano passado. Foi um momento de fortalecer os dois para que cada um voltasse ao seu jogo pronto para desempenhar seu papel da melhor forma possível. Um dos momentos mais marcantes e inesquecíveis da história do NBB CAIXA é a vibração de Ansaloni detonando dentro do ginásio e sua mãe, já recuperada, o abraçando e vibrando junto por ver o filho nas finais da temporada 2023/24.

Trajetória com escala em Portugal

Até chegar ao São Paulo, Ansaloni traçou uma trajetória que partiu do Esporte Clube Ginástico. Contudo, o começo de Ansaloni não foi diretamente no basquete. Sua iniciação no esporte tem uma origem comum a muitos garotos:

“Eu já era muito ligado em esportes, sempre gostei muito de futebol. Por eu ser muito alto desde jovem, já tinha dois metros com 13 anos de idade, comecei a jogar logo com 15, não conhecia tão bem o basquete, mas fui me ligando, minha mãe me levou para o Ginástico, comecei a gostar do esporte, não à toa que jogo até hoje. Onde comecei me deram toda a base e estrutura, fiz grandes amizades que mantenho até hoje e vou levar para vida inteira. Para mim, é o que mais vale na vida esportiva. Sou muito grato de fazer parte de um esporte tão grandioso como é o basquete. E pretendo ainda continuar jogando por mais um tempo”, explicou o pivô do São Paulo, que faz questão de ressaltar que é um sonho realizado ao ver toda a trajetória que já percorreu. É tipo aquele personagem do jogo que ganha mais habilidades e melhora suas armaduras com o passar do tempo.

Tanto que, em 14 temporadas que disputou no NBB CAIXA, a atual é a melhor em média de pontos por partida, com 12,8. Além disso, contribui com 6,6 rebotes e 1,1 assistência, mantendo uma média de 14,6 de eficiência.

“Eu ainda me sinto muito bem, de verdade, evoluindo taticamente. Fisicamente, a idade chega, mas, com o passar do tempo, vamos aprendendo muito, a evolução no tratamento para recuperação, ter mais descanso, melhorar o sono, alimentar-se bem, isso acaba ajudando muito. Quando somos jovens, às vezes, não temos essa noção, mas, com o passar da vida e da carreira, os profissionais dos clubes passaram as orientações, dão esse suporte e a gente vai aprendendo. Hoje consigo enxergar melhor essas questões. E o São Paulo dá toda estrutura e suporte para nós, tem tudo para o atleta se recuperar bem e chegar no próximo jogo sempre 100%”, comentou o atleta de 36 anos, que tem mostrado grande preparo para fazer a diferença em sua segunda temporada pelo Tricolor Paulista.

Sua trajetória no NBB CAIXA começou no segundo ano do campeonato, na temporada 2009/10, no Vila Velha Basquete, que depois virou Espírito Santo Basquete, time no qual guarda um de seus grandes momentos na carreira:

“Um momento legal foi em Vila Velha, que fiz a cesta de número 100.000, cem mil pontos do NBB CAIXA, no começo da década passada, foi bem legal isso na minha carreira”, afirmou Ansaloni, que permaneceu lá por duas temporadas antes de ir para a Liga Sorocabana de Basquete, clube no qual passou um ano antes de realizar um dos sonhos de sua vida, que era jogar no Minas, time da sua cidade no principal campeonato do país. Por lá, permaneceu por quatro temporadas, antes de passar por Pinheiros, Botafogo e Rio Claro.

Aí a carreira deu uma pausa dentro do país para uma experiência diferente, em outro continente, durante a pandemia. Ralfi foi jogar em Portugal, no time de Póvoa de Varzim. Sim, a oportunidade da vida de Ansaloni de entrar para o mercado europeu e tentar a vida longe de casa foi durante o período mais crítico da pior crise de saúde do século, com tudo fechado, inclusive os ginásios para o público.

