Em expansão: setor industrial é uma ‘porta de esperança’ para trabalhadores estrangeiros

É nas indústrias que os estrangeiros têm encontrado oportunidade de trabalho; o segmento gera renda e fomenta a economia

Versatilidade nos produtos, expansão no mercado, pilar da economia e força para crescer são atributos do setor industrial. Para fazer rodar a produção é preciso tecnologia, infraestrutura e material humano. A indústria gera empregabilidade, mas encontra dificuldades para preencher as vagas. Os gargalos das contratações envolvem qualificação e rotatividade, mas não impedem o segmento de ‘ultrapassar fronteiras’, inclusive, no quesito de contratação de estrangeiros.

O Oeste tem recebido trabalhadores de outros países. A busca por trabalho nessa região tem ocorrido há algum tempo. Aqueles que estão empregados, que formaram suas famílias, que agora vivem nessa terra, recebem os novos, ajudam no acolhimento, na comunicação, no recomeço.

O trabalhador estrangeiro tem encontrado a oportunidade dentro das indústrias. Dados dos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) apontam que em Toledo, no ano passado, foram contratados 603 homens e 426 mulheres de outras nacionalidades. A faixa etária predominante envolve os trabalhadores dos 30 aos 39 anos e a maioria contratada possui ensino médio completo.

“Com o número de vagas aberto e o espaço que temos para ser colocado no mercado de trabalho será necessário, cada vez mais, empregar as pessoas oriundas de outros locais não apenas do Brasil, mas de outros países para ocupar essas vagas”, cita o gerente da Agência do Trabalhador de Toledo, Rodrigo Cristiano Oliveira de Souza.

Essa procura do Oeste devido os índices de empregabilidade, segundo Souza, precisa receber atenção e contar com o envolvimento dos poderes públicos privados. “É preciso elaborar estratégias para incluir essas pessoas, pois não esbaramos apenas na língua, mas também na moradia, no custo dessa moradia, em como essa pessoa vai viver até ser inserida no mercado de trabalho, principalmente, nos casos em que ela está sem a documentação necessária”.

ESTAMOS CONTRATANDO – Do total de estrangeiros contratados, no ano passado, em Toledo, 749 foram empregados no segmento de produção de bens e serviços industriais. O número de admissões não é superior porque esbarra em alguns gargalos.

Um dos principais fatore que dificultam as contratações de mão de obra estrangeira é a falta de documentação. Souza salienta que isso impede a empresa de fazer o processo de contratação. Ele destaca que algumas tratativas – para melhorar e ampliar esse acesso – foram realizadas com a Polícia Federal, contudo, ainda não tiveram avanços nessa perspectiva.

“Várias situações envolvem o público em geral dos estrangeiros, muitos que vêm com documentação – mesmo com a dificuldade da língua – os frigoríficos têm aceitado essa mão de obra, pois possuem pessoas trabalhando nesses espaço há algum tempo e esse trabalhador – que fala português – ajuda na comunicação”, aponta o gerente da Agência do Trabalhador.

Fatores culturais também são levados em consideração nas análises que envolvem a rotatividade – fato que implica no não preenchimento efetivo das vagas. “Por exemplo, os venezuelanos e os bolivianos têm uma outra perspectiva do trabalho – comparados com os haitianos e africanos – o tempo de permanência é menor quando avaliamos as questões de rotatividade nas empresas”, analisa Souza.

A haitiana, Iscardely Nicolas, vive no Brasil faz cinco anos; encontrou no Oeste acolhimento e empregabilidade – Foto: Janaí Vieira

AS PORTAS ESTÃO ABERTAS, QUEM AJUDA A ENTRAR? – A porta da indústria está aberta, mas quem pode ajudar o trabalhador nesses primeiros passos em solos brasileiros? A união de esforços gera o acolhimento desse trabalhador estrangeiro. Toledo conta as ações da Embaixada Solidária, com a atuação da Agência do Trabalhador e as iniciativas do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD).

“O POD consegue auxiliar na contratação de mão de obra devido a ação direta com autoridades e empresas da região Oeste do Paraná”, explica o diretor executivo da Frimesa e o primeiro vice-presidente do POD, Elias José Zydek, ao enfatizar que com trabalho de estímulo é possível fomentar a ocupação efetiva desses postos de trabalhos existentes na região.

Zydek pontua que são realizadas ações intensivas do POD que envolve a empregabilidade. “Temos feito, até o momento, a promoção de encontros, abertura de canais de comunicação e relacionamento com as pessoas que chegam para trabalhar, sejam elas estrangeiras ou de outras regiões do país, temos promovido o Fórum de Integração, reunião de trabalho com o setor de Recursos Humanos das empresas e essas pessoas que, muitas vezes, vêm através das Agências do Trabalhadores”.

UMA PORTA ANTES DO EMPREGO – Para muitos estrangeiros, uma das primeiras portas que se abrem Toledo é a da Embaixada Solidária. A entidade foi fundada no ano de 2016 e atua no atendimento e acolhida dos refugiados recém-chegados no Oeste do Paraná.

“Seja haitiano, africano, senegalês, venezuelano, quando uma pessoa deixa seu país de origem de maneira repentina o que ele busca é uma oportunidade, é uma chance de viver e não apenas de sobreviver”, declara a fundadora da Embaixada Solidária, Edna Nunes.

A luta para sobreviver é o que acontece com muitos daqueles que chegam no país sem a documentação necessária. Edna lamenta que a demora nos processos impede que possam ser empregados assim que mudam para o Brasil e esse tempo de espera faz diferença na vida de cada um deles.

