Geração Z: jovens consomem com propósito e moldam o futuro

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Sonhos, energia e vitalidade são características atemporais da fase da juventude. Porém, com o passar das décadas, atitudes, ambições e comportamentos mudam conforme a realidade da época. Os mais novos consumidores são a geração Z, ou seja, nascidos entre 1995 e 2010. Suas atitudes refletem diretamente na forma de consumo e na exigência de diferencial e originalidade por parte das marcas.
No passado, por exemplo, a fidelidade às empresas era evidente. Os produtos em si ganhavam o nome da marca, como era o caso da esponja de aço ser chamada de Bombril e a lâmina de barbear ser chamada de Gilette. Porém, a busca por autoestima, autorrealização e autenticidade derrubaram o então consumo fiel e exigiram empresas humanizadas e com responsabilidade social e ambiental, capazes de proporcionar verdadeiras experiências.
Camila Agner Corazza, jornalista especialista em pesquisa de tendências e consumer insights, pontua que “se uma marca faz algo que gera impacto socioambiental negativo, tem alguma associação política polêmica ou se posiciona de maneira contrária aos valores da geração Z, interfere diretamente na fidelidade. E aí, rapidamente, parte-se para outra opção, outra alternativa”.
Thauana Marin, acadêmica de jornalismo de 21 anos, compartilha que “levo em consideração no que a marca acredita, o que ela preza e que tipo de ações realiza, além da venda”. Acrescenta também que “quando a gente consome a marca ‘x’ e deixa de consumir outra, também estamos dizendo um pouco sobre os grupos nos quais pertencemos e nas coisas em que acreditamos”.
COMPRAS ONLINE – Nativos digitais, a geração Z aponta maior consumo online. “Embora a compra possa acontecer de forma rápida, ela geralmente vem depois de uma espécie de triagem: passa por uma pesquisa nas redes sociais para entender como a marca se posiciona, quais os impactos ambientais e sociais que ela gera. E, só depois disso, decide comprar”, aponta Camila.
O exemplo de Thauana ilustra o comportamento dos jovens. Ao se tratar de ir até uma loja física, relata que não há pesquisa. “Já quando a compra é online, aí sim pesquiso bastante. Gosto de ver vídeos de outras pessoas que compraram o produto, especialmente quando é algo mais ‘modinha’ e fico em dúvida se vale a pena ou não. Procuro vídeos de pessoas diferentes, com rotinas e estilos diversos, e também reparo se é publicidade ou não. Prefiro quando não é”, explicou.
ALIMENTAÇÃO E SAÚDE– Na visão da especialista, temas como veganismo, alimentação saudável e sua influência na saúde mental têm ganhado destaque entre os jovens. Segundo ela, a alimentação, ou ‘sobrevivência’, está cada vez mais conectada à saúde e à sustentabilidade, refletindo uma preocupação crescente com os impactos ambientais das escolhas alimentares.
Mesmo quem consome carne tem adotado uma postura mais seletiva. “As pessoas querem saber qual fornecedor gera menos impacto, qual é a origem do alimento”, exemplificou. O aumento no consumo de ovos, por exemplo, estaria ligado à busca por uma vida mais saudável e ao crescimento de hábitos como a prática de atividades físicas. “O ovo é visto como uma boa fonte de proteína nesse contexto”, completou.
Ela também chamou atenção para a diversidade de opções nas prateleiras dos supermercados, desde diferentes tipos de cartela até ovos de galinhas livres ou criadas em cativeiro, o que, segundo ela, revela o grau de consciência da geração Z na hora de decidir o que vai para o prato.
LAZER – Camila também evidencia o hábito da geração Z de ter uma compreensão clara sobre a importância do lazer e das pausas, ao valorizar momentos de autocuidado, pequenos prazeres e até o tempo dedicado a ‘não fazer nada’. Essa mentalidade, conforme apontou, se reflete no crescimento das plataformas de streaming, com uma ampla oferta de filmes e séries, e também no uso das redes sociais.
TECNOLOGIA – O interesse dessa geração não se volta para qualquer tipo de tecnologia. “São tecnologias que se conectam a outros comportamentos e valores. Um exemplo são os smartwatches e dispositivos que monitoram pressão arterial, nível de oxigênio no sangue, entre outros dados. Às vezes, nem são recursos realmente essenciais, mas a geração se sente mais segura usando esses aparelhos, porque eles estão ligados à saúde e ao bem-estar”, analisou Camila.
NOVAS GERAÇÕES – Corazza acredita que, ao se tratar de revoluções tecnológicas, dificilmente haverá outras grandes rupturas — mas sim aprimoramentos, como os que envolvem Inteligência Artificial e soluções de software. Desta forma, ela aponta que esta acaba sendo uma espécie de ‘geração laboratório’.
Nascidos a partir de 2010, a geração Alpha também crescerá neste ambiente. “A geração Z traz um tipo de vanguarda de comportamento. E a gente precisa olhar muito para o comportamento da geração Z e como ela responde aos estímulos que estão sendo oferecidos, porque isso vai nos dar uma previsão de como as próximas gerações vão se comportar”, conclui.
E é justamente nesse papel de influenciadores do presente e arquitetos do futuro que os jovens ‘Gen Z’ se tornam tão essenciais: são eles que colocam em prática o consumo com consciência, o lazer com equilíbrio, a tecnologia com sentido e a saúde como prioridade. O que eles constroem hoje, a geração Alpha herdará amanhã.
Estilo com propósito: jovens ressignificam a moda
A especialista em tendência, Camila Agner Corazza, destacou que a chave da mudança está na forma como a nova geração enxerga a autoestima, demonstrando uma consciência maior sobre o próprio valor, para além dos padrões tradicionais. Ela explicou que há uma valorização crescente de tudo o que remete à naturalidade e favorece a autoexpressão e a liberdade de se manifestar por meio da beleza e da moda.
Quando se trata de moda, a autoexpressão é evidente para Thauana Marin. “Amo este potencial de expressar um pouco do que somos e de onde queremos chegar, por meio de roupas e acessórios, de forma consciente ou não. Acho que isso é uma das coisas que mais me fascina na moda. Mesmo que a gente não se importe, ainda assim expressamos algo com o que vestimos”, pontua a jovem.
A ousadia nas combinações de roupas, combinada a estéticas diversas, até mesmo resgatando peças de brechó e unindo, por exemplo, crochê com alfaiataria, está sempre em busca de originalidade. Para Camila, essa liberdade na forma de se vestir reflete uma vontade de experimentar e se expressar por meio da moda. No entanto, ela destaca que essa autenticidade vem acompanhada de uma necessidade de pertencimento, o que revela uma dualidade típica dessa geração, que deseja ser única, mas não estar sozinha.
Antes de sair com os looks inusitados, a busca por referências ocorre em redes sociais com criadores de conteúdo de confiança se fazem presentes. “A ousadia precisa, de certa forma, dialogar com o grupo, com a bolha, com o entorno. Isso não é fraqueza. É só uma forma de equilibrar o desejo de autoexpressão com o desejo de se sentir incluído”, conclui Corazza.
Uma das tendências mais marcantes nesse universo é o caráter cíclico da moda. Aquilo que um dia foi o auge, depois virou ‘cafona’ e, de repente, voltou a ser cool. Esse fenômeno está diretamente relacionado ao olhar mais atento da geração Z para a sustentabilidade, o consumo circular e o reaproveitamento de peças, como brechós e customizações, o que sinaliza um novo jeito de consumir com mais consciência.
Da Redação
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