Fórum Nacional discute oportunidades para o Trigo

Garantir a expansão da área de trigo no Brasil em consonância com as demandas de mercado foi o objetivo da programação do Fórum Nacional do Trigo, realizado em Brasília (DF). A abertura do evento contou com a presença do Ministro da Agricultura Marcos Montes.

O Fórum Nacional do Trigo apresentou três painéis: Cenários na produção de biocombustíveis; Cereais de inverno em mercados emergentes; e Expansão do trigo tropical. Durante a exposição de 16 palestrantes e moderadores foram apresentadas oportunidades para o uso do trigo no Brasil e no mercado internacional. Desde etanol amiláceo, forragem animal e alimentos funcionais capazes de equilibrar saúde e sustentabilidade nas diferentes etapas do complexo agroindustrial do trigo são algumas das alternativas capazes de suportar o aumento da produção do cereal no País, sem perder de vista a liquidez dos grãos.

Para o Chefe-Geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, a expansão do trigo precisa assegurar tanto a oferta de alimento de qualidade ao consumidor, quanto a rentabilidade do produtor: “O evento buscou apontar alternativas capazes de atender tanto os interesses do consumidor, quanto formas de incentivo para o produtor investir no trigo. Um equilíbrio na balança que vai trazer benefícios para todos os elos da cadeia do trigo”. Segundo ele, o objetivo geral do Fórum do Trigo foi aproximar pesquisa, setor produtivo, indústria, mercado e poder público para desencadear um movimento coletivo em direção ao crescimento da triticultura no Brasil.

Para o Presidente da Embrapa, Celso Moretti, o trigo brasileiro atravessa uma janela de oportunidades ancorada em 3Cs: Covid, Clima e Conflito. “A escassez de alimentos agravada pela pandemia, a necessidade cada vez maior de adaptar o trigo às mudanças climáticas, e a alta nas cotações em função da guerra são oportunidades para o Brasil crescer no cenário da triticultura mundial”, declarou Moretti durante a palestra sobre Tropicalização do Trigo. Ele destacou que a consolidação do trigo tropical é uma conquista coletiva, um movimento que ganha cada mais adesão dos diversos setor da sociedade e o reconhecimento da comunidade internacional.

“Tenho certeza que logo o Brasil vai alcançar a autossuficiência no trigo. É uma estrada que está sendo construída e a jornada está cada dia mais próxima do seu destino”, declarou o Ministro da Agricultura Marcos Montes. Ele destacou o orgulho que o setor agro tem do produtor brasileiro: “o grande propulsor do sucesso do agronegócio nacional”.

O reconhecimento à competência do triticultor brasileiro foi realizada em homenagem ao produtor Paulo Bonatto, de Cristalina, GO, recordista mundial de rendimento de trigo/dia. “Até pouco tempo, produzir trigo no Cerrado parecia impossível. Agora mostramos para o mundo que é possível bem e de forma ainda mais eficiente do que muitos países tradicionais no cultivo do trigo”, avalia Bonatto.

NICHOS PARA O TRIGO – Um dos temas que chamou a atenção no Fórum foi o painel sobre mercados emergentes, com a participação de representantes da indústria do trigo.

De acordo com o diretor da Moageira Irati, Marcelo Vosnika, o nicho está relacionado ao futuro, uma tendência que pode virar mercado. Ele apresentou diversas oportunidades para o trigo no mundo, como pratos, copos e canudos comestíveis; massas e biscoitos com mais fibras e maior durabilidade na prateleira; trigo como base para produtos na indústria de cosméticos, medicamentos e espessantes.

Contudo, segundo Vosnika, o grande nicho do momento é um produto saudável produzido de forma sustentável: “O selo de sustentabilidade em toda a cadeia do trigo tem sido nicho nos países desenvolvidos, mas a saudabilidade já é o segundo critério de compra do consumidor”. Um dos desafios do setor é manter o sabor dos alimentos sem perder a saudabilidade: “A principal reclamação do consumidor é o sabor desagradável dos produtos mais saudáveis. Precisamos equilibrar diversos fatores, desde preço, aparência, sabor e saudabilidade nos produtos de trigo para evoluir de nicho para realidade de mercado”, conclui o moageiro.

Outra oportunidade consolidada é a alimentação animal, que utiliza os cereais de inverno, especialmente na Região Sul, tanto como alimento conservado, quanto na formulação de rações. “Temos consumidores que podem pagar mais pelo alimento saudável e sustentável, mas também temos milhões de pessoas que precisam de alimento de qualidade a baixo custo. É preciso usar tecnologia para atender todas as oportunidades na geração de alimentos”, disse o diretor da JBS, José Antônio Ribas Junior.

Segundo o superintendente da Abitrigo, Eduardo Assêncio, o trigo vem logo após o arroz como principal fonte de calorias da população no mundo, contribuindo com 18% das necessidades da alimentação humana. “A indústria tem realizado diversas melhorias nos subprodutos a base de trigo, como a redução do teor de sal nos pães, ou a adição de ferro e ácido fólico na farinha de trigo, por exemplo. O controle de contaminantes também evoluiu muito ao longo dos anos”, conta Assêncio.

A evolução da tecnologia na produção de proteína animal também tem resultado na melhor qualidade dos alimentos que chegam ao consumidor, com cuidados que partem da lavoura, passam pela criação animal e são transformados na indústria com rígido controle em cada etapa do processo até o varejo.

BIOCOMBUSTÍVEIS – A principal fonte de produção de etanol no Brasil é a cana de açúcar com 89% de participação, seguido do milho com 11%. A participação dos cereais de inverno na produção de etanol poderia reduzir custos ao consumidor, especialmente na Região Sul, que depende do transporte do combustível levado das regiões sudeste e centro-oeste. De acordo com o superintendente da Conab, Allan Silveira dos Santos, nos últimos cinco anos, a produção de trigo no Brasil cresceu 96%, enquanto o consumo cresceu 14%. “Num cenário de autossuficiência, a produção de etanol com trigo pode ser uma importante alternativa de mercado com impactos na economia em diferentes setores”, explica Allan.

Joseani Antunes

BRASÍLIA

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