Dia Mundial da Saúde Mental alerta sociedade sobre doenças

O mercado de trabalho exige. A escola e a universidade exigem. Até mesmo o convívio social exige. O mundo está ‘agitado’ e existe pressão em todos os espaços e ela afeta idosos, adultos, jovens e também as crianças. O Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado na terça-feira (10), é um alerta para que as pessoas possam parar e refletir afinal, a mente e o corpo precisam estar em sintonia.

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar onde a pessoa é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. Ou seja, gozar de saúde mental vai além de não apresentar alguma doença mental.

O médico psiquiatra, Ronan D’Ávila, pontua que a data foi criada em 1992 pela Federação Internacional de Saúde Mental com o intuito de psicoeducar, ou seja, ensinar mais sobre a importância dos cuidados voltados ao bem-estar emocional e quais são os sinais de alerta para adoecimento mental. O profissional pontua que a ideia é entender melhor e identificar os problemas mentais, pois falar sobre o assunto permite reduzir significativamente a resistência que as pessoas têm ao assunto e aos preconceitos bastante difundidos.

“O tema é muito relevante, por exemplo, as consultas realizadas por motivos de saúde mental representam em torno de 30% de todas as consultas realizadas na Atenção Básica de Saúde. Cada vez mais precisamos trabalhar na prevenção das doenças mentais e não apenas tratá-las quando elas já ocorreram”, alerta o médico.

A RESISTÊNCIA E A ACEITAÇÃO – Em relação aos tabus que envolvem a saúde mental, D’Ávila cita que existem diversos empecilhos que impendem as pessoas de reconhecerem e de buscarem ajuda. Um deles, citato pelo médico, envolve a questão cultural de que o homem é treinado para não manifestar queixas emocionais. Outro tabu seria se referir a tristeza normal como se fosse depressão, ou seja, o mesmo que confundir calor com febre.

“Algo comum é acreditar que o paciente deve controlar os seus sintomas e fora da psiquiatria que cuida do cérebro, por exemplo, sabemos que na cardiologia os pacientes são instigados a fazerem o seu coração trabalhar melhor, ou seja, eles tratam o coração. Talvez o maior tabu seja aquele relacionado à medicação, o medo de que a medicação cause dependência, o receio de iniciar tratamento e o julgamento social apontar uma ‘fraqueza’ moral, uma incapacidade de resolver a situação por si mesmo, o que sabemos que é falso”, destaca.

PANDEMIA COMO UM ‘DIVISOR DE ÁGUAS’ – Para o psiquiatra, a pandemia foi um ‘divisor de águas’ no que se refere à saúde mental. Ele afirma que a pandemia testou os serviços de saúde em todos os seus aspectos. Além disso, a doença ocasionou a perdas de vidas humanas e familiares enlutados que não puderam realizar adequadamente cerimônias de despedida, o sentimento de medo tomou conta das famílias.

“Esse ‘diviso de águas’ também trouxe o aspecto social e psicológico da pandemia, sabemos hoje que o vírus apresenta um efeito direto sobre o cérebro humano com consequente desorganização de processos  biológicos que desencadeiam problemas emocionais e comportamentais. A rigor não houve mudança na maneira de tratar os transtornos mentais, apesar do aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão após a pandemia o Brasil conta com praticamente a mesma estrutura no mesmo orçamento em tratamento de saúde mental segundo dados do Ministério da Saúde”, lamenta o profissional.

DOENÇAS, SÍNDROMES E TRANSTORNOS – D’Ávila comenta que segundo pesquisa recente o Brasil é considerado o país com o segunda maior prevalência de depressão no mundo e o primeiro em transtornos de ansiedade. “Transtornos mais importantes que atingem a população são os transtornos da ansiedade os transtornos de humor, incluindo depressão e transtorno bipolar, por exemplo, as dependências químicas, os transtornos alimentares e a insônia. Mas existem outros transtornos mais específicos também”, pontua o médico ao reforçar que o Dia Mundial da Saúde Mental é uma data para que todos reflitam e adotem atitudes de cuidado com a saúde.

Atendimento e tratamento não devem ser interrompidos por conta própria

A não realização do tratamento provoca piora e cronificação do quadro, ou seja, a doença se torna parte do paciente – Foto: Janaí Vieira

Um dos tabus que envolve a saúde mental é reconhecer a necessidade de buscar ajuda. Quando isso acontece o paciente pode integrar uma rede de apoio que envolve desde os atendimentos na área da psiquiatria, psicologia, além de outras vertentes que contribuem para a saúde e o bem-estar.

