Educação para o trânsito também é papel da escola
Previsto pela BNCC, ensino de regras de trânsito precisa ser feito de forma transversal e continuada
Todos os dias, no Brasil, 32 pessoas morrem em decorrência de acidentes de trânsito. No total, 2021 registrou 11,6 mil mortes no trânsito. Os dados são do Ministério da Infraestrutura e trazem um recado importante para cidadãos de todo o país: é preciso construir uma cultura de trânsito menos violenta e mais conscientizadora. Nesse processo, a participação das escolas é indispensável. A educação para o trânsito é uma exigência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas os resultados precisam de tempo para aparecer.
De acordo com a coordenadora nacional do Programa Educa, do Observatório Nacional de Segurança Viária, e chefe de Educação para o Trânsito do Detran em Alagoas, Edira Soares, não é possível formar cidadãos para o trânsito sem um programa continuado. “A educação para o trânsito deve ser um elemento que perpassa toda a vida escolar e introduz uma construção da compreensão de que a cidade não é feita para os veículos”, ressalta. Nesse sentido, os conteúdos de educação para o trânsito atualmente não aparecem como uma disciplina adicional no currículo escolar, mas estão inseridos em todas as áreas do conhecimento.
Todo esse trabalho começa já nos primeiros anos de escola, com crianças da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Para o supervisor pedagógico do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Rodrigo Leão, que atende a rede pública municipal de municípios de todo o país, a introdução do assunto precisa ser feita de modo a dialogar com a realidade vivida pelos estudantes em suas próprias comunidades. “O Brasil é um país muito diverso e, por isso, precisamos de um olhar para as muitas realidades encontradas em diferentes regiões. A criança só vai compreender a importância do tema se ele estiver diretamente relacionado àquilo que ela experimenta no seu dia a dia”, alerta.
Resultados não são imediatos
Ainda que o trabalho com as crianças seja realizado perfeitamente, o impacto da educação para o trânsito não é imediato. Como explica a chefe de Divisão da Escola Pública de Trânsito e do setor de Educação do Detran no Paraná, Fabiana Curi, “até pouco tempo atrás sequer tínhamos dados confiáveis sobre acidentes e mortes no trânsito. Agora, estamos aprendendo a agir de acordo com esses números. Com uma ação integrada entre educação, fiscalização e engenharia, acredito que teremos uma melhora em cinco ou dez anos”, revela.
Ela lembra que houve uma mudança na abordagem da educação para o trânsito. Antes voltada à legislação, ela agora fala mais diretamente sobre os riscos envolvidos na vivência do trânsito. “Hoje focamos mais em fazer com que as crianças percebam o perigo que elas correm no trânsito. Com isso, aquela sensação de que as regras existentes tiram delas algum direito se dissipa. E, assim, daqui a dez anos teremos uma sociedade que não fala mais que os radares são prejudiciais, por exemplo.”
Edira destaca, ainda, que a construção de uma cultura de trânsito menos violenta junto às crianças tem efeito multiplicador. “Ao levar isso para a escola, o aluno leva para casa e se torna um multiplicador junto aos pais. Essa é uma construção para que a sociedade mude a mentalidade.”
Segundo Leão, esse diálogo com a realidade é fundamental. “A criança precisa testemunhar boas atitudes dos adultos no trânsito. As ruas e estradas são espaços de convivência harmônica, e não espaços para uma disputa territorial. De que adiantaria uma forte ação educativa das escolas, executando seus projetos de educação para o trânsito durante todo o ano letivo, se um familiar desconstrói todo um trabalho em minutos ao estacionar em fila dupla ou na calçada?”, finaliza.
Edira Soares e Fabiana Curi são as convidadas do episódio 44 do podcast PodAprender, produzido pela Editora Aprende Brasil, cujo tema é “Como educar para o trânsito em sala de aula?”. Todos os episódios do PodAprender estão disponíveis gratuitamente no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br), nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos principais agregadores de podcasts disponíveis no Brasil.
Da Central Press