Janeiro Roxo: uma luta contra a hanseníase e o preconceito

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Uma doença milenar, com registros até nos textos bíblicos. Silenciosa, cercada de preconceitos e mitos, a hanseníase atravessou séculos e ainda está presente nos dias atuais. Neste mês, uma campanha nacional busca conscientizar sobre os cuidados, prevenção e diagnóstico da hanseníase. Uma forma de sensibilizar profissionais e pacientes para também combater os estigmas que giram em torno da doença. Ela tem tratamento, tem cura e o quanto antes for percebida, menos sequelas serão observadas.

No Brasil, a Lei nº 12.135/2009 instituiu o último domingo do mês de janeiro como Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase e, desde 2016, por iniciativa do Ministério da Saúde, o mês de janeiro ganha a cor roxa para organizar ações nacionais de enfrentamento à doença.

A doença pode ter um curso lento e silencioso. A médica dermatologista e hansenologista Fabíola Welter Ribeiro cita que a doença é prevalente na nossa sociedade. Ela cita ainda que o Brasil é o segundo país no mundo em número de casos de hanseníase. “Só perdemos para a Índia. São cerca de 30 mil casos novos dessa doença todos os anos aqui em nosso país”.

No ano passado, 380 novos casos de hanseníase foram diagnosticados no Paraná, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Quase metade deles, ou seja 48%, já apresentavam incapacidade física. Em Toledo, no ano passado não houve registro de novas confirmações, segundo dados do setor de Vigilância Epidemiológica do departamento de Vigilância em Saúde.

DOENÇA – A hanseníase é causada pela bactéria Mycobacterium leprae e atinge principalmente a pele, as mucosas e os nervos periféricos, com capacidade de ocasionar lesões neurais. Os principais sinais e sintomas da hanseníase são lesões de pele como manchas, caroços ou placas com falta de sensibilidade.

“A pessoa não sente o quente, o frio, dor e o toque nas lesões ou em áreas do corpo como mãos e pés. Deve-se suspeitar de hanseníase sempre que tiver algum desses sinais e sintomas presentes. Na suspeita, procurar um médico para diagnóstico”.

A hanseníase tem cura e o tratamento é realizado exclusivamente pelo SUS e a medicação é fornecida gratuitamente nas unidades de saúde, com duração de seis a 12 meses.

A médica Fabíola explica que o tratamento é por meio de antibióticos que se administra via oral (comprimidos) por um determinado tempo, que varia de seis a 12 meses, de acordo com a classificação da doença. Ela lembra que a hanseníase é uma doença que sofre de muitos mitos e estigmas. Um mito é de que a doença não tem cura e que não é mais um problema.

“A hanseníase tem cura. Isso já é um avanço, pois antigamente as pessoas com hanseníase eram isoladas em leprosários, não existia tratamento. O tratamento medicamentoso da hanseníase se dá por meio de antibióticos que matam o bacilo causador da doença”, pontua ao reforçar que “há novas drogas em fase de estudo clínico; há uma vacina contra hanseníase sendo desenvolvida, também em fase de ensaio clínico”.

DESAFIOS – O diagnóstico precoce é o maior desafio para erradicar a doença. Detectar a doença logo no início é essencial antes que ela provoque sequelas. “Além disso, falta de investimento em pesquisa científica, desenvolvimento de novos tratamentos e manejo das incapacidades são outros grandes desafios que enfrentamos”, pontua a hansenologista Fabíola Welter Ribeiro.

Outro desafio é o preconceito movido pela desinformação em relação a doença e o tratamento. Afastamento do trabalho e da escola, isolamento social, abandono de entes são alguns estigmas enfrentados por milhares de pessoas diagnosticadas com hanseníase todos os anos.

Preconceito injustificável porque em tratamento o paciente deixa de transmitir o bacilo de Hansen a seus contatos. “Receber o diagnóstico de hanseníase tem um peso muito grande para o paciente e seus familiares. É como uma condenação. E esse peso é enorme, especialmente pelo preconceito”.

O acolhimento aos pacientes diagnosticados e em tratamento da hanseníase é fundamental para evitar o impacto social que a doença traz.

AÇÃO – Apesar do Brasil ser um dos países que mais diagnosticam a doença, a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) alerta autoridades brasileiras e estrangeiras para os milhares de casos sem diagnóstico e tratamento, uma endemia oculta. Por isso, a médica hansenologista Fabíola Welter Ribeiro enfatiza que a campanha Janeiro Roxo tem a intenção de chamar a atenção de toda a população e de conscientizar, além de informar sobre essa doença. “O conhecimento e a informação são importantes para combater não só a doença, mas o enorme preconceito que ela traz consigo”, finaliza.

Da Redação

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