Grandes nomes da literatura brasileira vieram a Toledo prestigiar a Flit
Criado em 1959, o Jabuti é o mais tradicional prêmio literário do Brasil, almejado por autores de todos os estilos e expressões. Desde o último sábado (13), detentores de nada mais nada menos que oito destes troféus passaram pela Capital Paranaense do Agronegócio e da Cultura do Oeste do Paraná para participar das atividades da 1ª Festa Literária de Toledo (Flit), evento que integra as festividades alusivas ao aniversário de 70 anos de emancipação político-administrativa do município.
A festa literária foi encerrada na noite desta sexta-feira (19) com a mesa-redonda “A conexão transformadora autor e leitor”, que se iniciou às 19h30 no Auditório da FAG/Toledo, com o escritor e redator publicitário João Anzanello Carrascoza, vencedor do Jabuti em 2007 (categoria Contos e Crônicas, com “O volume do silêncio”), 2013 (Contos e Crônicas, “Aquela água toda”) e 2015 (Romance, “Caderno de um ausente”). Mais cedo, ele ministrou, no Auditório Acary Oliveira, a oficina “Minicontos: uma grandeza de literatura” para alunos do Colégio Estadual Dario Vellozo.
Convidado frequente de outros eventos semelhantes, o autor destaca a importância da iniciativa de Toledo em promover sua festa literária. “A literatura é uma arte que se faz no silêncio, mas eventos como este propiciam leituras novas, oportunidade para autores de diversos estilos apresentarem o seu trabalho e formação de uma futura geração de escritores. Toledo, por meio da Flit, mostra que busca este caminho, colocando-se ao lado de outras cidades com festas literárias relevantes. Temos aqui uma população que se interessa pelo assunto e pela qualidade da programação apresentada nesta edição de estreia vejo que Toledo abriu um caminho que fica praticamente impossível deixar de promover uma segunda”, comenta.
Outra “tricampeã” do Jabuti presente à Flit foi a escritora Maria Valéria Rezende, vencedora em 2009 (categoria infantil, com “No risco do caracol”), 2013 (juvenil/”Outro dentro da cabeça”) e 2015 (romance e livro do ano de ficção, “Quarenta dias”), que participou de duas atividades no primeiro dia do evento: da mesa-redonda “Outros cantos, outras vozes na literatura brasileira” e da roda de conversa “ELAS – Encontros Literários de Autoras”, da qual também participaram Aline Bei, Karen Debértolis e Marilia Kubota.
Recém-chegado ao rol de premiados pelo Jabuti, Jeferson Tenório foi o vencedor da edição de 2021 com a obra “No avesso da pele” (categoria romance). Ele esteve em Toledo no começo da semana participando da mesa-redonda “Afetos e Ancestralidade na literatura brasileira” na noite de segunda (15) no Teatro Municipal e ministrando o curso “Literatura negro-brasileira: a busca por outras narrativas sobre o Brasil” no auditório da Unioeste/Toledo na manhã seguinte.
Ainda na terça (16), a designer gráfico, ilustradora e escritora Raquel Matsushita, ganhadora do Jabuti em 2014 (categoria “Didático e Paradidático”, com “Alfabeto escalafobético”), participou – ao lado de Cléo Busatto (2ª colocada do prêmio em 2015, na categoria juvenil, com “A fofa do terceiro andar”) – da mesa-redonda “Diálogos entre palavra e imagem na literatura infanto-juvenil” ocorrida no Teatro Municipal e, na manhã seguinte, liderou o bate-papo “Diálogos entre palavra e imagem”, com alunos do Colégio Estadual Borges de Medeiros.
Renomados
Além de vencedores do Jabuti, a Flit contou com a presença de vencedores em outras premiações de alcance nacional e internacional. É o caso da escritora Aline Bei cujo romance de estreia (“O peso do Pássaro Morto”) rendeu-lhe os troféus do Prêmio São Paulo de Literatura 2018, na categoria Melhor Romance de Autor com Menos de 40 anos, e do Prêmio Toca. Ela ministrou, na Biblioteca Pública Municipal, na manhã de sábado (13), a oficina “Clube de Escrita: do Corpo ao Texto”. Levada a vários pontos do Brasil, esta iniciativa foi o tema central da entrevista concedida ao programa “Provoca”, apresentado por Marcelo Tas, exibido pela TV Cultura nesta semana.
