Mulher: símbolo de garra, força e determinação

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A famosa frase ‘lugar de mulher é onde ela quiser’ é cada vez mais ampliada em seu sentido prático. Seja no mercado de trabalho, no meio social ou nas atividades da rotina, as mulheres estão ocupando espaços que antes eram predominantemente masculinos.

Contudo, ainda é preciso lidar com os desafios pela igualdade, mas passos importantes estão sendo dados, protagonizados por mulheres que não se intimidaram com os estereótipos. Guerreiras e batalhadoras elas buscam conhecimento, qualificação e o seu espaço onde possam desempenhar suas funções, exercer sua profissão e realizar seus sonhos.

A data de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é dedicada a celebração das mulheres que com sua força, garra, coração e sensibilidade constroem um mundo melhor para todos. Mas essa não é apenas uma data comemorativa, mas um símbolo da luta histórica das mulheres por direitos, equidade e respeito.

Nesta edição, o JORNAL DO OESTE vai contar três histórias de mulheres, que se destacam nas atividades que amam desempenhar e mostram a força do protagonismo feminino no ambiente de trabalho. Mulheres que enfrentam desafios, lutam por igualdade e constroem lindas histórias.

TRABALHO – Capacete, uniforme, prancheta e documentos fazem parte da rotina de trabalho da engenheira civil Priscila Aguayo Soares, de 32 anos. Ela realizada o trabalho de acompanhamento de qualidade e execução em obras. Hoje ela atua em um empreendimento de 21 blocos com 336 apartamentos. O canteiro de obras fica no bairro Pinheirinho, em Toledo.
Priscila entrou recentemente nesse trabalho, cerca de dois meses, e praticamente toda a sua rotina é em campo, vistoriando e acompanhando o andamento da obra. O empreendimento é construído em etapas e está na execução do 9º bloco.

Ela conta que o ambiente de trabalho é majoritariamente masculino, com a presença de mais duas mulheres, sendo uma também na área da engenharia civil e outra no setor administrativo. Além das demandas e responsabilidades do trabalho, ela cita que o maior desafio é o preconceito.

“É um ambiente muito masculino, cerca de 150 homens, e observo que ocorre resistência para ouvir uma voz de comando feminina. Porém, eu sempre executo o meu trabalho normalmente, respeito os profissionais. Lidamos com segurança e por isso é preciso seguir normas. Mas vejo que sempre há uma certa resistência”.

A engenheira conta que tem enfrentado esse preconceito quebrando o estereótipo de que mulher não pode atuar na construção civil. Aprender a lidar com temperamentos diversos também tem ajudado na convivência no ambiente de trabalho.

“Com o tempo vamos adquirindo experiência, colocando em prática os conhecimento e mostrando o nosso potencial. Também tenho aprendido a conviver com diferentes personalidades. A liderança não é fácil, mas também temos que entender que cada ser humano é único e que o respeito deve estar em todos os lugares”.

DESTAQUE – Priscila também já trabalhou em obras na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul e salienta que sente falta de profissionais mulheres na área da construção civil. “Ainda faltam oportunidades de trabalho para mulheres. Eu acho muito importante a presença de mulheres também nesse campo. A mulher tem capacidade de atuar em várias áreas e não é diferente na construção civil. Quando temos força de vontade podemos estar e atuar onde quisermos”.

A engenheira civil Priscila Aguayo Soares salienta a força da mulher e sua capacidade de conquistar novos espaços, de dialogar em diferentes ambientes e proporcionar crescimento em todas as esferas. “Todas nós podemos estar em todos os ambientes. Somos capazes e temos força para enfrentar as dificuldades e os desafios e crescermos profissionalmente”, conclui.

Priscila cita que a mulher tem capacidade de atuar em várias áreas, inclusive na construção civil.
Crédito: Arquivo pessoal
Priscila cita que a mulher tem capacidade de atuar em várias áreas, inclusive na construção civil. Crédito: Arquivo pessoal

Mulher passa a ser destaque em atuação no agronegócio

Engajadas e organizadas, as mulheres são a força motriz para a criação de ambientes mais dinâmicos e para o crescimento dos negócios – dentro e fora de seus lares. O Dia da Mulher reforça a importância das mulheres para o agronegócio. Elas são destaque em atuação e protagonismo, e ganham cada vez mais espaço e lugar de fala nas discussões das áreas que abrangem o agronegócio.