“Não teve torcida, a presença de público estava restrita. Foi uma experiência diferente, muito boa, gostei muito. Queria ter ficado mais, mas não consegui por causa da pandemia, parou tudo, tive que voltar para o Brasil, porque Portugal fechou. De qualquer forma, foi muito importante na minha vida, agregou muito, foi um aprendizado muito bom de ter jogado lá no Póvoa de Varzim. Serviu de aprendizado e levar minha experiência para lá, poder ajudar o time. Foi muito importante, do jeito que as coisas estão, a gente também cresce vendo a molecada de hoje fazendo parte dos grandes times, jogando e chamando a responsabilidade”, disse.

Assim, o pivô regressou ao União Corinthians, foi campeão na Liga Ouro e garantiu o acesso ao NBB CAIXA para o time do Sul. Passou  por Fortaleza Basquete Cearense/CFO por uma temporada, antes de ser finalista do NBB CAIXA com o São Paulo em sua estreia no Tricolor, em 2022/23.

“Eu que peguei o começo do NBB CAIXA, joguei na segunda temporada. Vejo uma crescente muito grande. Meu primeiro ano de profissional foi o último antes do NBB CAIXA, agora está evoluindo cada vez mais, isso é muito importante para os jovens que estão chegando agora, todo o suporte que os clubes e o próprio NBB CAIXA estão dando. Hoje, vemos o NBB CAIXA com parceria com a NBA, com mais jovens e pessoas em geral assistindo e acompanhando. A tendência é só crescer mais, evoluir mais. Antigamente não tinha o Jogo das Estrelas, é algo fundamental, é um espetáculo à parte. Isso traduz a importância e a crescente do basquete”, ponderou Ansaloni sobre o quanto o NBB CAIXA evoluiu ao longo de sua trajetória como jogador profissional

Jogar no São Paulo

O São Paulo é um dos clubes que vieram do futebol com sua camisa e estrutura do clube social. Como ocorre com outros times de mesma origem, a torcida do São Paulo abraçou o basquete e é um dos públicos mais frequentes entre as instituições que levam o mesmo nome do futebol, com os cantos trazidos para as arquibancadas do ginásio. Ansaloni já viveu isso e é um dos mais queridos, principalmente entre o público mais jovem, que o aborda para pedir selfies após as partidas.

“Como falei antes, era um sonho e vontade de jogar em um clube tão grande como o São Paulo, já passei por outros clubes grandes também, mas a grandeza do São Paulo e eles terem abraçado o basquete dessa forma é muito gratificante para qualquer jogador. Tinha um sonho de jogar em um clube assim, de chegar no ginásio e estar lotado, torcendo por você. Sabemos que o esporte que predomina no Brasil é futebol, mas a torcida abraçou o basquete. Na temporada passada, não cabia mais uma pessoa aqui dentro. Estar superlotado o ginásio, nos motiva cada vez mais a continuar, a se entregar por esse clube. Querendo ou não, já faz parte da minha história, pelo o que já conquistei e tenho por conquistar ainda. Muito feliz de fazer parte de tudo isso, espero continuar muito mais tempo, fazendo história com esse clube, que está sendo bem grande também no basquete. Em tão pouco tempo, já conquistou tantas coisas. Pretendemos conquistar muito mais, dar muito mais alegrias ao torcedor e para nós mesmos”, lembrou o camisa 22 tricolor.

A temporada passada foi especial para o São Paulo, por ter chegado a sua segunda final de NBB CAIXA, ainda sem título, e foi muito especial para Ralfi, que ultrapassou a marca dos 3000 pontos e 2000 assistências na história da competição em seu primeiro ano com a camisa Tricolor. O gigante tem a exata noção das marcas alcançadas e o que significa isso:

“Representa muito, porque, de onde eu vim, como eu comecei a jogar e que eu cheguei a pensar em parar de jogar basquete pelas faltas de oportunidades, é uma grande vitória. Minha família sempre me motivou, não deixou eu desistir. Depois desse tempo ruim, eu falei: ‘vou até o final, vou jogar em um time grande, vou conseguir alcançar meus objetivos’. Consegui! Chegar nessas marcas é uma felicidade imensa. Ter lutado por isso, ninguém me deu isso, eu que busquei, eu alcancei isso. Lógico que tem a ajuda dos meus companheiros pelos times que passei, mas eu busquei, fui atrás e não desisti. Saí da periferia de Belo Horizonte e estou em um dos maiores clubes do Brasil e do mundo, já são mais de 400 jogos no NBB CAIXA e hoje a imagem de desistência, que já esteve na minha cabeça, não passa mais”, comentou o pivô, que cogitou seguir pela educação física, curso que não terminou pela dedicação ao basquete, e que já pensou em fazer administração no seu pós-carreira de atleta.