“Os processos podem demorar de 30 a 90 dias. É comum o RH das indústrias, das empresas ligarem na Embaixada para saberem se o candidato à vaga já está com a documentação completa, pois a vaga está lá esperando para ser preenchida”, declara Edna ao reforçar os processos burocráticos como um dos gargalos das contratações.

A Embaixada Solidária realiza um amplo trabalho que possibilita o acesso às políticas públicas e redes de apoio, além de promover a preservação cultural e dos direitos humanos. “A vinda dos imigrantes para o nosso país demonstra também que, além de sermos um povo receptivo, temos oportunidades, temos esperanças de recomeço e nosso mercado precisa de gente para trabalhar. Para que essa imigração seja a solução é preciso investir em políticas públicas de acolhimento no sentido de oportunizar moradia, educação, saúde. Nosso Oeste é pujante e isso reflete no campo de trabalho”, afirma Edna.

OESTE DO PARANÁ É O RECOMEÇO – A comunicação não é um problema para a haitiana, Iscardely Nicolas. Faz cinco anos que a jovem reside no Brasil. “Cheguei aqui com 14 anos. Viemos em busca de uma nova visa, de oportunidades, de recomeçar nesse país”.

Ao completar 18 anos, Iscardely vive uma nova fase de oportunidades; agora, de uma forma que permite almejar cada vez mais. “Faz quatro meses que estou empregada. É meu primeiro trabalho. Estou na linha de produção de uma indústria. Tem as dificuldades, os desafios, mas vejo as oportunidades. Acredito que é apenas o começo para quem deseja melhorar”.

O recomeço para o venezuelano, Josias Montoya Calcurina, também acontece no Oeste do Paraná. Dois meses após mudar para Toledo, Calcurina encontrou na indústria a oportunidade para recomeçar a vida. “Fui contratado no dia 9 de dezembro, fiquei muito feliz, pois estava na expectativa. Sou auxiliar de operador, é um começo para quem precisa dar o primeiro passo. Neste período que fiquei sem renda pude contar com o apoio da Embaixada Solidária. Aos poucos, a vida vai se ajeitando; já conseguimos (um colega e eu) alugarmos uma casinha. Agora, é trabalhar e procurar melhorar sempre!”, afirma o trabalhador ao enfatizar que a indústria é a ‘porta de esperança’ que ele procurava.

Janaí Meotti Vieira

Da Redação

TOLEDO

Estamos contratando! Do chão de fábrica à especialização, a indústria gera empregabilidade

O setor mantém uma crescente expansão e ocupa lugar significativo na geração de emprego – Foto: Janaí Vieira

De porta abertas! A Indústria paranaense, especialmente, a do Oeste do Estado está contratando. O setor mantém uma crescente expansão e ocupa lugar significativo na geração de emprego. O gargalo que impede esses índices de serem mais satisfatórios é a falta de mão de obra que vai desde a linha de produção até cargos de nível técnico.

Em Toledo, no ano passado – segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) – a Indústria contratou 8.943 trabalhadores, contudo, esse número não representa a quantia de postos de trabalhos disponíveis, ou seja, os cargos estão em aberto. Os dados confirmar: existem vagas!

“A indústria no ano passado cresceu 361 vagas mais que no ano anterior, gerou mais vagas que em 2021”, destaca o gerente da Agência do Trabalhador de Toledo, Rodrigo Cristiano Oliveira de Souza. “O setor, nos últimos anos, mesmo com a pandemia, tem sido um setor que se manteve independente da questão de saúde do mundo. Como um todo alimentação envolveu isso e manteve a economia ativa – nossa região se manteve estável justamente por essa questão da indústria que sempre teve várias vagas”.

No município, segundo Souza com base nos dados da Agência do Trabalhador, um dos setores que mais geram vagas é linha de produção, pois para fazer com que toda a cadeia funcione é preciso de mão de obra, de material humano, de gente.

Souza pontua que fatores – como a taxa de rotatividade dentro de uma indústria – tendem a impedir o preenchimento de todas as vagas. Ele cita que a rotatividade envolve questões como as condições e benefícios que as empresas oferecem. Além disso, outro ponta que aparece com frequência nas análises é a proximidade do local de trabalho.

PARA EXPANDIR É PRECISO MÃO DE OBRA – A expansão do setor acontece nos mais variados segmentos. A cada nova unidade, cada nova estação, cada nova filial, a indústria enfrenta a mesma preocupação: contratar material humano para fazer a cadeia funcionar.

A preparação de mão de obra é uma das preocupações do setor – Foto: Janaí Vieira

“Temos a falta de mão de obra especializada, de curso de nível técnico, de nível médio”, pontua o diretor executivo da Frimesa e o primeiro vice-presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), Elias José Zydek. “Também esbarramos nesse problema em relação aos profissionais no setor de eletromecânica, de computação, nas áreas tecnológicas. Temos pouca mão de obra preparada e apta para receber as funções na região”.

Uma das principais demandas que chega ao POD, conforme Zydek, é a necessidade de preencher o quadro funcional diante da expansão. As indústrias que inauguram novas unidades, novas filiais, esbarram nesse gargalo que é a contratação de material humano. Existe uma demanda de cargos que fica esperando candidatos.

“O POD tem atuado junto com escolas de trabalho como o Sistema Fiep, Senai, Sesi, Senac para que mais cursos de especialização sejam montados em nossa região”, comenta ao salientar que as escolas precisam preparar mais profissionais para exercerem as funções práticas e tecnológicas dentro das empresas. “Nós entendemos que é preciso, urgentemente, preparar essa mão de obra mais especializada e não é de nível superior, mas de nível técnico, intermediário que vai operar máquinas, vai operar sistemas. Faltam profissionais, mas existe a demanda, existem as vagas, existem as oportunidades”, conclui.

Janaí Meotti Vieira

Da Redação

TOLEDO

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.