Direção: como a inteligência emocional ajuda a conhecer as emoções

Os veículos não têm sentimentos. Contudo, os condutores são pura emoção. O trânsito é composto por seres humanos que conduzem máquinas. Parece algo muito simples, porém envolve complexidade visto que o ideal é manter o equilíbrio, mas controlar as emoções vai além das condições humanas. Para ter inteligência emocional, Vanessa explica que existem técnicas.

“A inteligência emocional, é uma habilidade que pode ser adquirida com mudança de hábitos, autoconhecimento, autodisciplina, entre outros. Eu diria que estas três são as mais importantes”, explica a terapeuta e Recursos Humanos de um CFC, Vanessa Schumacher Lisowski. “Porque para saber agir implica em saber antecipadamente como eu individuo funciono. Em quais momentos eu sou mais vulnerável a estressar ou a sentir medo, ou entristecer, por exemplo”.

Vanessa exemplifica que se a pessoa se conhece e sabe como expressa suas emoções, é possível se antecipar aos acontecimentos. Ou seja, se ela sabe que sente medo de cruzar determinada preferencial, o condutos pode mudar de caminho ou escolher conscientemente treinar este trajeto. A partir disso poderá escolher o quanto de energia gasta em se estressar com outros motoristas, a perder paciência com quem não liga o pisca e até mesmo xingar o condutor que cruzou sua frente.

“Com isso, a pessoa pode também treinar o estado de presença, ou seja, o quanto presta atenção no trânsito como um todo, se está dirigindo automaticamente ou se sua mente está focada nos problemas do dia a dia. Esta é uma mudança de hábitos, não só de atitudes mais também de pensamentos e de organização. Exige autodisciplina constante”, enfatiza.

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NA DIREÇÃO –  Sobre como funciona o processo até atingir a inteligência emocional no trânsito, Vanessa esclarece que é necessário entender alguns conceitos básicos. Ela cita que a palavra inteligência significa a arte de saber fazer escolhas, dessa forma, ter inteligência emocional na direção é a habilidade que o motorista adquire em saber fazer escolhas seguras diante das suas emoções e das adversidades que se apresentam no trânsito. 

“Emoções são hormônios projetados em nossa corrente sanguínea após acontecer um fato que chamamos de gatilho. Por exemplo, uma pessoa sente o cheiro de uma comida que o pai fazia e esse pai morreu em um acidente de trânsito na rodovia, se este filho estiver dirigindo e sentir este cheiro em uma rodovia certamente irá lembrar do pai o que pode desencadear uma tristeza ou até medo. O medo pode paralisar ou pode acionar um sistema de fuga ou ainda de ataque. Esse filho pode ter reações inesperadas no volante. Porém se ele estiver consciente, em estado de presença, refletindo sobre o cheiro, o pai e a direção, ele pode antecipar o efeito destas emoções, tornando-as mais brandas e sem efeito de predominância. Então ele saberá agir, talvez com saudade mais não com um medo que o afete. Para isso é importante que ele se conheça e saiba que quando sente saudade do pai ele sente medo, aí precisa saber medo de que? De morrer como o pai? De não ter controle com o veículo? E quais são as reações que esse medo traz para o seu corpo? De paralisação talvez?”, indaga.

SAIR DO AUTOMÁTICO – Ter consciência dos sentimentos que memórias podem causar traz entendimento e, consequentemente, vai vir a autodisciplina de praticar, de refletir e executar a direção e as emoções conscientemente. “O que mais ouvimos referente a direção é de que as pessoas dirigem no automático e não fazem ideia do risco que é dirigir no automático quando o trânsito é dinâmico e composto por todos que transitam nele, incluindo pedestres, ciclistas, crianças saindo do colégio, animais etc.”.

Vanessa destaca que não dá mais para dirigir no automático. Ela reforça que é necessário uma direção com estado de presença integral. Os comandos de um veículo podem ser automatizados, mais somente eles. “Nossa mente – comprovadamente – não é multitarefas e consegue focar em uma coisa de cada vez, portanto, uso de celular e qualquer outro distrativo precisa ser utilizado com veículo desligado. Nada pode ser mais importante que a própria vida e a vida dos demais”.

TRUMAS NO TRÂNSITO – Segundo a terapeuta a inteligência emocional pode ser paliativa, quando envolve traumas. Neste caso o condutor precisa ser assistido por um profissional da área da saúde como psicólogo, terapeuta ou psiquiatra. Vanessa pontua que a inteligência emocional entra como paliativa, pois junto com o trabalho de um profissional da área da saúde o condutor pode criar a arte de saber lidar com as suas emoções e situações quotidianas e até mesmo as mais delicadas que causaram tal trauma.

“Para exemplificar, é possível usar o medo de dirigir, ou mais específico, medo de apagar o carro na subida, de tirar o carro da garagem, de bater ou não ter noção de espaço. Se o condutor sofreu um acidente em determinado local, provavelmente, ele terá dificuldade de passar por este local novamente, porque o gatilho ‘local’ será acionado. Quando o condutor se torna consciente de que o local é neutro, ele conversa e processa isso em seu interior, ele poderá fazer escolhas de como pensar e agir diante deste local e talvez precisa exercitar esse processo algumas vezes, mas o fato de tornar tudo consciente o torna capaz, e as emoções que eram ativadas com o gatilho ‘local’ perdem a força que tinham”, comenta ao enfatizar a importância de buscar a Inteligência emocional no trânsito.