Ao final da temporada regular, Ralfi atingirá mais de 430 partidas no NBB CAIXA na carreira. A considerar playoffs que virão e permanecendo no São Paulo por mais duas temporadas, o pivô pode entrar o Clube dos 500, ao qual Shamell, uma lenda do NBB CAIXA que foi seu companheiro no Tricolor, já alcançou:

“Passa um filme na cabeça, ter passado por vários clubes no Brasil, ter uma passagem no exterior, querer continuar depois no Brasil, jogar em times grandes. É muito bom estar chegando próximo dos 500 jogos, de estar no meu país, espero conseguir mais essa marca. O Shamell estava aqui conosco na temporada passada, é um ídolo, jogar ao lado dele foi incrível para mim, de poder absorver um pouco de toda a experiência dele, de tudo o que eu o vi jogando. Estar ao lado dele foi fundamental para meu aprendizado”, revelou Ansaloni.

Outros gigantes que detonaram no caminho de Ansaloni

Já que Shamell foi citado, Ralfi Ansaloni tem muitas histórias com jogadores que tiveram seus nomes consagrados no passado do NBB CAIXA ou que fazem muito sucesso nos dias atuais pelo mundo afora:

“Cheguei a jogar contra o Marcelinho e outros caras da geração mais antiga, eu era mais novo, isso me motivou muito. Ver caras que eram ídolos, Varejão… Pouco tempo atrás, joguei contra ele também, na época estava no Botafogo, ele sempre foi um ídolo para mim, acompanhava ele pela televisão na NBA. De repente, consegui jogar um campeonato nacional contra um ídolo, foi muito marcante, inclusive tenho uma foto dele me marcando no NBB CAIXA, fiz um quadro disso. Foi muito legal, um dia estar olhando o cara jogando no melhor basquete do mundo, no outro o cara estava me marcando, isso foi demais para mim. Vi também Valtinho, Helinho, Marcelinho, ver esses caras jogando era demais. Agora estou acompanhando a nova geração vindo, é bem legal também”, disse Ralfi, exaltando grandes nomes da história do basquete nacional recente.

O pivô conta que jogou com o pai do Gui Santos, que está no Golden State Warriors, no Minas, no fim de sua carreira. Na época, Gui ainda era ainda garoto e Ansaloni o via correndo despretensiosamente pela quadra, apenas brincando com a bola. O jogador do São Paulo engrossa o coro da torcida por aqueles que vão desbravar outros lugares para levar o basquete brasileiro mais longe:

“O Yago, o Caboclo, que estavam aqui até pouco tempo, cheguei a treinar, mas não jogar juntos. É muito bom de pegar um pouco de experiência com esses jogadores. Torcemos muito por eles, para continuar evoluindo e crescendo. Isso só tem a acrescentar ao nosso basquete, torcer muito por eles na nossa Seleção também. Ficamos lisonjeados de ter jogadores brasileiros e vendo eles despontando é muito bom. Dá para ver que esses jogadores são diferenciados, vendo o nível dele (Caboclo) no treinamento, acompanhava nos jogos aqui no São Paulo, cheguei a jogar contra ele, estava no Fortaleza na época. Brincava com ele e falava: ‘É quase impossível te marcar’. Ele levava na boa, humilde do jeito que é, um cara fora da média, treinei pouco com ele, mas deu para pegar alguma coisa, algumas dicas, é muito legal ter esse aprendizado e essa troca”, revelou Ansaloni.

Dona Morgana sempre presente

Não dá para falar de Ansaloni sem falar de sua grande motivação para continuar desempenhando sua função no jogo. A dona Morgana é uma mãe coruja que para tudo o que está fazendo, ou pelo menos arranja um jeito, para acompanhar o filho em todos os momentos importantes da carreira.