Outro multipremiado da Flit foi o narrador, poeta e dramaturgo português José Luiz Peixoto. Vencedor da edição 2001 do Prêmio José Saramago, pela obra “Nenhum Olhar”, ele protagonizou, de forma online, a mesa-redonda “100 Saramago” exibida na noite de domingo (14) no Teatro Municipal. Reconhecimento em nível internacional também receberam as escritoras de obras infanto-juventis Cassiana Pizaia, Rima Awada Zahra e Rosi Vilas Boas, autoras das obras “Layla, a menina síria” e “O Haiti de Jean” que, entre outras honrarias, foram incluídas, em 2021, no Clube da Leitura dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU), e de terem sido apresentadas na Feira do Livro Infantil de Bolonha, uma das maiores do mundo. O trio apresentou, na noite de quinta-feira (18), a mesa-redonda “Literatura e direitos humanos”.
A titular da Secretaria da Cultura, pasta responsável pela organização da Flit, Rosselane Giordani, destaca a importância de ter referências da literatura brasileira e portuguesa participando do evento. “Tínhamos o sonho de realizar uma ação na área literária que fosse múltipla, diversa, que atingisse os mais diversos públicos da nossa cidade: estudantes, professores, pesquisadores e amantes da leitura. Esse esforço foi coroado pela vinda de tantas estrelas da literatura nacional, ainda mais neste ano que celebramos o 70º aniversário do nosso município, que é referência em políticas públicas na cultura. Estamos realizados com a repercussão da Flit e já nos sentimos na responsabilidade de organizarmos algo igual ou até mais grandioso que neste ano”, avalia.
É gente nossa!
Com a curadoria de Tatjane Garcia, a Flit também colocou em evidência os talentos regionais da literatura e de outras expressões artísticas. Na dança, a Companhia Ballare fez belas apresentações antes da maioria das principais atrações; nas artes plásticas, a exposição de telas “Traças com palavras e tintas”, de Edy Braun, no hall de entrada do Teatro Municipal; na música, o instrumental de Marcos Pires e o Sarau Literário promovido pela Academia de Letras de Toledo (ALT) e Clube da Poesia de Toledo e o recital dos professores da Casa da Cultura realizado na Estação da Leitura (Terminal Rodoviário Luiz Grando); na contação de histórias, a atriz Maia Piva, que ministrou a oficina “Todo mundo conta histórias”.
Durante a semana de Flit, vários escritores toledanos percorrem os colégios da cidade para um bate-papo. É o caso dos autores Sadi Nunes da Rosa, Albano Bracht, Maria Eunice Silva de Lacerda, Malgarete Justina Frasson, Lucrécia Welter Ribeiro, Ana Welter, Marlene Marques, Helga Ivoní Viezzer, Antonio Ruiz Marques, Juraide de Fátima Alves Rodrigues, Maria Dilonê Ficagna Pizzato e Davi Pereira.
Conhecimento compartilhado
Instalada no estacionamento do Teatro Municipal, a Tenda Flit está aberta desde o primeiro minuto do evento e oferece, por meio de estandes de livrarias e sebos, milhares de títulos com preços acessíveis. O compartilhamento do conhecimento proporcionado pela literatura também se deu de outras maneiras, seja na forma de oficinas ou de apresentações artísticas.
Após a premiação dos concursos literários Edy Braun e Paulo Leminski, a noite de domingo (14) foi encerrada com o show “Leminskanções”, de Estrela Leminski e Téo Ruiz. No teatro, destaque para os espetáculos infantis “Sonhos de Uma noite de Verão” e “Clarice matou os peixes” (ambas da Cia.do Abração, de Curitiba) na terça e quarta-feira (16 e 17), respectivamente; nas duas noites seguintes, os holofotes do Teatro Municipal se voltaram para as peças “Amores de Machado de Assis” (Cia. Letras Cênicas, de Ponta Grossa – Texto de Paulo Alexandre) e “Provavelmente Saramago”, com Vinícius Piedade.
Representantes das três companhias participaram, na noite de quarta-feira (17), de uma mesa-redonda sobre “Literatura e dramaturgia: adaptação de obras e releituras”. Momentos antes, Piedade fez o lançamento do livro “Cinco Peças”.
A Flit também foi rica e diversa na oferta de oficinas e minicursos. Além dos já mencionados anteriormente, estão nesta lista: “Poesia em pé: laboratório de spoken word”, com a escritora Luiza Romão; “Versos, sons, ritmos e musicalização”, com o professor da Unioeste, Wagner de Souza; “Sonetos”, com Edy Braun e Albano Bracht; “Leitura literária e formação do mediador”, com Cléo Busatto; “Definindo o cânone da literatura brasileira: Antonio Cândido e Haroldo de Campos”, com o professor da Unioeste, Antonio Marcio Ataíde; “Literatura na universidade”, por alunos e professores dos cursos de Letras e Pedagogia da FAG/Toledo; “Haicai”, com Lucrécia Welter Ribeiro; e “Costura e livretos artesanais”, com a artesã Eloísa Kolln.
Da Prefeitura de Toledo