Com maestria, as mulheres do agro conhecem o solo por onde pisam e entendem que nem sempre tudo está sob controle, mas que novas safras e novos tempos vêm. E o agro só tem a ganhar com essa e outras qualidades inerentes às mulheres. Filha, esposa e mãe, Ladia Inês Kohler Kliemann, é a empresária do campo. Ladia nasceu e criou-se no campo. Filha de pais agricultores, a sua infância é marcada pela alegria das brincadeiras e pela responsabilidade em colaborar com o trabalho da família.

A equipe do JORNAL DO OESTE já contou a história de dona Ladia. A propriedade está localizada no distrito de Dez de Maio, no município de Toledo, na região Oeste do Paraná. Na época, Ladia desenvolvia a cadeia produtiva leiteira e o plantio de soja e milho. Os alimentos para o consumo familiar são cultivados e preparados na propriedade.

Atualmente, o novo empreendimento da família é a suinocultura. Ladia conta que há quatro anos e meio, recebeu um chamado diferente. “Eu queria algo a mais além da lavoura. Dialoguei com o meu esposo e a minha família e decidimos construir a granja de suínos. O único pedido do meu marido foi para dar andamento na parte burocrático do empreendimento e eu fiz. Eu fui atrás de tudo até conseguir o financiamento para construir o empreendimento”.

ZELO – Ser protagonista dessa conquista para família é importante para Ladia. “Nós enfrentamos desafios com a lavoura. Foram muitos intempéries devido a condição climática. Às vezes, nem o milho não dava para a silagem. Também optamos por não produzir mais leite, somente para a família. Por isso, decidimos transformar totalmente a nossa renda”.

A granja da família é integrada na Cooperativa Primato e é financiada. “A atividade deu um giro melhor em nossa economia. Às vezes, penso que poderia ter dado esse passo um pouco antes. Talvez agora era um momento. Não me arrependo nenhum momento. Às vezes, penso que poderia ter feito a granja maior”, afirma a produtora.

Ladia salienta que a sensação é que aumentou o compromisso na propriedade. “Nós já saímos pouco, agora sempre tem alguém. Até pelo próprio cuidado com os animais. Mas é gratificante”.

CONHECIMENTO – A empresária do agronegócio participa do Comitê Mulher do Sicredi há seis anos. Ela acompanha reuniões sobre cooperativismo, liderança e gestão financeira. “Também fiz um curso no Sicredi. Conversando com outras mulheres comecei a participar das atividades. Sou muito agradecida até hoje e incentivo amigas a seguirem esse caminho”.

Ladia também é associada do Sindicato Rural de Toledo e é coordenadora do Comitê Feminino da Primato. “A minha integração é pela Primato e há dois anos praticamente que eu estou na frente da coordenação do Comitê da Mulher Primato”.

Ela explica que os comitês servem para trazer mais mulheres para o agronegócio. “Também fazer com que elas participem das reuniões com os homens. Hoje, nós interagimos mais com os homens e também com as mulheres”.

EXPERIÊNCIA – Ladia pontua que muitas pessoas parabenizam suas escolhas. “O meu esposo e o meu filho são os responsáveis pelos cuidados com a lavoura. Eu faço toda a parte administrativa da suinocultura e eu sou grata por tudo isso. Acredito que toda a mulher deve ter em mente que tudo que você deseja fazer tem que focar e ir atrás”.

A produtora pondera que os sonhos precisam ser buscados. “Você tem que ir atrás. Se você tem um objetivo, você consegue conquista-lo. Nada vem de graça; nada caí do céu; tudo é batalhado”.

De acordo com a produtora rural, a mulher dá o seu toque em todas as atividades. “Nós somos pacientes e delicadas no trato. Muitos extensionistas comentam onde a mulher puxa a frente dos animais na granja parece que tudo flui melhor, até a própria organização”.

Ela cita o exemplo quando uma criança está doente, entre o pai e a mãe, quem que percebe primeiro? “Sempre a mãe. A mulher tem esse olhar com mais atenção. Quando um animalzinho não está bem, logo percebo algo diferente. Ele fica abatido ou com a orelhinha baixa, mas os meninos nem notam. Nós temos a sensibilidade mais aguçada”.