NA DIREÇÃO –  Faz três anos que a publicitária, Nathália Paixão, tirou a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Para ela, apesar da cidade ser bem sinalizada, muitos motoristas acabam não seguem regras simples. “Sinto muita dificuldade em confiar na direção dos outros, uma vez que constantemente as pessoas na cidade furam o sinal, não dão seta, furam preferencial, esse tipo de atitude faz com que eu me sinta insegura em confiar nos outros motoristas. Percebo também que é muito mais comum observar infrações nos bairros do que nas grandes avenidas, locais que muitas vezes deveriam ser mais calmos se tornam os mais inseguros”, pontua.

Nathália relata que não costuma dirigir nas rodovias. Ela relata que a insegurança acontece devido ao elevado número de acidentes fatais. “Devido a isso, acabo criando um bloqueio na hora de dirigir em rodovia, sinto que não é um ambiente seguro por conta da grande quantidade de veículos de grande porte, imprudência de condutores (como ultrapassar em local proibido ou andar em alta velocidade).

Segundo Nathália, pontua que ela busca seguir corretamente todas as regras de trânsito, evita passar em locais de muito movimento que possam causar insegurança, entre outras condutas que lhe garante mais segurança. “Acredito que apesar da boa sinalização na cidade e das autoescolas locais serem rigorosas, o momento de tirar a CNH não prepara os motoristas para o dia a dia”, lamenta. “São diversas as situações em que os motoristas estão expostos, e fazer baliza, com certeza, é o menor dos problemas enfrentados no cotidiano do trânsito”, conclui.

Inteligência emocional na direção contribui para um trânsito mais pacífico

Para ter inteligência emocional existem técnicas – Foto: Janaí Vieira

A inteligência emocional contribui para que o trânsito seja mais seguro. Se o condutor está seguro é mais propício para encarar as situações cotidianos que envolvem o trânsito. Conhecer as emoções, os gatilhos e as reações que podem desencadear situações adversas é primordial quando o assunto é trânsito mais pacífico.

“Ensinar o indivíduo a conhecer suas emoções e a lidar com elas deveria ser obrigatório desde o ensino primário”, destaca a terapeuta e empresária do ramo de CFC, Vanessa Schumacher Lisowski. “Mas ele está restrito basicamente a adultos que buscam um tratamento terapêutico. Ou seja, uma minoria. A partir do momento em que o condutor busca compreender suas emoções e como elas funcionam em seu corpo, ele automaticamente será um condutor mais prudente, atento, empático e pode transmitir esses conhecimentos e habilidades para as pessoas próximas, tornando assim um trânsito mais pacífico.

Para ter inteligência emocional, Vanessa explica que existem técnicas. Ela cita que pode ser utilizado o desenvolvimento pessoal, do autoconhecimento, técnicas de relaxamento –  as quais permitem que a pessoa passe a treinar e focar em si mesma – pois, o trânsito começa exatamente no ‘eu individuo’, para depois passar para o ‘eu motorista’ e por fim o ‘eu coletivo’ que vai envolver o todo: veículos, pedestres, ciclistas e todo ambiente.

“A melhor técnica começa por tratar do eu individuo, com relaxamento e terapia, depois o eu motorista que pode precisar de ajuda de instrutor de trânsito e do eu coletivo onde trabalha-se a empatia e a segurança num geral. Imagine se ao invés da pessoa dirigir sob tensão, ela possa dirigir se conectando ao veículo, sentindo os seus comandos e o ambiente externo, onde sua atenção e foco estejam conectados e você tome consciência de que o veículo não tem força própria e nem se move fora dos seus comandos”, declara.

TOMADA DE DECISÃO – A profissional acrescenta que, a partir, desta tomada de consciência é possível trabalhar calmamente as questões do medo de dirigir. Ela salienta que, geralmente, o maior medo das pessoas – que ela já atendeu – é o medo de não saber o que fazer, de não se sentir parte do trânsito, com sentimentos de intromissão. Para isso, existem exercícios que visam a preparação do aluno para a prova prática ou, no caso de medo excessivo, no momento da aprendizagem.

“Um motorista consciente se torna um motorista preventivo, que consegue antecipar possíveis situações e faz uma leitura clara do ambiente. Vivemos numa era de egocentrismo e imediatismo onde muitos não conseguem discernir entre o certo e o errado, entre o que é meu dever e o seu dever. Sair do ego e praticar a coletividade com consciência das emoções pessoais e do outro irá afetar positivamente o trânsito e a vida das pessoas. Ter entendimento de que as emoções podem auxiliar na direção segura, de que elas podem ser administradas é com certeza um passo importante para um trânsito mais pacífico e seguro”, finaliza.

Da Redação

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