Segundo o médico psiquiatra, Ronan D’Ávila, entre os pontos que merecem atenção no tratamento é o uso de medicamentos. Ele explica que a partir do momento em que uma é doença diagnosticada com base em critérios objetivos e científicos o tratamento pode ser realizado com medicamentos psicoterapia ou associação de ambos.

“A não realização do tratamento provoca piora e cronificação do quadro, ou seja, a doença se torna parte do paciente, difícil de ser tratado, gera redução da produtividade e da renda, problemas familiares e sociais. O tratamento tem como objetivo devolver ao paciente todas as suas habilidades e sua boa funcionalidade global”.

CUIDAR DA MENTE – A saúde mental deve receber a mesma atenção que o corpo, ou seja, não pode ficar esquecida. O psiquiatra destaca que algumas pessoas são mais predispostas ao adoecimento mental do que outras, o fator genético é bastante importante nesse aspecto.

Segundo o médico, o meio ambiente pode exercer um fator protetor ou precipitador da doença. Ele cita como exemplo adotar bons hábitos com rotinas diárias que envolvem a prática de atividade física, boa alimentação, redução do uso de álcool, redução dos abusivos de café e reorganização do ambiente de trabalho podem exercer fator de proteção contra o adoecimento mental.

“Contra o estigma é preciso dizer que mente e corpo não são separáveis, ou seja a mente existe porque um cérebro está funcionando. Um paciente em coma não expressa sentimentos ou comportamentos, por exemplo. Aceitar que doenças como a síndrome do pânico ou transtorno obsessivo compulsivo são doenças tanto quanto diabetes ou hipertensão é fundamental para vencermos os preconceitos. Com a redução do preconceito as pessoas sentem-se mais à vontade para buscar a ajuda de que tanto precisam”, orienta o médico.

Saúde mental: procura ajuda é fundamental para ter qualidade de vida

Quadros de ansiedade, pânico, depressão, medo excessivo, desânimo, tristeza, desmotivação e sintomas físicos como taquicardia, sudorese, falta de ar, entre outros, interferem na qualidade de vida. A intensidade dos sintomas fazem com que muitos buscam ajuda, contudo, não são todos que reconhecem a necessidade em cuidar da saúde mental.

Buscar atendimentos especializados na área da saúde mental proporciona atravessar períodos difíceis de maneira assistida. Reconhecer que precisa de ajuda é uma maneira de evitar que determinadas situações tomem outras proporções. Aceitar ajuda é uma forma de lutar pela cura e ter mais qualidade de vida. Os profissionais da área de psicologia reforçam que a saúde mental precisa atenção.

Conforme a psicóloga, Thamirys Sayami Almeida Amano, a pandemia foi um ‘divisor de águas’. Ela cita que muitas pessoas começaram a dar a devida atenção e cuidado a saúde mental, passaram a observar, prestar mais atenção em relação aos próprios sentimentos e emoções.

“Com a pandemia, passei a receber com mais frequência demandas relacionadas ao sofrimento, angústia, ansiedade, medo, crise de pânico, tristeza e quadros de depressão que pioraram ao longo da pandemia”, aponta ao citar que a busca aumentou também em relação ao público mais jovem, como os adolescentes.

A procura por atendimentos na área da psicoterapia, segundo a profissional, tive aumentou nos últimos três anos. “As dúvidas que surgiram lá em 2020 desencadearam o agravamento de quadros de transtornos mentais que já eram conhecidos ou que existiam no seio familiar, mas que não eram expostos, ou estavam de alguma forma camuflados”.

RECONHER QUE PRECISA DE AJUDA – Thamirys destaca que no decorrer dos últimos anos foi possível apurar que em diversos casos as síndromes, os problemas, os sintomas já existiam, contudo, os pacientes lutavam sem contar com o aparato profissional. Dessa forma, a pandemia foi o ápice para que as pessoas voltassem também o olhar para a saúde mental.

“Ainda existe resistência de parte da sociedade. O país vive a crença cultural de que tudo o que é sentido ou pensado pode ser controlado pela própria mente, ou seja, o medo, a angústia, a depressão, podem ser ‘curados’ assim que o paciente disser que quer se curar, que quer se livrar disso”, declara.

A profissional salienta que as pessoas aceitam cuidar da saúde dos pulmões, do coração, dos olhos, do órgão que estiver precisando de atenção, de tratamento, de cura, porém quando o assunto envolve a mente é como se não tivesse a mesma necessidade. “Aceitar que precisa de ajuda é o primeiro passo para reverter esse quadro e dar a mente a atenção que ela merece”, conclui.

Da Redação

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