“Ela é uma torcedora mais do que fanática, não perde um jogo, o que ela não assiste é porque não tinha transmissão, mas ela ficava acompanhando no site do NBB CAIXA. Aí ela ficava ainda mais nervosa, porque não sabia o que estava acontecendo direito. Mesmo quando está no trabalho, ela coloca o celular de lado para continuar acompanhando. Na época que joguei no Minas, ela não perdeu um jogo sequer, perdia o dia de trabalho, mas não perdia o jogo. Isso me motiva demais, ela é minha motivação diária, sem ela não estaria aqui, ela que me dá todo esse gás. Na reta final da temporada passada, ela veio para cá acompanhar todos os jogos das finais, deu muita sorte para nós, é meu amuleto e está sempre comigo”, comentou o pivô.

O susto com a mãe precisou mudar os planos de Ralfi, mas a sabedoria de dona Morgana colocou a cabeça do filho no lugar para fazer o que ele sabe de melhor: jogar basquete.

“Ela tinha passado por um problema de saúde pouco tempo antes das finais da temporada passada, tive que voltar para Belo Horizonte para acompanhá-la, mas ela mandou eu vir, treinar e focar no basquete, que ela ficaria bem. Com isso, ela me passou essa confiança. Eu queria ajudá-la, mas ela me garantiu que ficaria bem, então me motivou mais, me deu apoio para continuar, sabendo que estava chegando na reta final do campeonato. Tive um gás a mais para me dedicar. Quando se mexe com saúde, não é brincadeira, mas ela que me deu forças para seguir. Foi muito bom vê-la com a felicidade que estava, torcendo para nós na semifinal, depois que classificamos, ela realmente estava bem e curada, ajudou muito para jogar a final e o que joguei naquela final foi algo histórico para mim, para minha carreira e para ela também, foi incrível”, relembra o jogador com grande emoção de todo o turbilhão que viveu em uma época como essa, no ano de 2023.

Ansaloni faz cara de malvado para os adversários, mas é um gigante dócil para seus entes queridos:

“Às vezes, as pessoas não veem o extra-quadra, porque estamos ali com sorriso no rosto, dispostos todo o tempo, mas elas não sabem o que está acontecendo, como foi no caso da minha mãe. É muito difícil ter cabeça, pensando no jogo, mas sabendo que está com problema em casa, na família. A gente tenta deixar de lado algumas coisas e tenta focar em outra. Às vezes não conseguimos. Nem todo dia você está bem no seu trabalho, nem todos os dias vai estar sorrindo, tentamos deixar de lado e fazer o trabalho da melhor maneira possível. É o que eu prezo sempre: família. Estar bem com eles e quando eles estão bem, é o que me motiva, é o que traz meu sorriso para quadra, sempre feliz, sempre disposto, sempre comemorando. É o que eu gosto, sempre fui assim”, concluiu o herói da dona Morgana.

A história do personagem do desenho teve uma continuidade com “Wi-Fi Ralph: Quebrando a Internet”. A história de Ralfi tem a sua própria continuidade nos playoffs do NBB CAIXA 2023/24 e, se tudo caminhar conforme seu desejo e vontade, dentro do próprio São Paulo, vai atingir 500 jogos dentro do principal campeonato de basquete do país. Ele mesmo deixou o recado:

“Sempre costumo dizer, parece até clichê, para a molecada que está começando agora, que realmente é um momento difícil das carreiras para eles, mas que não devem desistir, têm que continuar lutando, pois a perseverança nos fortalece muito e nos leva a lugares incríveis, que a gente menos espera. Precisa continuar treinando e se dedicando, que o seu momento chega. Para a torcida do São Paulo, já conhecem meu trabalho, a dedicação não falta nunca, em nenhum momento, não vai faltar, vou continuar sendo esse cara guerreiro dentro de quadra para trazer mais títulos para esse clube, que merece demais”.

Se os planos se concretizarem, a torcida Tricolor vai ter ainda mais motivos para comparecer ao ginásio do Morumbi e gritar: “Detona, Ralfi!”

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.