Morador de Toledo relata histórias de ajuda a desabrigados no Rio Grande do Sul

Esperança e otimismo são sentimentos mantidos pelos moradores do estado do Rio Grande do Sul. Eles permitem enfrentar de forma mais tranquila a realidade e colaboram para a busca por um futuro melhor. Um futuro ainda incerto para muitas famílias. O Rio Grande do Sul vive um momento desafiador no estado e a solidariedade com todos os afetados pelas fortes chuvas registradas é essencial.

Muitas pessoas estão sensibilizadas com as perdas e com as dores daquele povo. Todas estão mobilizadas, dando suporte e ao lado de quem realmente precisa de humanidade. São pessoas traumatizadas, em que o barulho da chuva traz nova angústia e preocupação. Elas ainda não conseguem ver no horizonte um final, já que as chuvas continuam, o frio chegou e os rios e as ruas estão cheios.

As doações precisam seguir e a ajuda presencial é importante. O administrador Paulo Henrique Eggers possui diversos amigos no Rio Grande do Sul e, inclusive, recebeu o convite para colaborar com quem foi atingido pela enchente. Após conversar com sua família, Paulo decidiu realizar essa viagem. Ele e o amigo Rodrigo saíram de Toledo com destino a Lajeado, um dos municípios atingidos pela enchente.

Eles saíram de Toledo no dia 13 de maio. A ideia era seguir até Passo Fundo, pois os amigos optaram por não viajar no período noturno. No dia seguinte, seguiram em direção a Lajeado, porém precisaram fazer um desvio e foram para Estrela. Neste município, ele e o amigo deixaram donativos para a Apae, pois as pessoas atingidas buscavam água, alimentos, materiais de limpeza e itens de vestuário neste local.

Segundo Paulo, destruição e muita lama faziam parte do caminho entre cada cidade. “Árvores enormes estavam no chão; outras tinham paletes em suas copas. Postes e muitos fios no chão. Postes quebrados e arrastados pela água”.

O administrador recorda que ouviu um morador de Estrela contar que mais de 100 residências foram destruídas em uma região daquele município. “Nós também presenciamos um barracão que suportou as fortes águas, porém ele acumulou um paredão de madeiras empilhadas. E, as residências que suportaram as chuvas ficaram inundadas com lama. Posso dizer que é um verdadeiro cenário de guerra”.

No dia 15 de maio, o destino de Paulo foi Cruzeiro do Sul. “Eles visitaram um bairro em que 500 residências foram destruídas. Parece um grande campo com uma carga elevada de entulho. Neste local, não tem o que fazer. Eu pensava em colaborar com a limpeza, mas não tinha nada a ser limpo”.

Em Cruzeiro do Sul, um senhor em frente da sua empresa, responsável por produzir artefatos de cimentos, observava a destruição. Ele contou para Paulo que chegou a atuar com 16 funcionários e não sabe como será o futuro. “Ele não sabia o que fazer, porque nasceu e se criou naquele local. Um fato é que não será mais permitido a reconstrução naquele local. As pessoas daquela região serão realocadas pra outros lugares”. Em Roca Sales, Paulo também viu a destruição quase que total de uma cidade.

ESPERANÇA

De acordo com Paulo, o cenário é de destruição, porém as comunidades estão bem organizadas e a esperança persiste. Ela faz parte do dia a dia daquele povo, que tem como objetivos a reconstrução e o reestabelecimento. “Elas organizaram mapas para auxiliar nos trabalhos. Também realizavam um cadastro das famílias, informando o que elas precisam e o que já levaram. Os ajudantes são divididos em grupos, que atuam na limpeza, separação de materiais ou para descarregar os caminhões com as cargas de roupas, alimentos, calçados, cobertores, água, entre outros. São pessoas do Paraná, Santa Catarina, Recife, Goiás, Brasília, São Paulo, enfim, o Brasil está ‘abraçando’ o Rio Grande do Sul”.

Neste momento, o principal pedido do Rio Grande do Sul é que os outros estados continuem enviando doações. Paulo explica que as entidades se organizam e começam a ‘estocar’ todo o material recebido (na medida e no máximo possível). “Como se fosse um trabalho de formiguinha para ter a comida no inverno. Os gaúchos acreditam que em um momento as doações diminuirão”.

O Rio Grande do Sul precisa de doações, mas também precisa de pessoas para limpeza, para a distribuição de alimentos, para a triagem dos materiais, para a reconstrução daquele estado. “Quem tiver a oportunidade de doar o seu tempo, o faça. Aquele povo não tem condição de reconstruir sozinho”, relata o administrador.

Já em Toledo, Paulo pontua que o sentimento é de que fez pouco diante da necessidade do Rio Grande do Sul. “Casas estão mergulhadas na água ou na lama. Geladeira pendurada em árvore, sofás em cima de casas. O nível de destruição é impressionante”.

VALORIZAÇÃO

Ele frisa que a população de Toledo continue com as doações e quem conseguir colaborar, que o faça. “No Rio Grande do Sul, as ações são cansativas, desgastantes fisicamente e até mentalmente. As pessoas estão carentes; elas querem conversar, querem um abraço”.

Paulo afirma que já tinha o hábito em realizar doações e, a partir o que presenciou no Rio Grande do Sul, considera a doação mais importante. Ele ainda lembra que quando as chuvas começaram no Rio Grande do Sul conversou com amigas de Lajeado e de Canoas. “Conversei com a de Canoas em uma quinta-feira e no sábado, ela contou que os dois veículos e a residência estavam debaixo da água. A família perdeu tudo e precisou ser resgatada de barco. Ela disse que não imaginava que seria tanta chuva e a água viria com tanta força”.

Paulo finaliza que a lição com o estado do Rio Grande do Sul é valorizar os bons momentos com a família e com os amigos. “O bem material é importante, mas ele pode ir embora em uma madrugada, em instantes. Importante é manter a vida. É preciso se doar e não somente doar algo; precisamos doar mais o nosso tempo e carinho, o que também é valioso para alguém”, conclui.

Da Redação

TOLEDO

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