Ladia salienta que a mulher pode estar no local em que ela quiser. “Todo o trabalho é digno, mas eu penso que a gente tem busca aquilo que nos satisfaz. Eu sempre fui muito respeitada em meu trabalho. Na granja, sou muito bem atendida. Hoje a gente já consegue ter esse respeito por todos”.

A empresária do agronegócio sugere para aquelas mulheres que ainda não tiverem coragem de fazer ou que pensam em ter o seu próprio negócio tem que ir atrás. “Tem que ir em busca, tem que ‘correr’, tem que ter objetivo, pois nós mulheres conquistamos e vencemos tudo o que queremos”.

Legenda: Dona Ladia destaca o cuidado e o zelo da mulher em suas atividades.
Crédito: Arquivo Pessoal
Legenda: Dona Ladia destaca o cuidado e o zelo da mulher em suas atividades. Crédito: Arquivo Pessoal

Protagonismo feminino na produção cervejeira

Por séculos, as mulheres foram as principais responsáveis pela produção de cerveja artesanal, transformando-a em um alimento básico devido à presença de cereais e carboidratos. No entanto, com o tempo, a produção passou a ser dominada por homens, especialmente a partir do século XVI. Mesmo após centenas de anos, há aproximadamente uma década que esse cenário começou a mudar: cada vez mais mulheres retomam seu espaço no universo cervejeiro, unindo conhecimento, técnica e dedicação.

No oeste do Paraná, essa retomada também ganha força, mas ainda há um longo caminho a percorrer. A confraria Concerva Toledo reúne mais de 100 membros, mas conta com apenas quatro mulheres entre seus associados. Esse dado evidencia o desafio de ampliar a participação feminina no meio cervejeiro e a necessidade de incentivar mais mulheres a se envolverem, seja como empreendedoras ou apreciadoras da bebida.

Camila Montanhini começou produzindo cerveja caseira para consumo próprio junto ao marido e, com o tempo, se aprofundou no universo cervejeiro. Há oito anos, ela é sócia de uma empresa especializada na venda de insumos para a produção. Cris Louize Santos von Muhler, por sua vez, iniciou nesse meio ao ajudar o esposo, à medida que a demanda crescia na cervejaria do casal. Já Francieli Graeff Suniga trilhou o caminho acadêmico: formada e pós-graduada em engenharia de alimentos, começou a produzir cerveja na garagem da casa do pai, em Foz do Iguaçu. Desde 2020, ao lado da irmã, comanda uma cervejaria na terra das Cataratas. As histórias são diferentes, mas provam que a paixão pela cerveja artesanal pode se transformar em um negócio de sucesso.

Apesar desse avanço, o mercado cervejeiro ainda carrega desafios. “O setor ainda é predominantemente masculino, especialmente no interior. Infelizmente, há preconceito por parte de alguns profissionais em aceitar mulheres nesse universo. Por outro lado, também há poucas mulheres interessadas tanto na produção quanto no aprofundamento do conhecimento sobre cervejas”, pontua Camila.
O toque feminino no processo é destacado por Francieli: “Nós adoramos inovar, então sempre temos de uma a duas cervejas especiais na torneira de chope. Porém, acredito que os diferenciais na produção feminina sejam o metodismo e a higiene dos ambientes e manipuladores. Elas seguem as regras e conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo, isso é crucial na produção”.

Para aquelas que mergulham no processo, a recompensa vai além do negócio. Cris Louize destaca o quanto é gratificante ver o resultado de um trabalho feito com as próprias mãos e acrescenta que “as mulheres são capazes de exercer múltiplas tarefas, com o raciocínio ágil, capaz de equilibrar funções, utilizando de muita criatividade e um toque mais suave. Isso com certeza contribui para novas tendências no mercado de cerveja artesanal”.

Da Redação

TOLEDO

Legenda: Mulheres se destacam na produção de cerveja artesanal.
Crédito: Arquivo pessoal
Legenda: Mulheres se destacam na produção de cerveja artesanal. Crédito: Arquivo pessoal

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